de cima pra dentro
A minhoca cavoucou, sempre por baixo. O dia em que pôde enxergar tudo do alto reconstruiu desde aí o espaço onde até então vivera e – sentindo algo perigosamente próximo da satisfação – descobriu em si capacidades para intervenções. Mas já estava presa pelo bico em direção ao ninho da ave que a levava – fora capturada quando, para conhecer, saíra à superfície. Seu espaço tornara-se totalmente outro visto de cima. “Enquanto estive lá não alterei nada, que eu saiba, nem no entorno, fazendo o que fiz todo dia. Mas agora, sem estar lá, a alteração aconteceu: em mim mesma! Bem poderia ter simulado tempos atrás essa experiência...” Perto, bem perto da goela do filhote, no escuro e estreito, ocorreu-lhe a dúvida: seria de sua natureza simular algum dia, tal como acontecera, aquele voo?