Um bolo bocado à boca miúda

Era uma vez um bolo.

Coisa fina, de qualidade, bonito, vistoso, apetitoso e, sobretudo enorme! Muito grande mesmo!

Dele se dizia que tinha dimensões continentais.

Para fazer algo assim tão gigantesco, não bastava apenas uma ou duas, ou vinte confeiteiras; era preciso muitíssimos colabores. Por isso, numerosas mãos trabalhavam na empreitada dia e noite: negros, brancos, pardos, índios, mestiços, gordos, magros, gays, lésbicas, homens e mulheres, toda a gente!

Um dia, o bolo ficou pronto e foi guardado para ser comido, partilhado entre todos no momento certo.

Certo dia, os guardiões do bolo ficaram maravilhados com a grandiosidade e beleza daquele alimento. A fome apertou, seus olhos brilharam e, com suas bocas salivando, pensaram que seria bom comerem um pedaço do bolo, mas sem contar para todo mundo, sem convidar muita gente que era pra não dar tumulto, afinal, a ideia era tirar só uma lasquinha para experimentar. Assim o fizeram, sem conhecimento dos demais colaboradores. Cada guardião tirou um pequeno pedaço daquele enorme bolo, deliciaram-se secretamente, enquanto os demais aguardavam o dia da festa para finalmente desfrutarem do fruto de seu trabalho.

Bom...aconteceu que os guardiões, depois de provarem do bolo, não se contentaram somente com uma "casquinha", quiseram mais, a fome apertou; então resolveram, cada um a seu tempo, retirar mais um pedacinho; pensaram também em convidar alguns amigos íntimos para comerem secretamente e, para isso, cada guardião aumentava o tamanho de sua fatia conforme a quantidade de pessoas com as quais desejava dividir o segredo;

Um dia, todo o povo ficou ansioso e faminto por demais, portanto pediram que o bolo e fosse finalmente liberado e partilhado entre todos. A essa altura o bolo já estava bem deformado, muita gente já tinha comido, assim na calada da noite, e sobrara pouco para dividir entre o povão que aguardava receber sua justa e farta fatia. Com medo que a multidão faminta descobrisse e se vingasse, os guardiões decidiram inventar que formigas gigantes tinham comido toda aquela parte do bolo e que por mais que tivessem se empenhado em vigiá-lo, não tiveram como deter os terríveis insetos.

O povo, ao ouvir aquela versão mirabolante, achou tudo muito possível e lamentando perfilaram-se para receber a minúscula fatia que devoraram em menos de 1 minuto e que apenas suscitara mais apetite. Cansados e famintos, conformaram-se quando os guardiões disseram que, quanto às formigas, nada se pode fazer, que são assim mesmo e que o jeito é recomeçarem os trabalhos para prepararem outro bolo. E foi assim que ano após ano, o bolo gigante passou a ser dividido sempre de modo desigual, sem que o povo descobrisse que formigas gigantes não existem.

FIM

LPaula
Enviado por LPaula em 09/12/2015
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