O REI VELHACO E O DRAGÃO FEITICEIRO
“ Pacta sunt servanta.”*
Houve uma vez uma terra devastada por uma longa seca. Com tantos anos sem chuva os rios secaram, as plantas morreram, as pessoas e os animais definharam de sede e fome. Tudo ia de mal a pior. Ninguém sabia mais o que fazer.
Um dia passou por lá um velho feiticeiro. Vendo a pobreza, o desespero e a angústia daquela gente, ele foi ao rei e lhe prometeu fazer a chuva cair de novo naquela terra
―Como? ― Perguntou, desconfiado, o rei.
―É fácil ― disse o feiticeiro. ―Vós não sabeis, mas na verdade, quem levou a chuva embora foi um dragão prateado que ficou muito zangado com o vosso comportamento em relação aos répteis que existem em vossa terra. Sabeis que cobras, lagartos, jacarés, salamandras, pertencem todos á família dos dragões. E vós os matais sempre que os encontrais, por isso o Grande Dragão prateado, que é o rei dessa espécie de animais, ficou aborrecido convosco e levou a chuva embora.
―E como ele pode fazer isso? ― perguntou o rei.
―Ele é, na verdade, um poderoso mago que controla as forças da natureza ― disse o velho feiticeiro. - Guarda as chaves das comportas do céu e manda no tempo.
―E o que devemos fazer? – perguntou o rei.
―Eu posso trazer a chuva de volta, Majestade, mas antes deveis vos comprometer a me pagar duzentas moedas de ouro por esse resultado ― disse o feiticeiro.
―Pagarei o que for preciso, se fizerdes chover de novo no meu reino – disse o rei. ― Mas como fareis isso?
―Usarei a minha mágica para aprisionar os espíritos de todos os répteis da terra dentro da minha sacola ― disse o feiticeiro. ― Depois negociarei a liberdade deles com o rei dos dragões ― aquele dragão prateado do qual vos falei ― e ele abrirá as comportas do céu.
O rei ficou meio desconfiado, mas acedeu. Afinal, o que perderia se não desse certo? Não custava tentar.
Assim fez o feiticeiro. Abriu a sua sacola, cantou mantras, recitou encantamentos e rabiscou na terra signos e símbolos estranhos e misteriosos. Depois fechou a sacola e tornou a recitar, a cantar, a dançar e a rabiscar incompreensíveis garatujas no chão.
Depois abriu a sacola novamente e o céu se encheu de carregadas nuvens negras. Relâmpagos espoucaram por todos os lados e não demorou muito, uma copiosa chuva desabou sobre o país inteiro. Choveu por muitos dias e os rios voltaram a correr em seus leitos, as plantas começaram a brotar na terra, as pessoas a replantar suas lavouras, e a vida voltou a sorrir para todos.
Então o feiticeiro voltou ao palácio para cobrar do rei o seu pagamento.
― Majestade, vós me deveis duzentas moedas de ouro ― disse o feiticeiro.
― O que? ―, respondeu o rei. ―Duzentas moedas por um truque de mágica? Quem garante que foram os vossos encantamentos que trouxeram a chuva de volta e não a própria natureza que resolveu abençoar novamente a nossa terra? Podeis provar que foi a vossa mágica a responsável por esse resultado? ― perguntou, sarcasticamente, o monarca.
― Quando estáveis necessitados não pedistes nenhuma prova do meu poder ― disse o feiticeiro. Por que agora, que tendes o que pedistes, estais a exigir tal prova como obrigação para que eu possa receber o que me deveis? ― respondeu o feiticeiro.
―Não quero ser logrado ― respondeu o rei ― pagando tão caro por uma farsa.
―Que vos importa como as coisas acontecem, se elas acontecem conforme a vossa necessidade? ― Acaso não recebestes o que contratastes?
―Sim, mas eu quero saber pelo que estou pagando ― insistiu o rei.
―Então não me pagareis se eu não vos der essa prova?
―Não ― respondeu o rei.
― Se não cumpris vossa palavra, então não mereceis o resultado ― disse o feiticeiro. ― As árvores não perguntam de onde, nem de quem, nem como vem a chuva ou o sol que as alimenta. E, no entanto, pagam pontualmente os frutos que devem. A terra não sabe quem lhe dá a água que a nutre, e nem por isso sonega a parte que lhe cabe pagar. Mares e rios não se importam em saber de onde vem e como são produzidas as fontes que os alimentam; mas nunca negam o alimento para a vida que neles se hospeda. Se vós entendeis que saber por que pagais é mais importante que o bem que recebestes, ficai com a vossa sabedoria. Tentai sobreviver com ela. O que fiz posso muito bem desfazer.
Então o feiticeiro transformou-se num grande dragão prateado e voou, desaparecendo no céu já sem nuvens.
E nunca mais choveu naquela terra.
Os pactos devem ser cumpridos. Nascer e viver num ambiente natural favoravel é um pacto que fazemos entre nós e a natureza. Estamos vivendo um periodo de catastrofes naturais. Será que estamos cumprindo a nossa parte com a natureza?
“ Pacta sunt servanta.”*
Houve uma vez uma terra devastada por uma longa seca. Com tantos anos sem chuva os rios secaram, as plantas morreram, as pessoas e os animais definharam de sede e fome. Tudo ia de mal a pior. Ninguém sabia mais o que fazer.
Um dia passou por lá um velho feiticeiro. Vendo a pobreza, o desespero e a angústia daquela gente, ele foi ao rei e lhe prometeu fazer a chuva cair de novo naquela terra
―Como? ― Perguntou, desconfiado, o rei.
―É fácil ― disse o feiticeiro. ―Vós não sabeis, mas na verdade, quem levou a chuva embora foi um dragão prateado que ficou muito zangado com o vosso comportamento em relação aos répteis que existem em vossa terra. Sabeis que cobras, lagartos, jacarés, salamandras, pertencem todos á família dos dragões. E vós os matais sempre que os encontrais, por isso o Grande Dragão prateado, que é o rei dessa espécie de animais, ficou aborrecido convosco e levou a chuva embora.
―E como ele pode fazer isso? ― perguntou o rei.
―Ele é, na verdade, um poderoso mago que controla as forças da natureza ― disse o velho feiticeiro. - Guarda as chaves das comportas do céu e manda no tempo.
―E o que devemos fazer? – perguntou o rei.
―Eu posso trazer a chuva de volta, Majestade, mas antes deveis vos comprometer a me pagar duzentas moedas de ouro por esse resultado ― disse o feiticeiro.
―Pagarei o que for preciso, se fizerdes chover de novo no meu reino – disse o rei. ― Mas como fareis isso?
―Usarei a minha mágica para aprisionar os espíritos de todos os répteis da terra dentro da minha sacola ― disse o feiticeiro. ― Depois negociarei a liberdade deles com o rei dos dragões ― aquele dragão prateado do qual vos falei ― e ele abrirá as comportas do céu.
O rei ficou meio desconfiado, mas acedeu. Afinal, o que perderia se não desse certo? Não custava tentar.
Assim fez o feiticeiro. Abriu a sua sacola, cantou mantras, recitou encantamentos e rabiscou na terra signos e símbolos estranhos e misteriosos. Depois fechou a sacola e tornou a recitar, a cantar, a dançar e a rabiscar incompreensíveis garatujas no chão.
Depois abriu a sacola novamente e o céu se encheu de carregadas nuvens negras. Relâmpagos espoucaram por todos os lados e não demorou muito, uma copiosa chuva desabou sobre o país inteiro. Choveu por muitos dias e os rios voltaram a correr em seus leitos, as plantas começaram a brotar na terra, as pessoas a replantar suas lavouras, e a vida voltou a sorrir para todos.
Então o feiticeiro voltou ao palácio para cobrar do rei o seu pagamento.
― Majestade, vós me deveis duzentas moedas de ouro ― disse o feiticeiro.
― O que? ―, respondeu o rei. ―Duzentas moedas por um truque de mágica? Quem garante que foram os vossos encantamentos que trouxeram a chuva de volta e não a própria natureza que resolveu abençoar novamente a nossa terra? Podeis provar que foi a vossa mágica a responsável por esse resultado? ― perguntou, sarcasticamente, o monarca.
― Quando estáveis necessitados não pedistes nenhuma prova do meu poder ― disse o feiticeiro. Por que agora, que tendes o que pedistes, estais a exigir tal prova como obrigação para que eu possa receber o que me deveis? ― respondeu o feiticeiro.
―Não quero ser logrado ― respondeu o rei ― pagando tão caro por uma farsa.
―Que vos importa como as coisas acontecem, se elas acontecem conforme a vossa necessidade? ― Acaso não recebestes o que contratastes?
―Sim, mas eu quero saber pelo que estou pagando ― insistiu o rei.
―Então não me pagareis se eu não vos der essa prova?
―Não ― respondeu o rei.
― Se não cumpris vossa palavra, então não mereceis o resultado ― disse o feiticeiro. ― As árvores não perguntam de onde, nem de quem, nem como vem a chuva ou o sol que as alimenta. E, no entanto, pagam pontualmente os frutos que devem. A terra não sabe quem lhe dá a água que a nutre, e nem por isso sonega a parte que lhe cabe pagar. Mares e rios não se importam em saber de onde vem e como são produzidas as fontes que os alimentam; mas nunca negam o alimento para a vida que neles se hospeda. Se vós entendeis que saber por que pagais é mais importante que o bem que recebestes, ficai com a vossa sabedoria. Tentai sobreviver com ela. O que fiz posso muito bem desfazer.
Então o feiticeiro transformou-se num grande dragão prateado e voou, desaparecendo no céu já sem nuvens.
E nunca mais choveu naquela terra.
Os pactos devem ser cumpridos. Nascer e viver num ambiente natural favoravel é um pacto que fazemos entre nós e a natureza. Estamos vivendo um periodo de catastrofes naturais. Será que estamos cumprindo a nossa parte com a natureza?