O gavião e o urubu
O gavião encontrou-se um dia com o urubu. Este, muito magro e triste, contemplava aquele, gordo e satisfeito.
- Que diabo tem você, amigo urubu, que está tão magro?
- É verdade, amigo gavião, e você tão gordo!
- E porque você não engorda também, amigo urubu?
- Não posso, amigo gavião. Por estas paragens não morre mais ninguém.
- Pois faça como eu, que pego os vivos.
Aí, convidou o urubu para fazerem uma caçada. Saíram por ali afora. O gavião pegando passarinhos e dando-os ao urubu para comer. Depois encontraram um bando de pombas.
Disse o gavião:
- Vamos a elas, amigo urubu.
Foram abaixo, foram arriba, dá daqui, dá dacolá, até que as pombas entraram pelo mato adentro. O urubu pôs-se la em cima, trepado no olho de um pau seco, bem de seu.
Porém o gavião continuou a perseguir as bichinhas. Tanto fez que estrepou-se numa ponta de pau e morreu. O urubu, aí, saltou sobre o cadáver e começou a petiscá-lo, dizendo:
- Eu vivo é da desgraça dos outros!
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(Conto popular, coligido por João da Silva Campos)
Retirado de meu livro de PORTUGUÊS (Antologia e Gramática) dos bons tempos, de José Batista da Luz para 1a. e 2a. série do primeiro ciclo.
Companhia Editora Nacional
17a. Edição - 1964 - Exemplar nr. 1815