A Fábula do Futuro
Era uma vez um tempo em que tudo era bem mais verde. A gente perdia o olhar entre montanhas e florestas que se estendiam diante dos nossos rostos em várias tonalidades, do verde mais claro ao mais escuro, entremeadas de várias cores salpicadas nas copas. E havia muitos pássaros, e muitas abelhas, e muitos outros animais.
Quando chovia, era uma beleza só! A água descia do céu em doces e gordas gotas, lavando as folhas, os telhados das casas, as ruas, os rostos erguidos dos homens. Enchia rios, aumentava o volume das cascatas, e depois, gotejava das folhas e telhas mansamente, como lindos pendentes de cristal. Era uma beleza, estar dentro de casa, à janela, vendo a chuva que caía no jardim, formando pequeninas enxurradas entre os canteiros! Ah, e o doce perfume que ela deixava e entrava pelas janelas abertas nas noites de verão!...
Houve um tempo em que a gente apertava ou girava um botão, e lá estava ela, a água, descendo como pequenas cataratas das torneiras! Era gostoso regar o jardim e brincar com o arco-íris que aparecia quando as gotículas encontravam a luz do sol! Coisa melhor não havia do que encher um copo bem grande em dias de calor e deixá-la descer pela garganta, geladinha...
E havia as piscinas que eram cheias dela, em tons de azul variados, que brilhavam feito diamantes quando o sol batia... se alguém passasse de avião ou helicóptero, olhando para baixo, vislumbraria vários quadrados, losangos e circunferências azuis nos quintais das casas mais abastadas. Coisa linda de se ver, deliciosa de se usufruir.
As tardes de verão eram de pura magia! Após o calor, as nuvens se reuniam no céu, escuras e zangadas, e derramavam sobre a terra a sua bênção... e tudo ficava mais fresco, limpo, perfumado... lembro-me das tantas vezes em que eu fui lá para fora, e deitando no gramado de braços abertos, recebi-a em meu corpo calorento... sensação igual não há. E assim que as tempestades terminavam, era só olhar para cima e esperar um pouquinho para ver o céu da tarde transformar-se no pano de veludo mais lindo, que guardava estrelas quen retiniam de tão brilhantes na atmosfera limpa...
Houve um tempo em que as pessoas podiam sonhar com o futuro. As cidades eram cheias de lagos artificiais e fontes maravilhosas nas praças e parques. Como era bom, tão bom, passear entre elas!
Mas o mais simples de tudo, e o mais maravilhoso - e que as pessoas nunca valorizavam de verdade - era poder abrir uma torneira e tê-la à disposição para lavar, impar, cozinhar, banhar o corpo... uma coisa tão mágica, linda e preciosa, e tão desvalorizada...
Depois daqueles tempos mágicos, a ganância humana transformou-se em machados e motoserras que passavam derrubando todas as árvores e acabando com todas as florestas; no começo, ninguém deu muita importância; afinal, as pessoas precisavam de empregos, as casas precisavam de móveis e os homens de negócio precisavam negociar, custasse o que ciustasse. E as florestas eram imensidões inesgotáveis, recursos infalíveis de dinheiro e prosperidade para quem delas pudesse fazer uso. E as motoserras foram avançando mata adentro, deixando para trás campos e campos de pasto e queimadas negras e fétidas. As árvores e os animais foram rareando cada vez mais, e assim, as poucas nuvens que se formavam deixaram de chover...
Mesmo assim, as pessoas não deram importância, e continuaram a não enxergar o grito da Terra, que perdia seu bem mais precioso, a sua irmã água.
Logo, os rios e mananciais começaram a tornar-se cada vez menos volumosos. A água ia secando, deixando as margens mais largas e os rios mais estreitos. Era muita terra seca e rachada! As águas que saíam das torneiras começaram a rarear cada vez mais, e as pessoas passavam dias sem recebê-la em suas casas... até que ela secou completamente.
E o planeta expirou.
Acordei, e por um momento, pensei que tudo fora apenas um pesadelo!
Quando abri os olhos e olhei em volta, assustada, constatei que infelizmente... era real.