Pássaro molhado
Tarde de inverno, voava baixo em uma estreita viela de Moscou, me dirigia ao pomar, queria me aquecer um pouco do frio. Das janelas pendiam grandes ramos de flores coloridas, as jardineiras davam um tom descontraído, aos seus maravilhosos chalés de madeira. Seus telhados altos formavam ângulos agudos que me chamavam atenção. Suas chaminés exalavam uma fumaça que se confundiam com as nuvens.
De repente vejo uma aglomeração em torno de uma grande gaiola.
Aproximei-me curioso, pousei em um galho da macieira quase seca pelo frio, queria saber o que ocorrera. Um rapaz havia quebrado o lacre da porta de entrada da gaiola. Enquanto observava o chefe deles, notei que falava coisas que eu não conseguia entender, apenas compreendia que aquilo fora um grave erro. Foi então quando percebi que dali fugira algo aterrorizante.
Olhei em volta e sai dali o mais rápido que pude. Voei em direção a uma escadaria que dá acesso a uma viela, e logo percebi que uma grande ave rapineira, quase me alcançava. Agitei minhas asas com firmeza e rapidez. Alcancei um campo aberto, seu chão era completamente forrado de flores azuis e brancas, o cheiro que exalava era suave e agradável.
Eu era muito veloz, já estava quase no final desse grande campo, então comecei a subir, uma subida muito íngreme, mas, já sentia sinais de cansaço, minhas asas já não eram tão rápidas, também não era mais tão jovem. Antes de alcançar o dossel das frondosas arvores do pomar, olhei para trás e que vi algo que me arrepiou. A grande ave que me perseguia, se transformara em uma grande sombra negra. O meu perseguidor naquela forma mais tenebrosa, e mais determinada quase tocava meu emplumado e minúsculo corpo, com suas garras encurvadas.
Desistir! Não, não era uma opção. Olhei em direção a floresta e vi uma pequenina casinha de madeira, entre a exuberante folhagem verde daquela imensa árvore. Determinado a escapar, voei, voei como um mestre, me sentia senhor do ar, porém, tinha certeza que meu perseguidor não desistiria da sua macabra missão, o meu algoz, queria seu troféu.
Sabia que não era páreo pra ele, além de forte, era um dos mais velozes. Seu olhar era frio como o mármore, suas garras eram como lâminas de aço mortais. Mas, eu ainda tinha uma carta na manga, sendo um exímio acrobata, no último momento da sua feroz perseguição... fiz uma perfeita manobra, eu o enganei, entrei pela única e minúscula porta daquela casinha, puf...puf, estava seguro, minha fortaleza era impenetrável.
Respirava com dificuldade, o esforço foi tremendo, mas estava vivo e voltaria outro dia para tomar aquele café e me aquecer.