A CAÇADA
Naquele tempo eu era um cão mestiço novo e cheio de força, tudo começou em um caixote de madeira veio, onde minha mãe, a Duquesa deu cria, dos cinco irmãos eu era o mais mirrado, de latido fino e com os oios cheios de remela, lembro como hoje o dia que cheguei aqui, a roça era algo desconhecido, tudo era novidade, meu dono o veio Zé, me tratou a fole, até eu completar seis meses de vida. Então numa noite depois de uma pingaiada doida, ele me olhou nos olhos e disse:
__ Amanhã nois vai pro mato...Vai descansar... Passei a noite pensando e o sono demorou a chegar, afinar eu ia pro mato, eu ia pro mato!
Essa foi a minha primeira saída, foi pras banda do capão redondo, mata fechada, cipoal trançado, carrapato.
Saimos cedo, ele montado na veia égua Mulata e eu acompanhando eles todo desconfiado, pra cada passo dela eu tinha que dar uns trinta, mas devagarzinho chegamos lá, ai o Zé me oiou novamente com ar de seriedade e confiança, aquele olhar profundo mateiro que tocou minha alma ...
Essa é a empreita, presta atenção, dizia ele, cê tem que ranjar o trieiro, e dispois ranjar a paca, se ocê passar por essa, ocê ta empregado, mas se faiar... Me deu uma tremedeira danada, afinal, o que era uma paca?
E lá fui eu, rompendo mata adentro, carrapicho, carrapato, pulga, cipó na cara, riacho de água gelada, até que cheguei num trieiro batido, limpinho tinha um cheirinho diferente, cheiro que eu nunca tinha sentido...ai o Zé aprumou suado, abaixou oiou e balançou a cabeça dizendo:
_É paca e das grande.
Se é paca, pensei, ela tinha andado a pouco tempo por ali, danei a latir, banar rabo e desci grota abaixo, fuça aqui, cheira ali, mexe acula, acabei chegando em um barranco próximo do riacho e achei um buraco, o cheiro tava forte, meu faro apurado me dizia...Essa tar de paca deve di ta ai dentro, e danei a latir...Ele chegou logo dispois e tirando o chapéu limpou o suor da testa dizendo:
_É paqueiro encontramos a toca da danada...
Foi treita pra mais de hora, quase voltei mudo de tanto que lati naquele dia, mas foi minha passagem, o momento mais feliz da minha
vida, estava com a estadia garantida, ajeitei, fiz força, entrei buraco adentro e a danada cuspiu pelo suspiro, ai foi outra luta, ela gritava me larga, me larga, fazia menção de morder, pulava, esperneava, mas tava segura, ai pra acarma eu disse a ela:
Amiga só vim te convidar pro armoço, quando ela acarmou ajeitei ela e o Zé piporcou a porveira...E a paca foi armoça com nois... O que ela não sabia, é que ela era o armoço!
As veis fico pensando o que o ele ia fazer se eu faiasse nessa empreitada...Já ouvi falar num tar de cachorro quente... Será que ele ia esquentar eu pro armoço ao inveis da paca?