O Corvo e o Tucano - Contos de Fadas para Adultos

Nota do autor:

Bom dia povo do Recanto. Este é o meu segundo conto na semana, já que na semana passada não postei nenhum. Não deixem de conferir meu conto de ontem, "O caçador de duendes". Boa leitura!

Contos de Fadas para Adultos

O Corvo e o Tucano

O Corvo voava pra lá e pra cá, tristonho por ter penas escuras, lustrosas feito os riachos que riscavam as florestas. Seus olhos se tornavam assustadoramente negros nas sombras das árvores, fazendo qualquer animal se distanciar da sua presença. Pobre corvo! Até as larvas e as minhocas e os filhotes fugiam da sua presença malevolente antes mesmo do bicho se aproximar para caçar, portanto, lhe restava apenas comer a carniça que os outros selvagens deixam para trás depois da caça. O infeliz jantava com desgosto, as tripas podres dos restos mortais dos animais desciam ardendo pela garganta. Ele se imaginava comendo belas frutas de caldas doces, assim como o seu amigo Tucano, porém, antes mesmo de se aproximar de uma delas, os outros animais vinham lhe afugentar. Ele era o mau agouro, a escória do mundo selvagem. Ninguém lhe amava. Ninguém... Mas ser ausente de recebimento afetivo não é sentença de que não se pode amar, pelo contrário, quem afeto não recebe ama muito mais intensamente.

Com o Corvo não era diferente. Todos os dias ele voava para a lagoa ali perto, escondendo-se nas sombras para que os outros bichos não lhe tirassem violentamente dali. O pássaro tinha paixão fulminante pelo Cisne que na lagoa vivia, e a ave branca sabia da sua beleza, todos os pássaros o cortejavam, aproximavam-se para tentar namoro, mas o Cisne ainda estava escolhendo com quem ficar, e entre todos os muitos pretendentes, o de maior valor era o amigo do Corvo, o Tucano, tão exuberante com suas penas coloridas, vermelho, amarelo e azul, parecia uma bandeira esvoaçando entre as árvores, de longe as suas cores gritavam de glória e sedução, o que muito invejava o seu amigo carniceiro.

Foi então que o Cisne resolveu dar uma festa para escolher a quem entregaria o seu alvo coração, e o pássaro mais belo de todos conquistaria um lugar ao seu lado na lagoa.

O Corvo sentiu o peito arder, foi logo se inscrever, e mesmo que não tivesse chance alguma de vencer, a esperança que o seu amor lhe proporcionava o fazia acreditar que milagres poderiam acontecer. Mas o pobrezinho não passou nem nas portas da lagoa, porque as araras não o deixaram alistar-se para o baile.

Entristecido, coração em pedaços, o carniceiro passou muito tempo pensando em um plano, até se deparar com a casa de um senhor que vivia na mata. Ele costurava roupas para as pessoas da cidade. O pássaro foi até a porta da casa do velho e bateu com o bico.

- Quem é e o que quer? – a voz irritada do senhorzinho perguntou antes de abrir.

- Sou o Corvo da floresta, o mais vil de todos os pássaros. Não recebo amor nem atenção, com a exceção dos insultos ao qual sou submetido. Eu preciso de uma roupa para o baile na lagoa. Uma roupa linda de pássaro, colorida e avivada. Transforme-me em um lindo animal. Em troca irei afugentar todas as pestes que tentam comer a tua lavoura. O Cisne precisa pensar que sou um pássaro de real beleza rara.

O velhinho abriu a porta.

- Eu sou Atrius, o melhor de todos os costureiros. Tua ajuda é bem-vinda, pobre e feioso Corvo, no entanto, em minhas mãos não vertem o talento de fazer uma roupa tão bela para ti a ponto de enganar o Cisne.

O Corvo já ia se sentir desolado quando Atrius lhe deu um último suspiro de esperança:

- Porém... Traga-me as penas de um tucano e eu confeccionarei uma roupa bonita e verdadeira para ti, e desta forma poderás enganar a todos no baile.

O Corvo achou a idéia terrível. Como poderia roubar as penas do seu único amigo na floresta, o Tucano? Não podia fazê-lo. Esta atitude era traiçoeira e nojenta, até mesmo para um carniceiro. Mesmo assim, não existe ética para quem ama de verdade. Se conseguisse o amor e a atenção do Cisne, nada mais lhe importaria.

Assim o Corvo chamou o Tucano em sua casa, dizendo que havia descoberto uma fruta cujo aroma muito agradava o Cisne.

- Tome aqui esta cereja. O Cisne a ama. Quando ele sentir o teu hálito todos os outros candidatos desaparecerão e você se tornará o senhor da lagoa.

Muito empolgado o Tucano comeu a fruta para experimentar o espetacular hálito que tanto encantava o Cisne. Pouco depois de morder a cereja caiu no sono.

O dia do baile chegou.

Todos os pássaros estavam lá, azuis e vermelhos, amarelos e brancos. Uns grandes, outros pequenas. Cada qual portando suas majestosas belezas selvagens. Mas quando o Tucano chegou todos se calaram e voltaram seus olhos para ele. As cores das suas penas pareciam ainda mais vivas e radiantes, reluzindo em contato com o sol.

- Tucano, és tu o mais belo entre todos! – o Cisne exclamou ao vê-lo. – É certo que o meu coração a ti pertence. Não há, além de mim, quem possa com a tua beleza.

O Tucano ia se juntar ao Cisne na lagoa, muito feliz em ter conquistado o amor do pássaro branco, mas então o Corvo chegou. Tentaram afugentá-lo, mas ele estava mais forte que antes e conseguiu passar.

- Vai embora feioso! – o Cisne rogou. – Não reivindique a tua presença no baile. Os carniceiros não merecem o meu coração.

- Não sou carniceiro, este ao teu lado é que é.

- Ao meu lado está o Tucano. Ele come frutas coloridas, o que deixa suas penas com cores mais quentes e bonitas.

- Não, não. Este ao teu lado é o verdadeiro Corvo. Este infeliz me enganou, roubou minhas penas e as costurou nele, e as penas negras e feiosas foram postas em mim.

- Que bobagem! Olhem para mim. Sou belo e verdadeiro – se defendeu o Tucano.

- Só há um jeito de saber a verdade – o Cisne declarou.

Para o Tucano e para o Corvo foram dados dois pratos, e pelo cheiro deveriam escolher apenas um.

O Corvo trouxe a sua pedida. O Cisne abriu a bandeja e havia frutas dentro.

O Tucano trouxe o seu prato, e dentro havia apenas carniça.

O Cisne se horrorizou com a crueldade do ato, porém, admitiu que não havia maneira de ficar com o verdadeiro Tucano, pois agora ele tinha a aparência de um Corvo. Então decidiu que se casaria com o verdadeiro Corvo, pois ele agora possuía a beleza do Tucano.

Entristecido, o Corvo falso voou para longe e foi embora para nunca mais ser visto, e o Tucano falso se casou com o Cisne, houve uma festa de arromba e eles viveram felizes para sempre na lagoa.

Moral:

A prata pode ser banhada a ouro, entrementes, sempre será prata por dentro

O Tirano
Enviado por O Tirano em 02/09/2015
Código do texto: T5368201
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