Descongelamento.
Final de tarde quente de outono.
No horizonte, ainda era possível notar os desenhos feitos pelo vento com as nuvens que encobriam o sol alaranjado.
No banco da praça, esquecido estava o pacote de sorvete no meio de uma poça de líquido rosado que ocupava quase metade do banco de pedra morna.
Sorvete de morango, rosado, doce, conquistou espaço, e foi além da forma convencional, espalhando-se no banco da praça.
Onde muita gente passa...
Como quem desfila numa passarela.
Passa gente feia, gente bela...
Passou por ali a mulher que colocou o sorvete no banco e, junto a ele, o bilhete:
“_Você nunca ouviu os meus gritos e por anos me manteve vivendo aquela vidinha estreita como se fosse possível manter uma mulher em prisão domiciliar!”
Que todos saibam que a essência deste sorvete espalhado pelo banco ainda é muito forte. O que evaporou foi somente parte dele.
O frio que o imobilizava foi trocado por morna temperatura.
O que está sobre o banco e gotejou pelo chão foi a essência – seu maior valor.
Ainda existe a embalagem, que é testemunha da essência que não se contentou com o espaço restrito e foi além, ao infinito – evolou!
O envelope – corpo, a essência - alma e, o espírito que, agora, evola conquista espaço, está além da forma, mais perto de Deus!