O DIPLOMADO E O DESTINO DO DESINFELIZ
Ele, como tantos outros, acabara de ganhar as urnas discursando o de sempre:a promessa de rearranjar a miséria desarranjada pelos tantos arranjos mal arranjados de improvisos.
Subiu no palanque com seus braços soerguidos e, sob aplausos efusivos dos que sempre acreditam, estourou um espumante francês , levantou a borbulhante taça ao seu povo, degustou as notas exóticas e uivou aos quatro ventos sua autoestima em surto de delírio psicótico frente ao ópio do poder.
Poder de poder qualquer coisa.
De repente, um som seco entrecortou o espaço e uma bala perdida, como era de costume por aquela redondeza, seguiu sua trajetória aleatória, sem alvo a estancar mais um corpo, desta vez um que o aplaudia.
As palmas do entorno foram substituídas por gritos de medo e um forte odor de sangue se misturou ao volatizado perfume de champanhe.
Então, assustado e muito irritado, fora da hora como se desmascarado em praça pública, ele desceu do palanque das vitórias a chutar o corpo sucumbido do desinfeliz que tombara ali, morto de crédito aos seus pés, como um embrulho não solicitado pelo destinatário, a apenas lhe atrapalhar os passos para o seu plano de estratégia ao nada.
Desinfeliz sempre é a sorte dos que acreditam em miragens.