Descongelamento.

Final de tarde quente de outono.

No horizonte, ainda era possível notar os desenhos feitos pelo vento com as nuvens que encobriam o sol alaranjado.

No banco da praça, esquecido estava o pacote de sorvete no meio de uma poça de líquido rosado que ocupava quase metade do banco de pedra morna.

Sorvete de morango, rosado, doce, conquistou espaço, e foi além da forma convencional, espalhando-se no banco da praça.

Onde muita gente passa...

Como quem desfila numa passarela.

Passa gente feia, gente bela...

Passou por ali a mulher que colocou o sorvete no banco e, junto a ele, o bilhete:

“_Você nunca ouviu os meus gritos e por anos me manteve vivendo aquela vidinha estreita como se fosse possível manter uma mulher em prisão domiciliar!”

Que todos saibam que a essência deste sorvete espalhado pelo banco ainda é muito forte. O que evaporou foi somente parte dele.

O frio que o imobilizava foi trocado por morna temperatura.

O que está sobre o banco e gotejou pelo chão foi a essência – seu maior valor.

Ainda existe a embalagem, que é testemunha da essência que não se contentou com o espaço restrito e foi além, ao infinito – evolou!

O envelope – corpo, a essência - alma e, o espírito que, agora, evola conquista espaço, está além da forma, mais perto de Deus!

Anita D Cambuim
Enviado por Anita D Cambuim em 06/08/2018
Código do texto: T6411432
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