Tribunal da Consciência
imagine um homem que, ao acordar, se encontra em um Tribunal.
Na mesa do juiz, um processo com muitas páginas.
Sim; é o processo da sua vida.
De um lado, um feroz promotor de justiça, querendo sua condenação. Do outro, seu advogado, preparando sua defesa.
Ele, no banco dos réus, ouvia, de cabeça baixa, as acusações. Umas, ele desconhecia, outras, ele conhecia muito bem; e ainda outras, que ele pensou estar fazendo o bem; não tinha consciência de que seriam atribuídas como crime.
O que mais pesava em suas acusações eram:
1) Sobre o amor;
2) Exploração;
3) Humilhação;
4) Reconhecimento.
_Aquele que explora, que humilha, e não reconhece um verdadeiro amor deve ser punido, disse o promotor.
Ao que respondeu o advogado:
_ Não tinha noção o réu de que fazia mal tão grande assim.
_ Por que não se preocupou em enxergar o sofrimento daqueles que dormiam ao seu lado?!
_ A ignorância é um veneno que causa cegueira. Mas o ódio é enfermidade, cujo réu não padece.
_ A ignorância não é motivo para absolvê-lo. Pelo contrário, corrobora as acusações. A amizade, o trabalho e tudo o mais que ele fez, teve o vício do orgulho.
_ Sentir orgulho de si é um crime?
_ Em linhas gerais, não. Mas se esse orgulho o impulsiona a humilhar os demais, desperta-lhe o sentimento de exploração e não lhe permite reconhecer o quanto as pessoas à sua volta contribuem para seu sucesso; esse orgulho se torna um veneno cruel, enraizado no seu âmago. É difícil se livrar.
_ O réu consente e deseja não mais errar. Mas tem o direito de saber sobre o que é julgado e qual a sua pena.
Nesse momento, falou o juiz:
_ A pena não tem o condão de avalisar a vingança. Esta, o deixará do mesmo jeito, isto é, ainda em estado de ignorância, e, consequentemente, cometeria outros crimes. Para o bem de todos, a pena deve transformá-lo em uma pessoa melhor. Para tanto, a pena deverá ser educativa. Ele precisa se reeducar. O que proponho é que vivencie a dor que provocastes em seus semelhantes. Assim, terás a consciência de como se sentiram as pessoas que machucastes.
Ao que o réu indagou:
_ Meritíssimo; são muitas as faltas que pesam sobre mim. Isso levaria quase uma eternidade. Por favor, rogo por uma data limite para o fim do meu martírio.
O juiz apenas respondeu:
_ Por sua pena ter caráter meramente educativo, não lhe imponho uma data limite. Basta que se eduque e se recupere do orgulho e da vaidade que lhe fizeram humilhar, explorar e desvalorizar teu semelhante. Assimilando o aprendizado, estarás livre de todas as acusações.
_ Então em qual escola deverei estudar para receber essas lições?
Nesse momento, o despertador tocou; ele acordou desse longo sonho e partiu para mais um dia de vida.