OLHOS-VERDES. O CONTO DE UMA GUERREIRA DA MATA

Um assovio estrondoso acorda a mata que ainda se encontrara dormindo.

O chamado de bençãos que poucos seres são capazes de entender.

A luz do luar se encontra com os primeiros raios de sol.

E ela observou com atenção esse encontro.

Ela dormiu pouco para se lembrar de qualquer sonho que tivera naquela noite.

O assovio mais forte fica. E ela só gostaria de dormir.

Olhos negros. Cabelos longos. Corpo moreno.

Em pé ha quase tanto tempo que nem lembrava de ir para casa. Mas ela não podia ir pra casa.

Era sua obrigação estar ali.

O assovio chegou e ficou. Ela está até mais aliviada. Medicina alguma conhecia aquele assovio.

Olhos-verdes foi o nome lhe dado ainda quando mal sabia onde estava. Surgiu no meio da mata aos gritos de dor e alegria. Surgiu assim como surgem as grandes lendas. Os primeiros de sua tribo que a encontraram viram grandes olhos arregalados procurando respostas no meio do desconhecido. Ao seu lado, um corpo exausto e com os ultimos suspiros pedindo para que a ajudassem a levantar. Olhos-verdes conheceu pela primeira vez a força das mulheres de sua tribo.

Sua mãe que 3 dias perdida estava na mata juntou as ultimas forças para lhe dar a luz. Uma pesca mal sucedida, um temporal inesperado e algum pouco de afobação lhe separava dos outros. E perdida numa floresta que nunca havia andado antes, por 3 dias ficou. Por 3 dias conversou com Olhos-verdes para que tivesse mais um pouco de paciência.

Olhos-verdes nasceu.

Sua mãe morreu.

E desde esse dia ela aprendeu que ser forte estava no seu sangue.

Um assovio cortou seu pensamento.

Uma lagrima rapidamente enxugou e voltou a se concentrar no seu propósito.

Mas que propósito era esse?

Por quê estaria ali?

Olhos-verdes fixava nos cantos e rezas do velho pajé que assoviava para antigos espíritos que poucos seres são capazes de entender.

Ao seu lado, um jovem rapaz agonizando de dor. Um rapaz que conhecia tão bem, desde quando nem Olhos-verdes ela se chamava.

Quando um corpo exausto no meio da mata segurava com muita dificuldade um recém nascido, ouviu passos apressados e gritos de alegria. Um pequeno guerreiro sua primeira caça havia conquistado. Já era homem. Já podia gritar alto.

Mas no meio da mata com outra coisa teve que gritar. Grito de socorro, para seus irmãos de tribo. Antes disso o pequeno caçador foi lá ver aquelas duas figuras no chão.

Foi o primeiro a ver os grandes olhos arregalados. Foi ele o primeiro que viu o verde da mata espelhado naqueles grandes olhos.

Vinte e tantos anos depois os papéis invertidos.

O rapaz que tão bom caçador era foi traído pelas armadilhas da mata. Um veneno tão mortal corria pelo seu corpo e antes de desmaiar temeu que aquela cobra estivesse com fome. Mas ela só estava com medo.

Olhos-verdes correu ao sentir o coração de seu amado chamar por ela, mesmo a distância.

No chão um corpo caído ha pelo menos 2 horas.

No coração, um arrepio de que pudesse ser tarde demais. E foi aí que por aquele assovio chamou.

Suplicou que salvasse seu herói. Seu amado. Seu coração.

O velho pajé rezava tão forte quanto o coração de Olhos-verdes pulsava. 1 hora. 2 horas. Um dia todo.

E Olhos-verdes que viu duas luas e dois sóis, não se movia.

Não compreendia.

Não aceitaria.

O maior dos caçadores havia sido caçado.

O primeiro a lhe carregar foi o ultimo a lhe beijar.

O unico herói que conhecia, fora pego pelo insistente destino que teimava em lhe ensinar do jeito mais duro.

E Olhos-verdes repousou sua mão direita sobre o peito de seu caçador. Chorando.

Com sua mão esquerda afagou sua própria barriga com extrema suavidade. Sorrindo.

Pegou a mão de seu caçador ainda quente e levou também a encostar na sua barriga.

Segurou a mão dele ali por alguns minutos.

Ninguem por perto.

O assovio se despediu com tantas lágrimas nos olhos quanto Olhos-verdes. A tribo chorava.

E naquele momento, somente Olhos-verdes sorria.

Com as mãos de seu caçador em sua barriga ela olhou uma ultima vez para seu rosto e sussurou.

- "você foi o primeiro a me tocar e me carregar, quando na mata eu podia morrer. Será também o primeiro a tocar e carregar nosso filho, e histórias suas ele vai saber..."

E quanto mais se podia duvidar da valentia daquela guerreira, mais se surpreendiam.

A correnteza forte do rio levava todas as tristezas de uma mulher que ja nasceu lutando. E que agora mais forte ainda será a guerreira para outro pequeno caçador.

Olhos-verdes é guerreira como todas as outras.

Geovani Nogueira
Enviado por Geovani Nogueira em 11/08/2016
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