O Louco e a Enamorada
“Que todos saibam usar de suas lágrimas para fertilizar as sementes de belas flores”
O Louco, que também é Ermitão, não cessava sua caminhada, tantos já havia encontrado e com tantos já havia dialogado, sempre como mestre dos que lhe pedia um tempo de atenção; poucos perguntaram de fato os segredos de seu coração, mas cada ser é feito de uma duvida, cada ser é guiado por uma emoção; o próximo encontro do Louco seria com quem trás nas mãos o coração, gosta de analisar suas batidas e seus desejos, vive em experiência com a vida, é uma Gêmea em busca de seu Gêmeo, em busca de seu par perfeito, mas por ser cupido, pode amar a todos de uma vez, e não esquecer do mundo em honra de um ser querido apenas, pois todos lhe são queridos... E foi a margem de um lago, onde o louco parou para beber dele um gole, que ele encontrou a Enamorada.
- Como andas tu, amigo?
O Louco respondeu sem mesuras a jovial pergunta, já não fazia questão de guardar pra si a marca de seu espírito...
- Bom ver-te, “cara mia”, não estou bem, mas essa é a lei de minha vida...
A enamorada ajeitou-se na grama macia a beira do rio, sorrindo convidou o amigo a se sentar, convite que ele não recusou, pois havia caminhado longos dias sem um segundo de descanso.
-Eu também estou triste, lembro de nossas ultimas conversas, estou um tanto desanimada com a humanidade, é triste que precisem sofrer para serem nobres...
O Louco olhou a amiga e disse com carinho:
- Que bom que identifica sua tristeza, muitos a sentem, mas não sabem de onde vem, e nem os motivos de senti-la, não imaginam que sofrem de insatisfação espiritual, e que suas almas clamam por mudanças, clamor que o cérebro não sabe interpretar, por isso o mal dessa nossa era de ouro é a depressão...
A Enamorada olhou profundamente nos olhos do amigo e viu a tristeza dançando como lúgubre bailarina em seu olhar.
- Amigo, tens depressão?
Ou consegues conter tua tristeza em favor daqueles a quem tu amas?
Lembro-me que me dizias que nascemos e morremos sozinhos... Mas não acha cruel estar só?
Com todo seu arrebatamento e furor em amar, a Enamorada não concebia com clareza o frio da solidão de seu amigo, mas ela havia nascido forjada no fogo de beijos e abraços, nasceu para curar a paixão em seu mais dolorido estado e seu caminho seria de aprendizagem, o louco nasceu forjado pelo frio da solidão, pois seu caminho seria aprender a lidar com ela; cada homem deste mundo nasce com um sentimento humano a flor da pele, para que desse sentimento seja tirado o melhor.
Solicito o Louco responde a amiga:
- Todo homem sofre de tristeza e eu não sou diferente; sim, como humano que sou, tenho depressão, mas eu não a seguro, eu a uso, faço arte com minha dor, com ela observo o mundo- o Louco respira fundo e continua- Eu estou sempre triste, mesmo quando tudo está perfeito, mas acredito que não é por acaso e procuro com ela plantar o bem...Em meus poemas falo que verto meu sangue envenenado e dele é produzido um poderoso fármaco que cura. Pode parecer arrogância, mas é como se fosse eu um hospedeiro da tristeza, ela não faz a mim o mal que destrói os outros, a tristeza está comigo e como hospedeiro eu posso tanto contaminar quanto curar.
Abismada a Enamorada pergunta novamente:
- Sempre triste?
-Sempre, sempre e sempre; desde que nasci...
Ouve um breve silêncio entre os amigos, que logo foi interrompido pela moça, que com carinho dava um motivo a dor do Louco.
- Creio que tens uma missão, sabes disso; não sei como está hoje para ti, mas eu sempre percebi que traz para ti as dores dos outros, compreende?
- Sim, claro, isso também...
-Acho que por isso descansa tuas cartas no bolso, não mais mostra o futuro aos homens por não estar bem...
- Pois é cara amiga, por vezes preciso retirar-me para sozinho lamber minhas feridas...
A Enamorada talvez tenha compreendido, mas isso nunca saberemos, pois ela preferiu calar para deixar o amigo falar, quase nunca dizia sobre si, quase nunca aliviava o fardo de seu coração.
-Sabe os palhaços?
São mórbidos se analisados friamente, mas a liturgia é linda, pintam o rosto de cores de alegria, e fazem graças com a desgraça, e mesmo infelizes fazem o mundo rir!
Tudo com que meu olhos teve contato, todas minhas experiências carnais e espirituais me servem de apoio para os pensamentos...
Quando criança vi o Grande Palhaço e adotei sua filosofia.
O Louco sorriu recebendo de volta um lindo sorriso:
-Lindo, você não é como nós que vive momentos de tristeza, a sua é constante...
- Sim, mas nem por isso o mundo deve ser monocromático e mudo...
- Claro, usas tua tristeza para outras coisas.
- Minha amiga; muitas vezes me falas que sou em parte humano e em parte divino, isso somos todos nós, mas o que não sabe é que, como todos, minha parte humano sobrepuja o divino, sou inclinado a quedas...
Eu sou como um monge que professou, não por amor a Deus ou por vocação, mas para ter sua humanidade contida pelos muros do mosteiro e não errar tanto.
Um tanto mais séria a moça prossegue com a conversa:
-Eu compreendi, mas como fica suas crenças em relação sua tristeza, sim, acreditamos em Jesus e em forças superiores, mas como interagem suas crenças e sua dor?
O Louco consternou-se com a pergunta, falar de seus sentimentos nunca é fácil, mas a conversa já tinha ido longe o bastante, não fazia sentido fugir.
-Antes de ser qualquer coisa, sou artista, e eu acho que todo artista sofre de tristeza. Os dons artísticos, fazem do ser que os tem, sensível, sensível a tudo que permeia a atmosfera ao seu redor, no astral e no cósmico é como no físico a maioria se sobressai, e tratando-se de energia, nosso mundo se sobressai em tristezas de todos os tipos.
Mas há uma musica que diz: “Uma dor assim tão pungente, não há de ser inutilmente”
Eu entreguei minha arte para o impalpável que me visita, e através de minha arte poder inspirar a paz em uma única pessoa sequer, e há um ditado judeu que diz: “Salve um homem apenas e terá salvo toda humanidade”
Por isso escolhi escrever, por isso escolhi nascer para poucos, não quero ser de muito e nem quero fama, quero estar por trás das luzes da ribalta salvar, que seja um ser apenas, se eu puder... E acredito que tenho acertado
A Enamorada abraça o amigo e com voz sorridente fala:
- És dono da infelicidade mais colorida que conheço , tens o choro mais melodioso e cheio de paz que já ouvi!
O Louco retribui o abraço e saúda a Enamorada...
-Bem aventurada és tu, que não te abates com a tristeza, pois és filha da esperança, e que assim sejam todos os homens, artistas de seu mundo, palhaços de suas vidas, poetas , cantores, de seu palco particular, o melhor, mais puro e engraçado artista...
“Que todos saibam usar de suas lágrimas para fertilizar as sementes de belas flores”
O Louco, que também é Ermitão, não cessava sua caminhada, tantos já havia encontrado e com tantos já havia dialogado, sempre como mestre dos que lhe pedia um tempo de atenção; poucos perguntaram de fato os segredos de seu coração, mas cada ser é feito de uma duvida, cada ser é guiado por uma emoção; o próximo encontro do Louco seria com quem trás nas mãos o coração, gosta de analisar suas batidas e seus desejos, vive em experiência com a vida, é uma Gêmea em busca de seu Gêmeo, em busca de seu par perfeito, mas por ser cupido, pode amar a todos de uma vez, e não esquecer do mundo em honra de um ser querido apenas, pois todos lhe são queridos... E foi a margem de um lago, onde o louco parou para beber dele um gole, que ele encontrou a Enamorada.
- Como andas tu, amigo?
O Louco respondeu sem mesuras a jovial pergunta, já não fazia questão de guardar pra si a marca de seu espírito...
- Bom ver-te, “cara mia”, não estou bem, mas essa é a lei de minha vida...
A enamorada ajeitou-se na grama macia a beira do rio, sorrindo convidou o amigo a se sentar, convite que ele não recusou, pois havia caminhado longos dias sem um segundo de descanso.
-Eu também estou triste, lembro de nossas ultimas conversas, estou um tanto desanimada com a humanidade, é triste que precisem sofrer para serem nobres...
O Louco olhou a amiga e disse com carinho:
- Que bom que identifica sua tristeza, muitos a sentem, mas não sabem de onde vem, e nem os motivos de senti-la, não imaginam que sofrem de insatisfação espiritual, e que suas almas clamam por mudanças, clamor que o cérebro não sabe interpretar, por isso o mal dessa nossa era de ouro é a depressão...
A Enamorada olhou profundamente nos olhos do amigo e viu a tristeza dançando como lúgubre bailarina em seu olhar.
- Amigo, tens depressão?
Ou consegues conter tua tristeza em favor daqueles a quem tu amas?
Lembro-me que me dizias que nascemos e morremos sozinhos... Mas não acha cruel estar só?
Com todo seu arrebatamento e furor em amar, a Enamorada não concebia com clareza o frio da solidão de seu amigo, mas ela havia nascido forjada no fogo de beijos e abraços, nasceu para curar a paixão em seu mais dolorido estado e seu caminho seria de aprendizagem, o louco nasceu forjado pelo frio da solidão, pois seu caminho seria aprender a lidar com ela; cada homem deste mundo nasce com um sentimento humano a flor da pele, para que desse sentimento seja tirado o melhor.
Solicito o Louco responde a amiga:
- Todo homem sofre de tristeza e eu não sou diferente; sim, como humano que sou, tenho depressão, mas eu não a seguro, eu a uso, faço arte com minha dor, com ela observo o mundo- o Louco respira fundo e continua- Eu estou sempre triste, mesmo quando tudo está perfeito, mas acredito que não é por acaso e procuro com ela plantar o bem...Em meus poemas falo que verto meu sangue envenenado e dele é produzido um poderoso fármaco que cura. Pode parecer arrogância, mas é como se fosse eu um hospedeiro da tristeza, ela não faz a mim o mal que destrói os outros, a tristeza está comigo e como hospedeiro eu posso tanto contaminar quanto curar.
Abismada a Enamorada pergunta novamente:
- Sempre triste?
-Sempre, sempre e sempre; desde que nasci...
Ouve um breve silêncio entre os amigos, que logo foi interrompido pela moça, que com carinho dava um motivo a dor do Louco.
- Creio que tens uma missão, sabes disso; não sei como está hoje para ti, mas eu sempre percebi que traz para ti as dores dos outros, compreende?
- Sim, claro, isso também...
-Acho que por isso descansa tuas cartas no bolso, não mais mostra o futuro aos homens por não estar bem...
- Pois é cara amiga, por vezes preciso retirar-me para sozinho lamber minhas feridas...
A Enamorada talvez tenha compreendido, mas isso nunca saberemos, pois ela preferiu calar para deixar o amigo falar, quase nunca dizia sobre si, quase nunca aliviava o fardo de seu coração.
-Sabe os palhaços?
São mórbidos se analisados friamente, mas a liturgia é linda, pintam o rosto de cores de alegria, e fazem graças com a desgraça, e mesmo infelizes fazem o mundo rir!
Tudo com que meu olhos teve contato, todas minhas experiências carnais e espirituais me servem de apoio para os pensamentos...
Quando criança vi o Grande Palhaço e adotei sua filosofia.
O Louco sorriu recebendo de volta um lindo sorriso:
-Lindo, você não é como nós que vive momentos de tristeza, a sua é constante...
- Sim, mas nem por isso o mundo deve ser monocromático e mudo...
- Claro, usas tua tristeza para outras coisas.
- Minha amiga; muitas vezes me falas que sou em parte humano e em parte divino, isso somos todos nós, mas o que não sabe é que, como todos, minha parte humano sobrepuja o divino, sou inclinado a quedas...
Eu sou como um monge que professou, não por amor a Deus ou por vocação, mas para ter sua humanidade contida pelos muros do mosteiro e não errar tanto.
Um tanto mais séria a moça prossegue com a conversa:
-Eu compreendi, mas como fica suas crenças em relação sua tristeza, sim, acreditamos em Jesus e em forças superiores, mas como interagem suas crenças e sua dor?
O Louco consternou-se com a pergunta, falar de seus sentimentos nunca é fácil, mas a conversa já tinha ido longe o bastante, não fazia sentido fugir.
-Antes de ser qualquer coisa, sou artista, e eu acho que todo artista sofre de tristeza. Os dons artísticos, fazem do ser que os tem, sensível, sensível a tudo que permeia a atmosfera ao seu redor, no astral e no cósmico é como no físico a maioria se sobressai, e tratando-se de energia, nosso mundo se sobressai em tristezas de todos os tipos.
Mas há uma musica que diz: “Uma dor assim tão pungente, não há de ser inutilmente”
Eu entreguei minha arte para o impalpável que me visita, e através de minha arte poder inspirar a paz em uma única pessoa sequer, e há um ditado judeu que diz: “Salve um homem apenas e terá salvo toda humanidade”
Por isso escolhi escrever, por isso escolhi nascer para poucos, não quero ser de muito e nem quero fama, quero estar por trás das luzes da ribalta salvar, que seja um ser apenas, se eu puder... E acredito que tenho acertado
A Enamorada abraça o amigo e com voz sorridente fala:
- És dono da infelicidade mais colorida que conheço , tens o choro mais melodioso e cheio de paz que já ouvi!
O Louco retribui o abraço e saúda a Enamorada...
-Bem aventurada és tu, que não te abates com a tristeza, pois és filha da esperança, e que assim sejam todos os homens, artistas de seu mundo, palhaços de suas vidas, poetas , cantores, de seu palco particular, o melhor, mais puro e engraçado artista...