A Pulguinha
Alaide era uma pulguinha fêmea albina, a única diferente naquela família.
Desde filhotinha, Alaide era autodidata por instrumentos musicais, com apenas semanas de vida ela tocava viola e teclado como ninguém.
Seu pai, o Julião, toda manhã saia para caçar com seus filhos mais velhos, o Caio e o Allan. Eles iam sempre com sacolinhas para o canil que havia perto de sua casa. O trio era sagaz, coletava sacolinhas e mais sacolinhas de sangue.
Alaide era diferente não só em sua cor e sua esperteza, ela também não gostava de beber sangue. E isso juntava a sua bagagem de ser - esquisita.
Todos os dias ela bebia leite das amiguinhas vacas.
Foi quando o canil se mudou para outra região bem distante dali, o desespero tomou conta de cidades inteiras, houve quebra-quebra e centenas de pulgas morreram.
Alaide falou com a sua família como ela se alimentava por anos, todos ficaram enojados com o que ouviram, embora não tivessem outra alternativas.
Alaide por ser contra o fato de roubar sangue dos outros, criara uma vasta amizade com todos os mamíferos que habitavam pelas adjacências, e seu cartão de visita era os shows que faziam para eles, em cortesia ela recebia tampinhas de leite e ficava muito feliz. Pobre pulga albina, não sabia o que lhe aguardava.
Na manhã seguinte, na crise de sangue, Alaide levou seus parentes para a fazenda onde costumava fazer shows as quintas e sextas.
Chegando lá, as mimosas vaquinhas ficaram assustadas, pois estavam habituadas apenas com a talentosa instrumentista, Alaide acalmou os ânimos e depois de negociar, recolheram o leite e partiram para seu lar. Mas algumas coisa ficara no ar, algo parecia estar errado.
No dia que se sucedeu, ao acordar com um alvoroço que vinha das ruas, Alaide percebeu que dezenas de pulgas gritavam seu nome. Ela se levantou e olhou pela janela, tomando um susto, ela começou a se tremer e viu sua amiga, a vaca mimosa derribada ao chão com milhares de pulgas tomando de seu sangue, inclusive sua própria família estava ali também... Um pensamento fincou em sua cabeça, sem sombra de dúvidas a sua parentela era responsável por aquela atrocidade...
Alaide fechou a janela e dali sentada ao chão, abraçada em suas patinhas, ficou chorando, lembrando da burrice que fizera....
Conclusão:
As vezes nós abrimos nosso interior para pessoas que não são confiáveis, podendo até ser irmãos ou alguém de nossa parentada.
Não devemos expor nossas particularidades, não podemos mostrar nossos segredos para sanguessugas que só querem beber nosso sangue.
Em determinadas situações, devemos pensar primeiro na gente que abrir as fraquezas para covardes que invadirão todo nosso sofrimento.