Mudança

O homem por fim resolveu mudar-se da fazenda, pois seus prejuízos cada vez mais aumentavam. Resignando-se, pôs à venda sua terra e criação, mas impôs ao comprador uma única condição: que pelo menos um bicho dali ele iria levar consigo, no que foi atendido.

Buscava gostar de todos os animais de sua fazenda, porém alguns não lhe davam o devido retorno, causando no homem a impressão de que eram parte determinante de sua derrocada. Por isso, resolveu que só levaria com ele aquele bicho que lhe fosse extraordinariamente útil, fazendo algo além do esperado. Com este propósito em mente, na sua partida, alinhou todos os animais e resolveu consultar um por um. Pondo-se de pé diante do primeiro, começou:

Pato, cante, para que eu acorde cedo! - E o pato grasnou. Passou para o próximo:

Gato, late, para que eu possa caçar! - E o gato miou. Resolveu, então, prosseguir:

Leitoa, muja, para que eu possa te ordenhar! - E a leitoa grunhiu. Balançou a cabeça. Que pena. Seguiu ao próximo:

Burro, relinche, para que eu possa lhe montar! - E o burro zurrou. Insatisfeito, caminhou em frente:

Cachorro, berre, para que eu possa lhe tosquiar! - E o cachorro latiu. Desesperando-se, foi ao próximo:

Canário, cacareje, para que eu possa vender teus ovos! - E o canário trinou. Passando sua lista, encaminhou-se:

Cigarra, zumbe, para que eu possa recolher teu mel! - E a cigarra chiou. Entristecido, quase desistindo, passou ao último:

Papagaio, fala, pelo menos para que eu tenha companhia! - E o papagaio falou, cantou, fez gracejos. O homem, por fim, animou-se, espantando as trevas de sua face. Logrou encontrar um bicho que lhe correspondesse além da expectativa.

Não pensou duas vezes. Recolheu o papagaio e foi-se embora pela estrada, todo prosa com o bichinho.

Eudes de Pádua Colodino
Enviado por Eudes de Pádua Colodino em 21/07/2016
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