O ERRO
Uma velha árvore, grande, robusta, frutífera e florida outrora, agora fraca, mantém-se descascando, acabando-se aos poucos, sem flores e frutos.
Esta árvore finca-se em uma terra antiquíssima, dos primórdios das Eras Geológicas e hodiernas, após inúmeras transformações, é uma terra forte, de cor avermelhada e de textura afofada.
Certo dia a Terra começou a zombar e amofinar a Árvore que outrora fora bela e que atualmente se encontra em desmazelo.
A pobre Árvore ouviu grandes atrocidades proferidas pela Terra e começou a debulhar-se em lágrimas peroladas de orvalho que saíam de suas folhas.
A Árvore entristeceu-se e nunca mais voltou a falar com as demais árvores da flora. Até que...
Veio a chuva e esta ocasionou erosão na Terra que se tornou infértil. Juntamente da enchente morreram animais, plantas e árvores que foram levadas até lugares distantes e leitos de rios caudalosos, outras até outros rios turvos.
Somente uma árvore sobreviveu: A Árvore Calada e Tristonha.
A Terra, ao perceber como ficara, desesperou-se e então, após muito tempo que já havia decorrido, a Árvore Triste a Calada indagou:
- Não chore, pois você voltará a ser bela. Não prossiga chorando, pois o que realmente vale é a beleza interior e não a exterior.
A Terra redarguiu:
- Verdade? Então porque você se emudeceu e se entristeceu durante anos e anos por eu lhe ter dito aquelas barbaridades?
A Árvore secundou:
- Não me calei e silenciei por mim. Mas sim, por você. Pois no ápice de seu esplendor, você se esqueceu que durante milhões de anos vc já fora bela e depois, novamente, feia, e assim sucessivamente, em decorrência das várias transformações ocorridas no planeta. Seu orgulho e vaidade lhe cegaram. Fiquei entristecida e muda desde então, porque vc não percebeu o seu grave e grandíloquo erro. No entanto, agora, você já é capaz de vê-lo não é?
A Terra sorriu-lhe e respondeu-lhe:
- Sim, sou capaz de vê-lo hoje. Peço-lhe perdão por meu erro do pretérito, além de lhe agradecer por você ter me aberto os olhos da razão e da consciência.
Moral da história: “Nem tudo é eterno, imperecível e belo, tudo é momentâneo, por isso devemos respeito a nós próprios, aos nossos limites, ao Tempo e a outrem”.
GLOSSÁRIO “O ERRO”
 Robusta = de constituição física muito forte, resistente; potente, vigoroso.
 Hodierno = que existe ou ocorre atualmente; atual, moderno, dos dias de hoje.
 Amofinar = tornar(-se) mofino ('infeliz'); apoquentar(-se), aborrecer(-se).
 Desmazelo = desleixo, desmazelo, descuido.
 Atrocidade = ato de crueldade, desumano; barbaridade.
 Caudaloso = que possui intensa corrente ou fluxo (diz-se de rio ou similar); caudal, torrencial.
 Turvo = que se movimenta muito; agitado, violento.
 Indagar = fazer pergunta(s) [a alguém ou a si mesmo] sobre; interrogar(-se), perguntar(-se).
 Redarguir = apresentar réplica a; contradizer, refutar, replicar.
 Secundar = oferecer como resposta; responder, replicar.
 Ápice = a intensidade máxima (de sentimento, emoção etc.); auge.
 Esplendor = qualidade daquilo que é grandioso, luxuoso; magnificência, opulência, suntuosidade.
 Grandíloquo = que se expressa com grandiloquência; pomposo, afetado, rebuscado.
 Pretérito = que não é do presente nem do futuro; situado no passado.
 Imperecível = não perecível; eterno, perene, imperecedouro, imortal.
 Outrem = o(s) outro(s).