A Borboleta

Ela ainda estava perdida. Talvez, não perdida por completo. Só não sabia o rumo certo que deveria seguir. Não sabia que quando as coisas começavam a mudar por fora, precisaríamos mudar dentro da gente também. Ela não fazia disso um problema, mas a primeira vista não sabia lidar com ele. E para se esconder das mudanças, se trancou em um casulo que construiu com muito pesar e solidão.

Durante um tempo ela ficou dentro do seu casulo. Acompanhando no escuro as mudanças acontecendo em si (sem se ver), e por causa dele (do casulo) não acompanhou as mudanças do lado de fora.

A pobre lagarta não sabia de tudo o que era capaz. E, por isso, não se permitia mudar, não queria mudar, preferia não mudar. A mudança, para ela, era como um veneno mortal.

Mas acontece que a mudança é inevitável e aos poucos ela foi mudando... Não se aceitando. Embora ainda não tivesse visto o resultado dessa mudança. E mesmo mudada, ela preferiu ficar em seu casulo. Não só por medo do que era agora. Mas por medo de como seria vista pelos outros.

O que ela não esperava era que o casulo fosse se romper sozinho. Sem aviso ou a contagem regressiva até o ‘JÁ!’. Quando ela menos espera, e menos ainda queria, estava exposta para o mundo, não como uma lagarta, mas como uma borboleta. Ainda não se visse assim, e caso se visse, não se reconheceria. Por um momento ela ficou parada, imóvel, olhando as outras borboletas darem voos rasantes em plantas, pessoas e nos lagos ao seu redor. Ela desejou ser invisível. E, por um breve instante, foi.

Como fazer suas asas baterem? Como não cair? Teria de aprender sozinha...

Suas asas tremiam descoordenadas incessantemente. E por alguns dias ela não as moveu... Tempo depois, como que num ato de coragem que lhe valeria a vida, ela toma o controle e bate suas asas loucamente! Sentiu a liberdade, quando desencostou do chão, mas o medo novamente a possuiu e a fez cair... Caiu perto de uma poça d’água e pode, finalmente, ver quem agora era. Não gostou do que viu. Não gostou das cores. Não gostou das asas. Não gostou do tamanho delas. Não gostou do que achou que não poderia fazer ou ser.

Então, ali permaneceu. Refletindo sobre a vida e as coisas que já não poderia mais voltar a ser...

Aos poucos ela foi batendo suas asas. Ainda sentia o medo! Porém, a vontade de ser mais do achava que poderia ser, a vontade de alcançar todos os lugares aonde disseram que ela não chegaria, a vontade de voar por sobre as árvores era maior do que todos os medos que tinha naquele momento... Ainda sentia o medo! Porém, a vontade de vencer era maior do que a vontade de simplesmente existir. E enquanto ela ia batendo suas asas a felicidade tomava conta do seu pequeno corpo. O vento ia batendo em sua face e isso para ela bastava. Os sonhos iam surgindo e todos os que a olhavam sentiam inveja da felicidade sincera que podia ser sentido junto com o vento que nascia do bater de suas asas.

Cada voo era como se nascesse novamente! Em alguns momentos o medo era maior que a vontade, mas, ainda assim, ela não deixava de bater suas asas! Continua batendo até hoje! Mesmo sem saber de tudo o que é capaz, mesmo sem saber o quanto é bela, mesmo sem saber que ainda pode, mesmo sem saber que pode, um dia, deixar de ser borboleta e se tornar uma grande mulher.

E para ser sincero, ela que ainda não percebeu... Mas há muito tempo ela já deixou de ser Borboleta e se tornou Mulher. Mas esse não é o problema. Ela só está passando por todo o processo de reconhecimento novamente... O que podemos fazer então é esperar o momento em que ela nos surpreenderá quando cruzar primeiro a linha de chegada na “Corrida dos Sonhos Realizados”.

******** ** ****Conto escrito para uma nova amiga de infância Gabriela di Maio. Em uma conversa rápida e cheia de significados que vou guardar comigo para sempre Sempre! (que também contou com o grande Jovan, que também estará sempre em meu coração).