FÁBULA RECONTADA: "O PAVÃO E A URUBU"
Ontem o STF votou uma súmula vinculante de que "após a segunda condenação" o réu "pode" ser preso e nessa situação continuar até o fim do processo.
É caro leitor (e eleitor), você ficou feliz e pensa que tudo está mudando.
Lamento decepcioná-lo.
Mas é isso que dá nossa mídia contar as coisas pela metade.
No texto votado pelo Tribunal consta uma exceção: "se o réu não representa perigo para a sociedade" ele "poderá" responder em liberdade.
Exceção é porta de entrada da corrupção.
O entendimento do que "não representa perigo para sociedade" é muito difuso, elástico e subjetivo.
Pode ser justificado de qualquer maneira.
E o verbo "poderá" significa que aplicar a exceção fica a critério do juiz.
Ou seja, se o juiz determinar a prisão o réu poderá recorrer aos tribunais.
Até porque há uma lei que diz "as normas devem ser interpretadas sempre a favor do réu" e presunção de inocência.
Raciocine: na prática criou-se mais um recurso jurídico.
Logo, em futuros julgamentos, o tribunal substituirá o "pode" por "deve".
E pasme: "depois da decisão de segunda instancia", (tão festejada pela mídia), o réu dispõe de 28 tipos diferentes de recursos para manusear nos tribunais.
E assim ganhar tempo em liberdade, até a prescrição da pena.
Popularmente, são chamados de "recursos de gavetas", a disposição de quem tem prestígio e dinheiro.
Assim, vamos levando uma vida de faz de conta em meio a dura realidade.
Dispensável dizer que o nosso judiciário cada vez afunda mais na... (fica à escolha do leitor qual substantivo usar).
O vício é antigo, como se vê do seguinte poema de Humberto de Campos, de 1934:
"Quando a Justiça quer,
os cestos sobem os rios,
os peixes cantam nas árvores e
os pássaros fazem ninho no fundo do mar..."
(À sombra das tamareiras)
Vamos continuar a vivenciar o que bem definiu Getúlio Vargas: "Aos amigos tudo. Aos inimigos a lei!".
Bem...
É isso ai...
Mas vim para recontar a antiga fábula do "Pavão e do Urubu".
Um pavão abriu suas magnificas plumagem e disse:
"Como sou lindo" - "Mas sou infeliz porque não posso voar".
Uma urubu ouviu essas palavras e respondeu ao pavão:
"Já eu voo maravilhosamente" - "Mas também sou infeliz, porque sou muito feia".
Então as duas criaturas propuseram-se a acasalar-se: "Assim nascerá um pássaro lindo e que voará com maestria".
E assim o fizeram.
Do cruzamento nasceu o peru, que é feio e não voa.
E deixou a lição: "A vida não se aperfeiçoa com gambiarra!!"
E de gambiarra a gambiarra vamos criando um país de leis confusas para nós povo tolo; e muito úteis aos espertalhões.
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Obrigado pela leitura.
Fiquem com Deus.
Sajob - outubro / 2016