Esperança e sonhos

Ele morava em um sítio, onde nasceu e foi criado. Não haviam muitas crianças na vizinhança, apenas o suficiente para lhe fazer companhia e compartilhar as brincadeiras. Seus pais e os pais dos seus amigos plantavam trigo. Achava bonita a visão do campo de trigo, principalmente quando o sol refletia nas ondas dos cachos que balançavam com o vento. Mas ele não entendia porque eles deviam ser cortados quando atingiam certa estatura. Considerava injusto, acreditava que deviam crescer mais, o quanto quisessem e pudessem. Por quê cortá-los?

Um dia, um vendedor de sementes passou por lá e ofereceu “sementes de esperança”. Dizia que era necessário apenas semear e cuidar, deixando crescer. Vieram as dúvidas e perguntas.

- Em quanto tempo produz?

- É lucrativo?

- Quais os cuidados?

Quando ele disse que demoraria décadas para colher, todos disseram que não interessava porque seria muito demorado. O homem agradeceu a atenção, eles o deixaram e voltaram às suas atividades. O menino permaneceu ali, olhando aquelas sementes nas mãos daquele senhor. Então, ele lhe estendeu as mãos, entregando um punhado de sementes que brilhavam. Sim, as sementes brilhavam! Era o mesmo brilho que ele via nos campos de trigo. Quando entrou em casa, quis logo mostrar a grande novidade.

- Olhem! Aquele homem me deu um pouco daquelas sementes!

Ninguém deu muita importância, mas ele decidiu semeá-las. Foi ao fundo do quintal, delimitou sua plantação com quatro gravetos e algumas voltas de barbante e lançou as sementes na terra fofa, quente e úmida. As sementes da esperança estavam plantadas.

Todos os dias ele ia lá ver como estavam suas sementinhas da esperança. Pegava seu pequeno regador de brinquedo, enchia-o na torneira da varanda e regava sua plantação. Até que um dia, uma surpresa.

-Estão brotando! Elas estão crescendo!

Dia após dia, as tarefas de cuidar da sua plantação de esperança ficavam mais difíceis. Agora ele tinha que arrancar o mato que ameaçava o crescimento das plantinhas. Mas ele fazia tudo com muito gosto. E as plantas cresciam, as folhas começaram a aparecer e em algumas semanas, outra surpresa.

-Flores! Parecem girassóis, mas são de várias cores!

Quando percebeu, as plantas estavam maior que ele, enchendo-o de orgulho. Quando ele aparecia com sua enxada e seu regador, as flores viravam pra ele. Então ele viu que elas tinham expressão, agradeciam os seus cuidados. E assim foi, por dias, estendendo-se por semanas e meses.

Um dia, seu pai perguntou quando ele ia colher as flores, pois já estavam grandes.

-Não pai, essas flores são especiais. Elas demoram muitos anos para que possam ser colhidas. O senhor não lembra que o homem que vendia as sementes disse que poderia demorar décadas?

E então, muito anos depois, quando esse menino já era um adolescente, ele é acordado no meio da madrugada, com um luz em sua janela. Ao observar, ele vê uma máquina enorme, que parecia ser uma colheitadeira, mas que era diferente, colorida e que tinha... asas! A geringonça então começa a fazer muito barulho, toma uma boa distância da plantação e inicia uma corrida. Até que ela alça voo...

- Como assim? Um colheitadeira que voa!!

Ela começou a ganhar altitude, voando em espiral, chegando até as flores. Iniciou então a colheita, desenhando espirais e curvas no céu, deixando um rastro brilhante por onde passava. Ele ficou ali, assistindo a tudo, encantando com aquela máquina diferente e engraçada.

Ao amanhecer, na mesa do café ele contou a novidade.

- Pessoal, vocês já viram lá fora? Minha plantação de esperança foi colhida durante a noite.

Todos riram dele, achando graça.

- Hahaha! O plantador de esperança! Ora meu filho, eram apenas flores...

- Não! Vocês não entendem! Veio uma máquina enorme voando, uma colheitadeira!

Todos riram e ao perceber que não o levariam a sério, terminou de tomar seu lanche e foi passear onde era sua plantação. E ali, entendeu que a esperança deve ser plantada, cultivada e cuidada com carinho, para que então elas cresçam e cheguem aos céus. E lá, elas florescerão e se tornarão sonhos que serão colhidos pela máquina maluca da vida.

Eu acordei com o calor, fui até o quintal e então vi que começou a chover, os pássaros fazendo festa nas árvores e o gatos descansando na varanda. Tudo muito calmo, tudo muito bom. As coisas simples da vida também são sonhos que um dia foram semeados, que vão tornando-se realidade e que nos fazem acreditar que mantendo e cultivando a esperança, teremos mais sonhos, que é o que nos move adiante.