O LIVRO DE LIZ
Havia numa grande biblioteca um livro muito peculiar. Capa luxuosa, título dourado assim como também a parte exterior das suas páginas. Belas ilustrações e texto num idioma totalmente estranho. Impedindo o acesso dos curiosos, um segredo fechava-o. Era a obra original e não existiam cópias.
Poucos conseguiram abrir e folhear tal precioso livro, o que fazia deles privilegiados em relação aos demais. Estes viram suas ilustrações e seus caracteres, no entanto, apenas um zeloso funcionário dominava seu raro idioma e entendia seu conteúdo. Apenas ele reconhecia seu valor e sempre que podia abria-o, lia com atenção uma página por vez, fechava-o, passava uma flanela e colocava-o com cuidado no seu lugar.
Houve um certo homem que até tomou algumas vezes emprestado o livro que achava tão bonito, e, por um tempo, exibiu-se por desfilar com ele aparentando bem saber o que tinha em mãos. Logo esgotavam-se seus dias com o livro, ele o devolvia ao seu lugar e voltava para casa na mesma ignorância de sempre. De início parecia divertido passear com aquela jóia impressa, mas as pessoas queriam saber do que se tratava, e de tanto inventar estórias o rapaz logo entrou em contradição deixando evidente de que sequer conseguia ler o livro. Envergonhado, com o passar dos dias, nunca mais voltou à biblioteca.
O dono da biblioteca via tudo e percebia o contraste entre os curiosos que tentavam aparecer com o livro e o seu funcionário, que claramente era o único a tirar real proveito dele.
Num certo dia, ele chamou seu funcionário à sua sala. Chegando lá este logo percebeu o livro sobre a mesa.
- "Esse livro não fará mais parte da biblioteca!", afirmou o patrão de modo resoluto.
- "Posso saber o motivo?", perguntou o funcionário.
- "Um livro só tem razão de existir se puder ser entendido, beneficiar quem lê, e nenhum visitante até hoje conseguiu isso. Por certo esse livro nada mais é que a obra de um artista que quis brincar com as pessoas."
O empregado tirou do bolso seu diário no qual anotou dia a dia a tradução de cada página que leu, e pediu que o patrão lesse as primeiras palavras do livro anotadas um ano antes no diário. Diziam:
"Olá. Esse livro é seu. Nas páginas que se seguem você conhecerá a verdadeira essência do amor, amor mais valioso do que qualquer tesouro que jamais existiu. Para possuí-lo definitivamente você terá de:
1. Cuidar zelosamente dele;
2. Permitir que outros tentem lê-lo;
3. Lê-lo página por página com máxima atenção
4. Nunca levá-lo sem a permissão do autor e
5. Conseguir provar que é o único digno dele."
O patrão sorriu e, tirando da gaveta uma belíssima caixa de ouro, colocou o livro dentro, entregou-a ao funcionário junto com um bilhete que acabara de escrever no idioma estranho do livro que dizia:
"Parabéns! Eu sou o autor do livro, és realmente digno de possuí-lo e de saber que o amor verdadeiro é para poucos, você é um deles e será muito feliz com isso."