A AMIGA DA ONÇA - PARTE I

Por ter hábitos noturnos e crepusculares a raposa saiu em busca de alguma presa para o jantar. Como o seu cardápio é oportunista seria muita sorte se encontrasse pelo caminho algum roedor. Distraída, não percebeu o buraco enorme à sua frente e caiu. Ficou desesperada. Saltou, regougou inúmeras vezes. Sentiu-se vencida pela canseira, fome e sede.
Não desistiu, mais uma vez olhou para o alto quando notou um vulto à beira do buraco. O que ela viu foi a parente mais próxima dos ratos, coelhos e preás. Pela luz do luar a raposa viu o brilho dos lindos dentes da capivara.
Solidária com a situação da raposa, o maior roedor do mundo perguntou:
_ Hei raposa, se eu te ajudar a sair do buraco, promete que não vai me atacar depois que estiver livre?
A raposa respondeu:
_ Não tenho nem palavras se fizer isso por mim, tenha certeza que serei a sua melhor amiga. Mas como você fará?
_ Tive uma ideia, não se preocupe, serei rápida porque sou muito boa no que faço.
Como a sua especialidade era roer, a capivara não perdeu tempo. Foi numa árvore próxima e começou a roer para que a árvore na sua queda caísse na direção do buraco. E assim foi. A raposa se agarrou nos galhos e com dificuldade conseguiu
sair do buraco. A capivara ficou numa certa distância e sorriu. A raposa cansada e com olhos marejados, moveu a cabeça em sinal de agradecimento.
Em resposta, a capivara fez menção ao bom resultado alcançado se retirando... mas antes de partir ouviu:
_Hei, amiga...um momento. Aceita um jantar amanhã na minha toca que farei em sua homenagem? Não se preocupe, sei que você é uma herbívora, por excelência, que se alimenta de pastagens, capins em geral, raízes e peixes...
A capivara parou. Pensou, pensou e resolveu aceitar. Acreditava realmente na amizade que poderia crescer. O horário foi combinado e a capivara seguiu em direção ao rio. O lugar onde se escondia dos seus predadores, ficando submersa com o focinho fora d'água.

A capivara deixou o rio rumo à toca da raposa; imaginando um jantar apetitoso de vegetais, raízes, milho, mandioca, bananas verdes... Afinal ela havia tirado a raposa do buraco, salvando a sua vida. Não era comum amizades entre canídeos e hidroquerídeos, mas ela sentiu sinceridade no olhar de gratidão da raposa. Era crepúsculo da tarde e a capivara estava diante da toca da raposa na hora marcada.
A raposa saiu sorridente para recepcioná-la, dizendo que comentou com os vizinhos o ato de heroísmo que a sua nova amiga havia praticado. Afinal, solidariedade é tudo.
De repente, a capivara sentiu algo estranho, um bafo quente nas suas costas. Virou-se deparando com uma enorme onça pintada em posição de ataque. Esqueceu-se da amizade, do jantar e da raposa. Saiu numa disparada só em direção ao rio, nunca havia corrido tanto na sua vida.
A raposa lamentou-se pelo jantar perdido que ia dividir com a sua amiga onça. A onça decepcionada retrucou:
_Bem na hora que eu ia botar minhas poderosas mandíbulas diretamente na cervical...ela fugiu, que pena! Será que ela percebeu o meu bafo? O jeito é procurar uma jiboia ou sucuri... jararaca serve. Nossa, que fome! Você me acompanha à caça, amiga?

A capivara nunca mais foi vista por aqueles lados da floresta tropical. Dizem que ela fez um curso de alpinismo e foi habitar nas montanhas.

Moral da história:

Raposa é raposa, capivara é capivara e...onça é onça. Se você tem um amigo e descobre que ele é "amigo da onça". Você não precisa fazer um curso de alpinismo e habitar nas montanhas para se afastar dele.
Alberto SL
Enviado por Alberto SL em 07/07/2013
Reeditado em 07/07/2013
Código do texto: T4375708
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