Ame sua pitangueira
Foi numa semana de férias com minha mãe que depois de muita procura em cidades vizinhas encontramos uma bela muda de pitanga preta, da qual o dono do viveiro nos garantiu que seus frutos seriam pretos. Minha mãe estava feliz; e juntos plantamos a pequena muda bem à frente da janela da cozinha.
Na segunda feira voltei para Guarulhos/SP, e minha mãe continuou em sua casa, mas mesmo distantes a centenas de quilômetros compartilhávamos o desejo de ver a pequena pitangueira crescer, dar frutos, ficar forte e frondosa, e fazer sombra nas tardes quentes de Sales/SP.
Telefonava com frequência e minha falava das folhas e dos primeiros galhos que nasciam; falava das flores. Minha mãe sabia do amor e carinho que eu sentia pela pequena pitangueira e de meu desejo de vê-la dar frutas pretas, e para me fazer feliz sempre dava as boas notícias.
Um dia minha mãe estava feliz porque as flores estavam se transformando em frutos, e ficamos felizes juntos. Porém, dias depois telefonei e minha mãe disse que os frutos não eram pretos, era rosa! Fiquei muito triste, e tive vontade de arrancar a pitangueira e devolver ao dono do viveiro onde havia comprado, e dizer que ele tinha me enganado. Mas fiquei doente e quando voltei para casa minha mãe já havia comido as pitangas, uma a uma, e com a alegria de uma criança falava o quanto eram saborosas, e estava muito feliz; e esperava o ano seguinte chegar, pois, a pitangueira haveria de crescer ainda mais, dar mais frutos e ela pretendia fazer suco.
Fiquei muito triste com o fato das pitangas não serem pretas, e lamentava sempre, e minha mãe tentava me consolar, dizia que as pitangueiras eram todas iguais, e que os frutos tinham o mesmo gosto, e que não tinha importância se as pitangas eram pretas ou rosas. Mas continuei amargurado e me sentindo enganado, e minha mãe para não me ver triste não falou mais comigo sobre a pitangueira.
Eu sabia que as pitangueiras eram todas iguais, que não havia nenhuma diferença em suas raízes, seus troncos, suas folhas, seus galhos, suas sombras, suas flores. Eu sabia que as diferenças estavam apenas na cor de seus frutos. Mas eu continuei triste e insatisfeito...
O fato é que no ano seguinte a pitangueira morreu, e nunca mais vi minha mãe alegrar-se com seus frutos.
Moral deste fato: se a tua pitangueira não deu os frutos que esperava, não fique triste porque sua tristeza poderá mata-la.