O GAVIÃO E O URUBU
Floresta negra, uma floresta onde verdejantes árvores recebem o calor do sol sem qualquer insuficiência de fotossíntese. E por cima com vasta fauna e flora, enriquecidos com o rio de límpidas águas. vindas de afluentes diversos, deixando claro que tudo era favorável a uma vida abundante.
Porém, mesmo com esse ambiente de próspera condição é possível encontrar alguém descontente, razão pela qual num toco partido por um raio, lamenta-se o urubu.
- Tá ruço; eu aqui me lascando de fome e ninguém tá querendo morrer. Aquele cágado ali mesmo adoeceu, mas isso foi há 20 anos; a preguiça ali sofreu uma queda, mas sequer se feriu, dois micos estrela brigaram e eu pensando que um dia iria dar cabo da vida do outro, e agora, olha eles lá, no último galho daquele pé de angico, numa risaiada doida como se estivessem até me gozando a cara. É eu to achando que eu vou ter que mudar de ares; dizem que em um pasto há milhas daqui os leões estão fazendo uma caçada a uma manada de búfalos, quem sabe por lá minha sorte não melhora?
Um gavião vendo o lamento do urubu de cima de uma birosca, já espreitando uma forma diferente de matar a fome, repreende-o pela forma demorada a qual ele adquiria seu alimento dizendo ao parente do abutre:
_ Ora urubu! Então você acha que terá comida em abundância com o simples fato de algum desses animais morrerem? Está aí o seu erro, você deve ir a busca da caça e transformá-la em comida, como é o meu caso que ainda ontem devorei dois tizius e deixei para mais tarde uma garrincha, ficando um João corta-pau amarrado, mas o devorei hoje cedinho.
_ Seu método é diferente e violento, assim, eu vou esperar uma chance, pois quem espera sempre alcança - fala o urubu esfregando o pé na barriga em claro sinal de que a fome havia aumentado.
_ Pois você vai morrer de esperar - fala o gavião, e numa dessas coincidências que só a natureza proporciona avista um pica-pau.
_ Olha ali urubu! Aquele pica-pau será meu almoço de hoje. E parte em rasante voo atrás do destruidor de madeira que estava com a vida perigando.
_ Ora! - pensa o pica-pau, então esse gavião gosta de uma brincadeira hein! Vamos lá.
E empreende forte voo em direção a um toco de árvore saindo fora na última hora, o que não deu tempo para o gavião que foi direto batendo o bico que ficou fincado no toco em posição, na verdade ridícula.
_ Caramba - pensou - me ferrei, preciso sair daqui e o pior é que estou a oito metros de altura e somente outra ave para me desencalacrar.
Com pouco tempo de espera ouve o gavião um bater de asas de conhecida ave, vendo logo seu velho colega, o urubu.
_ Urubu, você chegou a tempo para me tirar daqui - fala entusiasmado o gavião.
_ Nada disso gavião, você ficará aí até morrer, pois se eu te tirar daí como irei tirar a barriga da miséria?
_ Mas como! Você vai me deixar mesmo aqui?
_ Pode apostar nisso gavião. Fala o urubu, acocorando-se em um carvalho ao lado em posição paciente e preguiçosa, dando ao gavião a certeza de que seu fim era uma questão de tempo.
Moral: "cada um tem um sistema"