A Barata e a Borboleta.

Após a passagem assustadora que viveu a barata, lutando bravamente pela sobrevivência dela, utilizando sua rapidez, habilidade e resistência, conseguindo ludibriar a dona da casa que a perseguia com um chinelo. O ortóptero veio falar com a borboleta, muito esbaforida e assustada, procurando recuperar-se do revés que havia sofrido.

- Tá vendo como é? Estávamos as duas em cima da mesa e quem foi perseguida cruelmente – perguntou peremptoriamente com lágrimas que saíam dos olhos.

- Mas, dona Barata, foi apenas uma coincidência! Uma contingência do destino, não fique assim! – contemporizou borboleta, oferecendo um lenço para a amiga, a fim de que esta pudesse enxugar as lágrimas de um pranto incontido e revoltado.

- Contingência, uma ova! Ela queria me matar, exterminar-me como um ser abjeto e vil – retrucou a barata, alimentando um ódio surdo incisivo em relação à dona da casa.

- Que é isso, dona Barata! Tal sentimento só a prejudica, a consome como uma brasa ao cigarro. No final vira bituca e vai para o lixo – disse a borboleta, penalizada com estado de nervos de sua companheira.

- Mas é lá que convivo! Com tudo que há de imundo e sujo... Sem ter o direito de sair de lá! E quando acontece; colegas minhas são recolhidas para servirem a pesquisadores, que lhes dão garapa, maçã, banana; e para servir de comida para sapos e outros predadores naturais de nossa espécie – redarguiu a barata, dando às suas palavras um tom triste e melancólico, parecendo até mesmo depressivo e angustiado para a borboleta, que calmamente retrucou.

- Olhe, dona Barata, a senhora tem que parar com isso! Não fique assim, não! Quer ouvir a minha história? Quem sabe assim, a senhora reaja a essa situação desfavorável – buscou com essas palavras fazer com que a amiga saísse daquele estado deplorável.

Começou contando sobre o sacrifício que enfrentou no começo da vida como larva, indefesa, e sujeita à gula de seus predadores naturais, entre eles o sapo e os passarinhos das mais diversas espécies. Disse o lepidóptero ter sido como a barata, um ovo e, depois um ser feio e esquálido, comedor de folhas. Por isso havia sido perseguida nas plantações, onde os agricultores despejavam litros e litros de detensivos agrícolas para eliminá-la. Com o tempo livrou-se daquela condição e passou a crisálida, ainda com um envoltório do qual se livrou para, finalmente, se transformar na bela e tão invejada condição de borboleta, um imago adulto. E continuou.

- Mesmo assim, minha cara amiga, tenho uma vida efêmera, em relação a você, tão resistente e longeva – concluiu o discurso entre o olhar atencioso, mas atônito da barata, que não via sentido nas palavras da borboleta. Seu ciclo da vida fora completamente diferente. Já nascera barata e só fizera trocar sua casca à medida que fora crescendo, por isso, achava incomum o que a borboleta lhe dizia com tanto orgulho e entusiasmo.

- Vamos, minha filha! Você tem que ter fé! - e finalizou seu discurso empolgado, buscando animar a barata.

Desta vez, pela visão privilegiada de que dispunha, ao perceber a nova aproximação da dona da casa foi para o lixo, seu refúgio natural. Lá captou várias bactérias conhecidas suas e, aproveitando um vacilo da dona da casa, que deixou a panela aberta, impregnou a comida com aquelas. Eram patogênicas provocaram uma contaminação nos membros da família, que, devido a um desarranjo intestinal, foram levados para o hospital da cidade em estado grave.

MORAL: Um povo sem esperança, por mais que tenha fé, nunca sairá da ignorância.

Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 26/07/2013
Código do texto: T4404955
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