debaixo da cama.. monstros?

Era Natal de 2013, e a pequena Camilly estava deitada em sua cama, esperando o sono chegar. Havia aberto os seus presentes pela manhã, mas não se entusiasmara o suficiente para querer brincar madrugada à dentro. A luz do seu quarto ainda estava acesa, e ela sabia que daqui a pouco seus pais viriam apagá-la. A partir daí, ela com certeza não conseguiria dormir.

A menina de onze anos olhava para a lâmpada, e queria dormir o mais rápido possível, antes que a escuridão tomasse o seu quarto inteiro. A pequena ainda tinha medo de escuro. Mas Camilly acordara tarde naquele dia, e a real vontade de dormir ainda não havia chegado de verdade.

Como esperado, a porta do seu quarto se abriu, e sua mãe, Ronnie, entrou. Era uma mulher jovem, cabelos pretos e olhos castanhos como os da filha. Desejou-lhe boa noite e apagou a luz. Antes de fechar a porta, ouviu a Camilly chamar “ô mãe”.

-Sim.

-Não apaga não.

-Cam, já conversamos sobre isso.

-Mas eu não gosto de dormir no escuro, não consigo.

-Camilly, você já é grandinha pra dormir com a luz acesa.

-É mamãe, também sou grandinha pra escolher se quero dormir com a luz do meu quarto acesa ou não.

-Camilly.

-Oi.

-Não vou mais falar sobre isso. Já falei que não há nada de errado com o escuro.

-Embaixo da minha cama.

-Querida, não há nada embaixo da sua cama.

-Todas as noites tem algo embaixo da minha cama, já falei.

-Não tenho mais tempo pra isso ok. Vou dormir e espero que você faça o mesmo.

E mais uma vez a mãe saiu do quarto sem dar atenção ao que a Camilly lhe dizia. A menina voltou a olhar para a lâmpada, agora apagada, e contava os segundos para...

Aconteceu.

Debaixo da sua cama surgiu uma luz esverdeada. Como sempre, a menina ficou assustada demais para olhar o que era. E assim como todas as noites, a luz tornava-se cada vez mais intensa, fazendo lágrimas de medo escorrerem pelos olhos da menina.

Ela olhou em volta, quase todo o seu quarto estava iluminado pelo estranho brilho, que como acontecia exatamente todas as noites, com o tempo, começava a concentrar-se em um ponto especifico: a janela.

Camilly olhava para a janela, com medo, chorando, e não sabia o que fazer.

Mas algo a atingiu, nessa noite em particular. Será o espirito do natal? Seja qual fosse a razão, o coração da menina encheu-se de coragem, embora as lágrimas ainda escorressem, um pouco mais devagar, talvez.

Ela tirou as cobertas e, com um pouco de receio, colocou os pés para fora da cama. Fechou os olhos num susto, esperando que algo a atacasse, mas nada aconteceu. Sendo assim, encostou os seus dedos no piso frio. Novamente, nada demais aconteceu. Agora a menina pisou firme no chão e se levantou.

Ajoelhou-se e baixou a cabeça para ver embaixo de sua cama. A luz brilhou um pouco mais intensa, era um verde bem bonito. De traz da luz, saiu um filhote de leão. Era pequeno de verdade, pouco maior que um gato. Isso não assustou a Camilly. O animal se aproximou e olhou nos olhos da garota. Ela acariciou atrás das orelhas do pequeno leão, que se pronunciou “boa noite Camilly”.

Ela o olhou admirada, mas algo nele não a deixou sentir medo.

-Oi.

-Há alguns meses eu fico aqui embaixo da sua cama esperando que viesse falar comigo.

-A luz verde era você?

-Sim.

-De onde você veio?

-De Kourágio.

-Kourágio?

-Sim. Debaixo da sua cama, e da cama de tantas outras crianças, existe o mundo de Kourágio. Não são monstros que ficam aí embaixo. Eu, um leão, represento a coragem.

-Sério?

-Sim. Você, Camilly, teve coragem de olhar aqui embaixo, mesmo com medo. Eu quero lhe mostrar uma coisa.

-O quê?

-Siga a luz.

A pequena Cam voltou a olhar embaixo da cama, de onde vinha o intenso brilho verde, depois olhou para o outro lado, até onde ele ia: sua janela. Ela se levantou e o seguiu.

-Agora abra a janela.

E assim ela fez. “agora, Cam, coloque a cabeça para fora, e olhe para cima”.

-Qual o seu nome?

-Ogaiht.

Ela apenas acenou com a cabeça para o leão, Ogaiht, e pôs sua cabeça para fora da janela, e olhou para o céu.

-O que você vê?

-O céu.

-O que mais?

-As estrelas.

-E você conseguiria vê-las se estivesse de dia?

-Não.

-E você gosta das estrelas Camilly?

-Sim, eu gosto.

-Então, cheguei ao fim da minha tarefa.

Cam voltou sua cabeça para dentro do quarto, e olhou confusa para Ogaiht.

-Não entendi.

-Vim lhe mostrar que você não precisa ter medo do escuro Camilly. Você criou coragem e percebeu que há coisas lindas o bastante, e que só podem ser admiradas no escuro, as estrelas são só um exemplo. O que eu, e todos os seres de Kourágio mostramos é que não precisamos ter medo da escuridão. Não é por que você não enxerga completamente, que deve temer o desconhecido. Há belezas escondidas por todos os lugares, e só é necessário coragem para poder admirá-la.

Raissa Efrem
Enviado por Raissa Efrem em 18/12/2013
Reeditado em 18/12/2013
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