Eclipsis

O dia estava ensolarado, nenhuma nuvem ocupava o céu, o mar estava calmo e os pássaros cantavam com uma harmonia impecável.

Nas planícies gazelas bailavam próximas às garras da morte; presas das leoas e guepardos. As flores constituíam mosaicos nos campos e abelhas e beija flores se banqueteavam livremente.

Mas eu estava triste e solitário. Flagrei-me invejando aquelas criaturas pequeninas da Terra, então resolvi parar de olhá-las, me virei e caminhei para oeste em busca de algo. O que seria? Não sei, mas algo me atrai com um magnetismo inexpugnável. Algo me puxa e me chama, implora e sussurra para que eu siga o meu instinto.

E é isso que faço, mas não consigo me apressar, pois essa força me controla desde a aurora dos tempos, desde meu nascimento e irá me controlar até a hora de minha morte.

Ao passar das horas vou tendo um vislumbre do que me chama, da fonte daquele magnetismo cruel que me tortura há milênios. A luz prateada que emana daquele ser glorioso e belo me atrai de uma forma irreversível. Nada pode me conter agora, nada me impedirá de alcançar o meu amor... Sim, essa é a palavra... Amor.

Minha aura flavescente e tempestuosa pulsa com a aproximação de nossos corpos, assim como a aura argêntea e gélida daquele ser pequeno, frágil e solitário... Solitário como eu.

Forço-me a acelerar, mas não consigo, sou obrigado a aguardar a boa vontade do destino.

O momento se aproxima enquanto dou uma espiadela na Terra e percebo a sombra crescente se formando por todo o planeta e quando me virei para observar o ser prateado, ele já estava na minha frente, tapando a minha visão do universo, me obrigando a sentir o pulsar daquela aura friorenta porém aconchegante, mas quando tentei tocá-lo não consegui, fui impedido imediatamente e essa foi a pior tortura arquitetada pelo destino, pois ele nos aproximou tanto, apenas para no final não podermos nos tocar.

E assim atravessei a Terra chegando à oeste e perdendo meu amor de vista por muitos e muitos anos. Esse é o meu destino, sempre e sempre. Preso em um ciclo repetitivo até o fim dos tempos.