FÁBULA RECONTADA: "A PARÁBOLA DO HOMEM BOM"

Naqueles tempos, num futuro distante,

havia um homem muito rico,

que através de notícias, sabedor ficou

que havia muito sofrimento no mundo.

Havia intolerância, vaidade, ódio, cobiça, e outros males;

que produziam fome, miséria e pobreza.

Este homem rico, também era muito bom,

tinha completa empatia pelo seu semelhante,

sentia em si o sofrimento do outro.

Concebeu que para aplacar a fome do próximo,

venderia tudo o que possuía de valor monetário;

e com o dinheiro compraria comida a todos.

E assim fez, vendendo tudo o que tinha;

e aplacou a fome de todos a que conhecia

e também dos que desconhecia.

Como conseqüência ficou na miséria,

não teve mais onde morar;

alojou-se na rua, sob uma tenda de papelão;

e para se alimentar,

dependia agora da bondade alheia.

Mesmo assim,

considerou que muito possuía.

Que ainda era um homem rico.

Afortunado perante muitos.

E muito lhe causou revolta

quando sabedor ficou

que muitos morriam

por falta de um rim.

Assim foi que procurou um hospital

e assinou papéis para doação de um rim.

Logo chamado para o transplante,

o seu rim, salvou uma vida,

abrandou o sofrimento de uma pessoa.

Ah ! - imaginou:

"como seria bom se cada um de nós

doasse um dos rins àquele que precisasse..."

Quando se recuperou ficou sabendo que o seu gesto,

fora uma gota no oceano de sofrimento.

Milhares de seres humanos não tinham futuro

e estavam condenados à morte por falta de outros órgãos.

Caminhou do seu leito para a sala da diretoria do hospital;

interrompeu uma reunião de sábios da saúde e ofertou:

"Quero doar todos os meus órgãos".

Os médicos reunidos naquele sacro ambiente

espantaram-se e retrucaram:

"por quem você tem a ousadia de nos tomar ?

Por ventura imagina que somos assassinos ?".

Explicaram ao homem que sua oferta era impossível;

para que pudesse doar todos os seus órgãos,

era necessário que ele estivesse morto.

"Pois só um morto pode doar todos os órgãos à vida".

O homem bom voltou à tosca morada na rua.

Ficou a matutar como doaria a própria vida.

Arquitetou então cortar os pulsos e ligar para o hospital,

que buscassem seu corpo imediatamente,

pois estava doando tudo.

Córneas para os cegos,

figado para os hepáticos,

pulmões, coração, tripas e

tudo o mais que pudesse ser utilizado.

Imaginou, em deleite febril,

e que talvez alguém agradecido

colocaria na lápide de seu túmulo:

"Aqui jaz um homem bom; que doou tudo !"

Deitou-se, pois, no chão

e com golpes firmes cortou os pulsos

com lâmina afiada e imediatamente,

com o celular,

ligou para a emergência do hospital.

Contou o que havia feito e o que desejava doar;

pediram-lhe que ligasse para emergência dos bombeiros,

pois somente eles poderiam fazer resgate na rua;

Os bombeiros orientaram-no comunicar a polícia,

pois só ela poderia autorizar o resgate;

a polícia, por sua vez, pediu para ligar para a prefeitura, visto que o caso era de doação.

Muitas horas depois encontraram seu corpo,

rígido e a começar a feder,

do qual nem o cabelo servia mais para um careca.

Foi enterrado como indigente, em vala comum,

onde volta e meia alguém acende uma vela,

a dizer:

"De boas intenções este cemitério está cheio !".

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Baguaçu, junho 2015 + 3

Obrigado pela leitura

Sajob