Os contos de Gahagam - O cajado de Thir. (Segunda parte)
Urick sai da taberna expressando uma fúria única no seu andar, atrás do guerreiro vêm Judiah segurando um escudo, e diz.
Judiah: Eu não vou permitir que dois guerreiros meus se enfrentem! Vamos poupar forças para a viagem até os mares gelados!
Urick: Esse nosso enfrentamento está acima da batalha em Glacian! O que está valendo aqui é a honra!
Está mesmo na hora de provar qual é o melhor guerreiro de Gahagan.
Sulivan: Eu concordo com o meu adversário, está mesmo na hora de provar que eu sou o melhor guerreiro que essa terra maldita já viu.
Segurando o escudo, Judiah se coloca entre os dois oponentes. As pessoas que passam em frente à taberna, param para assistir o enfrentamento.
Judiah: Se vossas senhorias não pararem com essa peleia, eu vou ser obrigado a dar vós de prisão! Vão curar as suas iras, nas masmorras!
E quem apoiar tal enfrentamento correrá o risco de fazer companhia a esses dois cabeças de vento.
O oficial e chefe da escuderia falou em tom de voz alto, e as pessoas que antes estavam apoiando o embate, agora se afastam, com medo de provar o gosto de ficarem presos na masmorra.
Os guerreiros do escudo dourado entram em cena e separam os dois homens, que ainda se olham com muita raiva.
Judiah: Aqui não é um jogo de quem é o mais forte, esse torneio foi proposto pelo rei, em ato de desespero por sua própria vida. Vamos até o Reino de Glacian, pegar o cajado do feiticeiro, e mostrar a força do nosso Reino de Gahagan!
Não vou tolerar desunião durante a viagem, vocês entenderam?!
Os guerreiros abaixam as cabeças e todos confirmam a ordem do superior.
Judiah se aproxima de Sulivan e Urick, com o semblante carregado e com firmeza fala.
Judiah: Se eu imaginar que vossas senhorias se estranharam novamente, eu juro que não vão ter desejado ter nascido. Será que eu fui claro?!
Mordendo os lábios de raiva, Urick confirma com a cabeça. Sulivan também confirma, mas por trás, cruza os seus dedos.
Judiah: Agora deixem de brigas e vamos comemorar! Aqui na taberna têm muita bebida e mulher pra todos os guerreiros! Hahahaha.
Os guerreiros entram na taberna, e são recebidos pelas melhores meretrizes de Gahagam. Umas são estrangeiras, vindas de terras distantes, são na verdade servas, comprados pelo dono da taberna, Rasputin.
Às mulheres dançam músicas exóticas, e usam véus para acentuar a beleza das suas curvas. Rasputin serve cerveja para os guerreiros e conta as suas histórias do povo do Norte.
Rasputin: Eu já fui para o Norte, e lhes digo, terras mais sombrias não existem.
Judiah: Pare de mentir seu velho beberrão! Como é possível vós ter chegado a terras tão desconhecidas?!
Rasputin: Estou lhe falando a verdade meu caro! O meu barco foi jogado pelas tormentas nas pedras negras que envolvem aquelas praias! Lá o sol não reina como aqui nas areias, só brilha a luz do luar e seus mistérios.
Urick já bêbado de tanta cerveja, ri insistentemente das histórias de Rasputin.
Urick: Essas terras não existem! Pare de falar sandices Rasputin! Hahahaha!
Rasputin: Pois é isso que as velhas bruxas do Norte querem que vocês pensem. Jogaram um feitiço macabro para apagar a rota que levam até as suas terras. Elas são ardilosas e gostam de comer gente.
Judiah: Hahahaha!!! Pare velho, a minha barriga doe de tanto rir!
Enquanto Rasputin conta a história do povo do Norte na mesa da taberna, Sulivan está sentado em uma mesa separada, ainda bufando pela afronta passada, mas com a cabeça fixa na ideia de conquistar o cajado do feiticeiro Thir e provar o seu valor como guerreiro. O seu desejo é tão forte, que acaba murmurando sozinho.
Sulivan: Não vejo a hora de conquistar de uma vez por todas, esse cajado. Eu preciso provar que sou poderoso.
Nesse instante, o homem sente uma mão leve pousar em seu ombro. Um leve perfume de camomila transpassa o seu grande nariz. Sulivan então se vira, com uma expressão de agressividade no olhar.
Sulivan: O que deseja mulher? Não vê que estou pensando?!
A mulher é uma estrangeira, serva de Rasputin. Com os seus cabelos loiros, fazem brilhar os olhos de Sulivan. Então aos poucos a expressão de agressividade do guerreiro, vai sumindo, ao perceber tamanha a beleza da moça. A serva foi comercializada no deserto, veio das terras do Sul, onde a água é abundante. Seu nome é Maruska.
Maruska: Eu queria me desculpar pela minha impertinência meu Lorde, mas eu não posso deixar os copos dos clientes vazios.
Sulivan: Pois encha o meu copo com cerveja e sente-se na cadeira.
Maruska: Peço lhe novamente desculpas, mas o meu Senhor Rasputin, não iria gostar de me ver sentada. Tenho que servir os homens.
Sulivan: Faça o que estou mandando mulher, deixe-me que eu falo com o velho.
Maruska esboça em seus lábios um sorriso malicioso, e sem discutir senta à mesa com Sulivan.
Maruska: Eu não pude deixar de perceber o confronto que se instalou lá fora. O senhor realmente é um homem de valor.
Sulivan: Hahahaha! Homem de valor?!
Eu ando muito mole mesmo, era pra mim ter acabado com a raça daquele infeliz do Urick. A minha honra está no chão.
Maruska: Não tenha tanta certeza disso.
Sulivan: O que quer dizer com isso mulher? Odeio meias palavras.
Maruska: Se hoje a sua reputação se arrasta no chão, amanhã ela pode estar ao alcance das estrelas. Basta você querer.
A mulher acaricia as mãos de Sulivan, e fixa o seu olhar nos olhos do guerreiro.
Sulivan: E o que lhe fez pensar em tal coisa?
Maruska: Reconheço um grande homem quando eu vejo um. E como todos sabem, atrás de um grande homem, sempre habita uma grande mulher.
Sulivan: Estou começando a gostar dessa conversa. Qual é a vossa graça?
Maruska: Princesa Matriuska do Reino do Sul.
Sulivan: Hahahaha!!! Princesa?!
Por acaso está de chacota comigo ?
Maruska: Se fosse você, levaria muito a sério essa nossa conversa.
Fui princesa sim, mas fui destronada por aquele feiticeiro do inferno.
E quero mais que tudo, a minha vingança contra Thir!
Sulivan pega as mãos de Maruska e começa a apertar, até deixar o seu rosto vermelho.
Sulivan: É algum tipo de brincadeira mulher?! Eu chamo Rasputin agora para lhe aplicar um castigo.
Maruska: Faça isso grande guerreiro, se ainda quiser que Urick continue rindo de vós!
Tenho segredos que podem te levar a vitória sobre Thir.
Sulivan larga as mãos de Maruska, mas os seus olhos ainda estão grudados na mulher misteriosa. Nesse momento surge Rasputin, que observa a cena.
Rasputin: Sulivan, a minha serva por acaso está lhe importunando?
Sulivan: Não está Rasputin. Ela só me veio fazer companhia, eu estava desabafando com ela.
Rasputin: Que maravilha! Sinal que aprovou os serviços da minha taberna. Mas infelizmente Maruska têm que atender as outras mesas.
Rasputin pega o braço de Maruska e a puxa para fora da mesa. A moça pisca com os seus olhos de gata e é arrastada por Rasputin até o balcão da taberna. Sulivan observa a cena com uma expressão de espanto, e pensa.
Sulivan: Será que posso apostar nessa história da serva, para conquistar o cajado do feiticeiro?
A noite na taberna é animada, muita música e dança, os homens bebem e se divertem. Mas a cabeça de Sulivan dá voltas e voltas, pensando no que havia escutado da mulher.
Maruska passa por ele e faz um sinal apontando para a porta, em seguida ela sai sorrateiramente. Sulivan sai atrás da mulher. A rua está escura, nem a lua foi capaz de sair nessa noite repleta de dúvidas.
O guerreiro procura a serva com os olhos, mas a escuridão o impede. Uma mão o puxa para um canto da rua, é Maruska que não perde tempo e aplica um beijo molhado em Sulivan, que perde o fôlego.
Os dois ficam grudados e os cheiros do prazer se misturam com os aromas da rua silenciosa. Depois de um bom tempo fazendo o mais puro sexo. Maruska interrompe.
Maruska: Preciso voltar pra taberna.
Sulivan: Como assim? Deixa aquele velho pra lá! Eu te compro dele.
Maruska: Não. O seu foco é conseguir o cajado do bruxo e acabar de uma vez por todas com a raça dele!
Trás esse cajado pra mim e me faz rainha novamente.
Sulivan: Rainha?
Maruska: Sim Rainha. Quero subir ao trono de Gahagam contigo. Você não será só um guerreiro de valor, mas o rei de Gahagam, de Glacian e também das terras do Sul!
Você merece todo o poder do mundo Sulivan, eu vejo potencial em seus olhos.
Sulivan: Claro que eu tenho potencial, fui abençoado por Nún, deus da chuva e das tempestades.
Maruska: Pois é isso que vós vai fazer. Faça uma tempestade na vida de Thir e destrua o seu poder. Que está concentrado em seus longos cabelos brancos.
Sulivan: Como o poder de um feiticeiro pode estar todo no cabelo? E o cajado?!
Maruska: O cajado só possui o poder da cura, agora se você cortar os cabelos de Thir, todo o seu grande poder vêm parar em suas mãos.
Mas os cabelos não podem ser cortados com uma tesoura comum.
Sulivan: Não?! Pelos deuses. Aí fica difícil ser rei.
Maruska: Só a tesoura de vidro é capaz de cortar os fios de cabelos do feiticeiro. É essa tesoura está guardada por Khór, o dragão branco que mora na grande torre.
Sulivan: Eu vou fazer picadinho desse dragão! Trago lhe até a cabeça!
Maruska: Pare de ser tão intempestivo Sulivan, você não pode acordar o dragão branco. Se ele acordar, vai soltar o seu grito e Thir vai saber que alguém está na torre.
Por isso eu quero que preste atenção.
Maruska pega a sua bolsa de couro e de dentro tira uma pequena harpa dourada.
Maruska: Enquanto você estiver com o dragão Khór, toque essa harpa. Só ela é capaz de provocar sono profundo no dragão. Pegue a tesoura de vidro e desça imediatamente da torre.