antonio de Albuquerque


Na nascente do rio Solimões, o grande rio com o qual os nativos homenagearam Salomão, existiu uma nação indígena que, como todos que moram às margens dos grandes rios, têm a pesca como meio de sobrevivência. Ali eles mantêm tradições lembradas e, entre tantas, uma se destaca e, que é rememorada. Aqueles índios acreditavam que fazendo oferendas à rainha das águas, obteriam em troca fartura e progresso para a tribo. Na importante época da piracema, quando os peixes se reproduzem, e em noite de lua cheia, a nação indígena promovia uma festa com danças cânticos e farta alimentação, especialmente de peixes.

Como tradição, existia uma oferenda a rainha das águas que consistia em entregar uma moça índia para os encantos das águas, a qual se tornaria sereia e juntar-se-ia a tantas outras nas profundezas das águas, ato, esse, que era aceito com muita honra por aquela privilegiada entre as moças mais belas da aldeia.

O critério para a escolha constituía-se em; aceitar o sacrifício, ser virgem, e a mais formosa entre todas. Na época do festejo a moça vestia-se com as melhores roupas, enfeitando-se com penachos dos pássaros mais belos que existiam na floresta. Entre danças e cânticos ela adentrava o rio ou lago bem profundo, que segundo a crença, seria recebida por sereias que a conduziriam a presença da sereia mãe, a rainha das águas, nas profundezas onde vivia em seu grande castelo. Assim eles acreditavam que com essa oferenda, as sereias dos rios e lagos mandariam para a tribo grande fartura de peixes. Para alegria da tribo a moça que se tornara sereia no próximo festejo viria receber outra moça que seria mais uma sereia a mandar mais peixes para as zagaias dos índios pescadores. Então, as sereias existem nas florestas de todo o planeta. mas como é possível, e aceito por muitos, uma tradição dessa natureza; colocar uma mulher em plena flor da idade no fundo de um lago para satisfazer a compreensão de um povo que acredita numa crueldade dessas? Contestou Laura. Porque a natureza é assim. Nessa pequena história, a moça foi tragada pela água e, nela naturalmente sucumbiu. Não é a água que mata a moça, mas a crença do povo, pois sabemos que a água é a própria vida. Em alguns momentos a natureza é generosa, constrói, dá a vida, noutro momento ela é mãe voraz, destruidora com cataclismos, extinção em massa; nela há vida e morte em profusão.

A natureza produz tudo e a tudo devora, milhões de espermas e óvulos são produzidos e destruídos, flores e sementes são produzidas e dizimadas. É a dinâmica da vida comandada pela natureza. Terrível luta também se dá no reino vegetal; as plantas lutam para garantir um lugar ao sol, para ganhar espaço, fazem guerras químicas entre elas produzindo venenos e bactérias se opondo a outras plantas e raízes, num ciclo constante. Isso é uma reação à agressão do homem a própria natureza. Essa polarização encontra-se no próprio homem, que tem inteligência, racionalidade, amor, mas ao mesmo tempo mostra demência.
E, por falar em crenças, conheci os remanescentes de uma nação indígena que vivem na nascente do Rio Negro no Amazonas. Eles acreditam que antigamente somente existia o dia, a noite existia, porém, presa num caroço de tucumã. Coube a uma índia dotada de grande poder de investigação quebrar o caroço libertando á noite, mostrando a grande capacidade de investigação e criação que possui a mulher.



 
Antonio de Albuquerque
Enviado por Antonio de Albuquerque em 21/11/2017
Reeditado em 04/09/2018
Código do texto: T6178523
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