O VALOR DE CADA SER...

 

Certa ocasião brigaram entre si o caderno, o lápis e a borracha. Por vaidades, cortaram os três a relação de uma amizade de longas histórias. O caderno acreditava ser o mais importante, pois sem ele, não haveria lugar para registrar os fatos. Já o lápis se dizia o mais inteligente, era dele que saíam as palavras em série. Com elas podia construir contos, casos, poemas, versos, e tudo mais que as letras sabiam bem criar. A borracha dizia ser a mais forte do trio. Era ela que, com energia e decisão, apagava os erros e garantia o acerto dos pensamentos. Sem ela haveria rasuras e desperdícios. Decidiu que apagaria de sua vida a amizade do caderno e do lápis. E foi assim que cada um seguiu por caminhos distintos. O caderno, o lápis e a borracha.

 

Não demorou muito para o caderno sentir o vazio em suas linhas. Demorou menos ainda para reconhecer o que seria dele sem o lápis preenchendo-lhe as páginas com palavras ora de amor, ora de esperança, ora de lamentos, ora de alegrias, ora de dor e que juntas, enchiam-no de vida! Finalmente entendeu que não era imprescindível.

 

E lá em outro canto, onde encostado resolvera ficar, o lápis também certificou que valor suas palavras teriam se não houvesse uma companhia onde pudesse preencher o que cabia em si. Não poder partilhar a riqueza de ideias é egoísmo, além de grande desperdício! Sentiu dentro em si que deixando de fazer o bem por orgulho causava-lhe o vazio na alma. Ele também se sentiu imprestável sozinho.

 

Dentro da gaveta, a borracha achou que nada era mais sem propósito que se sentir inútil. De que lhe adiantava tanta força e poder se não estava a serviço de ninguém? Lembrou-se da satisfação que via na face do amigo lápis quando apagava algum engano de suas ideias, dando-lhe a chance de recomeços. Lembrou também da alegria do caderno em ver sem rasuras as suas páginas. A borracha nunca se sentira tão desoladamente apagada...

 

Depois de toda essa reflexão, tanto o caderno quanto o lápis e a borracha aprenderam seus valores e a respeitar uns aos outros. Viram que todos tinham a mesma medida e importância. Os amigos reconheceram o talento peculiar de cada um, respeitando e reconhecendo que todos precisam doar o que melhor têm em si. E nunca supervalorizar suas habilidades para não ofuscar o dom inerente de cada ser.

 

Cada vida neste mundo é um caderno. O destino oferece a cada pessoa um lápis. Esse lápis é a sabedoria que capacita a construção de uma bonita história de vida. O lápis deve ser usado para o bem próprio e do nosso próximo. Nunca devemos usá-lo para a nossa vaidade ou para a promoção dos nossos talentos nem para nos colocarmos acima dos semelhantes. Além do caderno - que é a vida -, foi nos ofertado a borracha. O seu uso, no entanto, serve exclusivamente para conceder o perdão. A única vez que podemos usar a borracha é para apagar as mágoas do coração. É quando o perdão concedido ou recebido limpa nossa vida da sujeira que entra com o rancor e as mágoas. A borracha não serve para apagar erros, dores ou qualquer outra coisa senão para conceder o perdão. Porque os erros nos fazem tirar boas lições e a corrigirmos futuras falhas. O dor nos faz mais forte, com ela aprendemos a superar momentos ruins. Seja um caderno que se permite escrever muitas boas histórias. Seja um lápis que preenche tantas vidas com palavras de amor e esperança com peculiar sabedoria. E exagere no uso da borracha para apagar mágoas e conceder o perdão.