Paulão - Contos para não contar

Era uma vez um gato, um gato preto charmoso, com bigodes salientes e olhos azuis claros. Seu nome era Paulo, carinhosamente apelidado como Paulão. Ele trabalhava em outro estado, era batalhador, esforçado, mas seu emprego não era lá muito bom, trabalhava como faxineiro, retirava os ratos dos bueiros, era o melhor que conseguiu, pois tinha que alimentar sua família. As contas… as contas, luz, água, estavam atrasadas, estava endividado, dois bancos lhe pediam dinheiro com juros altíssimos e com esse emprego, nem trabalhando a vida toda ele conseguiria pagar. Mas, mesmo com tantas dívidas, Paulão nunca deixava faltar um pão no café manhã para sua família, às vezes deixava de comer para eles comerem. Kat, sua filha favorita, era tão pequena e vivendo tudo aquilo… Aos olhos do pai, uma princesa, dos ricos, imunda. Mas nada tirava o sorriso do Paulão.

Seu turno tinha acabado. Hora de ir para casa, ver minha mulher e abraçar as minhas filhas, pensou, pegou o busão, 2 horas de viagem, foi um monte de gato junto, espremido, mas a vida é difícil assim mesmo (não é?). Paulão acreditava que aquilo tudo iria acabar um dia. É apenas uma fase, minha filha vai ter uma vida boa, comida boa, estudo bom, eu vou conseguir! Mas, agora terá apenas meu amor. Disse para um colega no busão.

Depois de alguns minutos, o ônibus parou. Olhou, olhou, olhou, olhei também, ainda é São Paulo, não saímos, não saíram. Estava noite, as luzes da cidade grande ainda iluminavam tudo, iluminavam também o capuz preto de um homem grande, punhado de um porrete, Paulão olhou para o lado e viu outro homem, mais um e mais um. Cada canto que olhava tinha um homem de capuz preto, estava cercado.

“Libertem os coloridos!” - Foram-se os gatos de cores alaranjadas e brancas, mas os pretos, os pretos ficaram. “Vocês, venham comigo”. Os gatos pretos foram levados para um beco, a cada passo que davam, mais sumiam na escuridão, até desaparecer completamente.

Sabe, era dia 13 de um mês qualquer, porém, era sexta-feira 13 em São Paulo, nesse dia começa uma caçada aos gatos pretos, não se importam se tem família, trabalho, só se importam em terminar seu ritual. Azar, eles dizem que gatos pretos dão azar, e dão mesmo, azar da família de Paulão, sua mulher perdeu o marido e suas princesas seu rei. Isso é azar.

Paulão não tinha nada, apenas fé e amor, mas tiraram isso dele também.

Humanos malvados, disse Kat com um olhar… assustador.

Fim.

Kat agora cresce sem pai.

:(