= Uma fábula (quase) "fabuloza" =
Sentado num tronco caído na margem da lagoa, o Sr. Sapo toca seu velho violão e canta com sua voz rouca e grossa, um tanto desafinado:
"A noite vai ter lua cheia
Tudo pode acontecer
A noite vai ter lua cheia
Quem eu amo vem me ver..."
Perto dele, enroscada numas folhagens, toda lânguida e insinuante, sensualizando, revirando os olhinhos toda sonhadora, uma jovem Perereca, conhecida por Pepeuzinha Vida Loka, cantarola junto.
A Sra. Sapa que até então não estava por ali, ao chegar e se deparar com o idílio tão envolvente e romântico, mãozinhas na cintura, esbraveja.
Não acha a menor graça na cena e enciumada coaxa:
- Epaaaaaaa! Posso saber o que está acontecendo aqui?
- Não é nada não, mozão! Não é o que você está pen-pensando.
Eu só estava can-cantando um po-pouquinho! -responde o Sr. Sapo.
- Cantando, né? Sei bem o que e quem você estava cantando!
Te conheço bem! Quem não o conhece te compra, seu Sapo safado!
E nem vem que não tem. Não me comove nem um pouco esse beição caído, magoado. Seu fingido, dissimulado!
Em seguida, ela mergulha forte, pesada e do alto, bem do lado do Sr. Sapo, esparramando água para todos os lados, encharcando o violão, que ficará com certeza, um bom tempo inutilizado.
E sem perder tempo, cola-lhe o brinco na orelha com um tapão, jogando-o na água.
Nessa altura do barraco, Pepeuzinha Vida Loka, bem rodada e treinada em escapadas estratégicas, esgueirando-se silenciosamente por entre as ramagens já está bem longe, contando o ocorrido para sua melhor amiga, de confiança, do peito e confidente, a Perereca Peka.
Que se encarrega de postar o mó bafão nas suas redes sociais, espalhando a fofoca, como costumeiramente faz. Em instantes, brejos, lagoas e adjacências todas estão sabendo. E compartilhando, colaborando para a difusão de tão importante fato. Como se ninguém tivesse nada mais importante e/ou relevante com que se preocupar ou pra fazer.
Uma semana depois, a Sra. Sapa ainda está de mal com o Sr. Sapo.
Ele até tentou umas reaproximações mas ela permanece fechadona, irredutível, incólume, sem uma palavra sequer dirigida a ele.
E ele pensa:
- Xiiii! Poxa, meo! Dessa vez babou legal, geral, total! Acho que minha batata assou e minha vaca foi pro brejo de vez, dessa vez!
Ela, por dentro se diverte, vendo a agonia dele.
E por pirraça, só para irritá-lo ainda mais, cantarola o tempo todo e bem alto, aquela música do Victor e Léo que ele detesta.
Ainda mais depois do cola-brinco, do tapão na orelha que levou e que o jogou na água zonzão...
"Que vida boa ô ô ô
Que vida boa
Sapo caiu na lagoa
Sou eu no caminho
Da separação..."
Moral da Historia:
Sapo fiel não se assanha pra Perereca.
Nem que seja a Pepeuzinha Vida Loka.
= Roberto Coradini {bp} =
31//05//2015