603-O CORVO, A RAPOSA E O QUEIJO - Fábula Mineira

O Corvo estava no alto de uma arvore, tentando colocar um queijo na forquilha, a fim de comê-lo com tranqüilidade. Um queijo fresquinho, que o Corvo tinha roubado, minutos atrás, da prateleira onde Juca do Queijo colocava as peças, para ir curando devagarzinho.

A Raposa, de fino faro, sentiu o aroma, olhou para cima e viu o corvo que procurava ajeitar o queijo roubado. Astuciosamente, gritou para o Corvo:

— Cumpadre, que saudades do senhor. Há quanto tempo não ouço seus trinados, a linda melodia que vem de sua garganta, nem vejo o vejo dançar com elegante bailarina das árvores.

O Corvo, envaidecido pelas palavras mentirosas da Raposa, pôs-se a soltar grasnidos e a pular sem jeito nem elegância no galho. Esqueceu-se, naquela exibição ridícula, do queijo, que acabou caindo do galho, bem próximo de onde estava a raposa.

O que nem o Corvo nem a Raposa sabiam é que Juca do Queijo, tendo visto o Corvo sair voando do telheiro onde colocava os queijos, com uma das melhores peças no bico, o seguiu, armado de um poderoso porrete.

Sabia que o corvo iria se cansar, voando com o queijo no bico, e então, acabaria com o corvo.

Estava próximo da árvore onde o Corvo pousara, e ouviu toda a mentira da Raposa para o Corvo, e viu, com um sorriso maroto, quando o Corvo começou a “dança” para a raposa.

Quando o queijo caiu, a raposa pulou com rapidez sobre o queijo. Mas não tão rápido quanto Juca, que desceu o cacete na cabeça da raposa, que tombou desfalecida, bem ao lado do queijo.

O Corvo percebeu a besteira que havia cometido, mas quando olhou pra baixo, só viu o homem — o dono dos queijos — o qual, olhando pra cima, jogou o cacete, que atingiu o pássaro numa das patas.

Ainda que machucado, o Corvo voou para longe dali, sem jamais pensar em roubar queijos. Depois daquela experiência perdera todo o prazer em saborear a deliciosa iguaria dos mineiros.

Moral da história: nunca tente tirar dos mineiros nem queijo nem cachaça.

ANTÔNIO GOBBO

Belo Horizonte, 20 de abril de 2010

Conto 603 da SÉRIE 1.OOO HISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 27/12/2014
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