O Oráculo
Dois jovens amigos foram juntos até o templo da cidade para buscar por orientação e ajuda para decidir que rumo tomar em suas vidas.
Lá chegando o Oráculo disse ao primeiro: “Tu serás rico; tua riqueza será tamanha que será capaz de chegar aos céus e competirá com as estrelas, será vasta como o oceano e alimentará a uma multidão de seres”.
Quanto a ti, disse categoricamente ao segundo jovem: “Por mais que te esforces serás pobre, mísero e vil, tamanha será tua miséria que os homens o abominarão. Tu te tornarás servo de teu amigo.”
Ambos saíram do templo pensativos com as palavras do Oráculo pois, segundo se contava, jamais havia errado em suas previsões.
O primeiro ficou refletindo em silêncio a respeito das palavras que ouvira. O segundo, também e em silêncio, secretamente, abrigou em seu coração inveja e revolta e jurou provar que o Oráculo estava errado e faria de tudo para acumular uma imensa riqueza custasse o que custasse.
Com o passar do tempo, os dois amigos que antes sempre eram vistos juntos, foram se vendo cada vez menos até que por fim se separaram de vez e saíram separadamente em caravanas que, periodicamente passavam pela cidade e foram viajar através do mundo.
O primeiro partiu em busca de compreender as palavras do oráculo. Já o segundo partiu em busca de riquezas sem limites.
O primeiro peregrinou por lugares tidos como de sabedoria na época, tornou-se um peregrino mendicante e errante, sobrevivendo através de esmolas que conseguia pelo caminho.
Já o segundo aportou em uma grande cidade, tida como um dos centros do mundo na época. Tornou-se mercador, adquiriu riqueza e influência.
Com o passar do tempo, passou a fazer parte da corte. Foi galgando postos de confiança dentro do reino, grande parte devido a suas riquezas. Chegou a ser conselheiro do rei. Tomado pela ganância e inveja, derrubou opositores, conspirou secretamente contra o monarca regente, até que por fim o destronou e tomou-lhe o lugar. Mas isso não bastava, a cobiça e as palavras do Oráculo o moviam.
Guerreou com os reinos vizinhos e venceu a todos, seu império tornou-se vasto, suas posses incalculáveis. Agora era temido e odiado por todos, tornara-se um verdadeiro flagelo entre os homens.
Com o passar dos anos uma grande seca, fome e peste se abateu sobre aquele império, conseguido à custa de estratagemas e sangue. O povo dizia que era castigo dos Deuses, pelos crimes do imperador.
Uma grande revolta estava para estourar. O imperador temia a tudo e a todos tinha medo que fizessem com ele o que ele mesmo havia feito com outros. Impiedosamente mandava executar homens tidos como de confiança, tornara-se paranoico, era tido como louco.
Por obra da Providência um homem considerado como possuidor de imensa sabedoria, chegou ao império, era venerado por todos como homem santo e possuidor de poderes miraculosos.
O “imperador louco”, ao saber da chegada de tal homem à cidade, mandou seus lacaios buscá-lo, pois via nele a solução dos problemas que afligiam ao império.
Quando o homem santo chegou à sua presença, o imperador esperava encontrar uma figura imponente e nobre, mas se deparou com um homem humilde em uma túnica simples apoiado em seu cajado de peregrino e com sua tigela de esmolas em uma das mãos. Aos olhos do imperador ele mais parecia um mendigo andarilho. Seu coração tornou-se abatido pela descrença.
Ao aproximar-se tal homem, o imperador e o homem santo se reconheceram, eram os dois jovens, - agora já velhos - amigos.
Os olhos do imperador se iluminaram de felicidade por poder rever o velho amigo de juventude, mas logo a ironia tomou lugar, ao lembrar-se das palavras de muitos anos atrás do Oráculo.
Em sua tamanha arrogância, o então imperador disse: “Ora, se não é o predestinado à fortuna.” E continuou com desdém: “Onde está sua infinita riqueza? Vejo apenas um velho mendicante. Já eu, por outro lado, tornei-me senhor do mundo. Pelo visto o Oráculo falhou desta vez”.
O homem santo ouvira impassível às palavras do imperador. Após um longo silêncio disse incisivamente: “Tolo!”
Os olhos do imperador faiscaram, e a ironia deu lugar à cólera. O imperador disse furiosamente, ameaçando o homem santo: “Não sabes que posso mandar executar-te por tuas palavras?”
Sem temor algum no coração, o homem santo continuou: “O Oráculo não se equivocou em nada, acertou em todas as palavras. Quando o
Oráculo disse que serias pobre não falava de riqueza material, mas de Sabedoria. Tu te tornaste pobre, mísero e vil, os homens o abominam.
Vives com medo da própria sombra. Tudo isso por causa de teus próprios atos.”
E continuou: “Ouvistes o Oráculo, entretanto não soubestes interpretá-lo.”
Então o imperador compreendeu que a riqueza a qual se referia o Oráculo era a Sabedoria.
Tomado de remorsos e angústia, o imperador perguntou de maneira humilde: “Eu ao ouvir as palavras do Oráculo sai pelo mundo em buscas de riquezas materiais. Tu saíste em busca de Sabedoria? Tu és Sábio?”
“Não sei!” Essa foi a resposta do homem santo. E continuou: “Logo após ouvir as palavras do Oráculo, comecei a pedir aos Deuses, por duas coisas somente: a primeira o necessário, a segunda o suficiente. Desde então sou acompanhado e orientado por eles e nada tem me faltado.”
Agora, compreendendo tudo, o imperador percebeu que a Sabedoria de seu antigo amigo era imensurável e perguntou humildemente qual a causa e solução das calamidades que afligiam ao império.
O homem santo disse categoricamente: “Tu és um regente em desarmonia com o Universo e com a Vontade dos Deuses. Tu bem sabes disso, e isso se reflete em ti e em teus domínios. Tu és a causa de todos os sofrimentos, porém também tu és a solução de tudo”.
“Como?” – Perguntou o imperador. O Santo e Sábio homem respondeu: “Restitua tudo o que usurpaste, a quem realmente é de direito e peregrine pelo mundo em busca de Redenção.”
E assim foi feito, o imperador devolveu tudo a todos a quem era de direito, tornou-se um peregrino mendicante, já não mais era tomado pela loucura e pelo temor, pois agora estava em harmonia consigo mesmo, com o Universo e com os Deuses. O império foi dividido novamente em reinos e seus devidos soberanos voltaram a reinar, assim como a paz, a prosperidade, a saúde do povo e a longevidade.
Então os dois velhos amigos saíram juntos em jornada pelo mundo, como Peregrinos mendicantes. O segundo tornou-se Discípulo do primeiro.
Desta forma as palavras do Oráculo foram cumpridas integralmente.