O Tudo e o Nada

Apenas o Tudo e o Nada existiam, sem luz, sem calor, sem som ou movimento, apenas uma esfera condensada com toda a existência envolta pelo nada infinito.

Porém, apesar de vazio, o Nada era sufocante e lutava contra aquela grande esfera que insistia em existir, atrapalhando sua plenitude. Com todas as suas forças e numa tentativa de extinguir de vez aquele intruso dentro de si, o Nada pressionava o Tudo, de todos os lados, deixando-o cada vez menor, e de pouco a pouco o Tudo diminuía de tamanho, se tornando mais e mais compacto e denso.

Provavelmente essas duas forças não possuíam inteligência ou sequer raciocinavam sobre sua eterna existência, apenas existiam, eram o que eram e agiam da forma como agiam. Mas se o Nada soubesse o que aconteceria, provavelmente não pressionaria tanto, de todos os lados, mais e mais, mais e mais...

Tamanha era a pressão e densidade do Tudo que sem ter mais como encolher e sem ter mais para onde ir começou a transmutar a matéria no seu interior em energia e com essa força extra, finalmente sobrepujou o Nada.

Foi como se espreguiçar logo ao acordar, quando liberamos toda aquela energia guardada, esticando nossos membros ao máximo e num bocejo liberamos aquele ar guardado lá no fundo dos pulmões. O Tudo se lançou em todas as direções, liberando toda aquela energia contida, lançando também muita matéria por todo o espaço. O Nada se encheu de calor, de cores, e não mais existiu, por muito, muito tempo...

Porém a natureza no Nada continuava a existir, como força primitiva, assim como o Tudo não era mortal, não tinha um inicio e nem um definitivo fim. Essa força começou a agir e aos poucos foram surgindo alguns vãos entre toda aquela energia e poeira que se transformara o Tudo. A batalha cósmica havia começado outra vez e como antes, o Nada começou a pressionar e acumular partes do Tudo. Se formaram esteroides e estrelas, sistemas solares e constelações, que nasceram e morreram, dando vida a outras maravilhas.

No meio disso tudo surgiu a vida como conhecemos e isso aconteceu sem um propósito definido, apenas aconteceu, devido fatores ocasionais. Apenas uma oportunidade, um acerto entre tanta margem para o erro. Mas então, com a vida veio a consciência, e as forças primordiais deram espaço à outras forças...

A consciência surgiu com a vida e a vida surgiu com a consciência, apesar da evolução que se deu, depois de milhões de anos como os conhecemos, sempre houve a consciência e ela existe em todo e qualquer ser vivo.

Não se sabe e não tem como saber se das forças primordiais surgiu a consciência, e então a vida, ou se foi em alguma outra ordem, mas existe tal conexão. A batalha eterna entre o Tudo e o Nada acontece no cosmos e acontece também dentro de todo ser vivo. Não existe bem ou mal, existe essas duas forças opostas que batalham entre si eternamente, numa dança onde uma sempre conduz a outra alternadamente.

Quanto mais evoluímos nossa consciência mais tentamos nos distanciar das forças primordiais, porém na verdade estamos chegando mais próximos delas. Quanto mais tentamos explicar o mundo e o universo, mais explicamos sobre nós mesmos.

Um dia todas as galáxias se unirão novamente, e o universo irá se resfriar como antes, toda a energia será condensada e transmutada novamente em matéria, e só o que existirá será o Tudo e o Nada na plenitude do silêncio cósmico, até que a música volte à tocar e eles recomecem sua eterna dança.