Na Serra da Pirapora há muitos anos, quando se encontrava com facilidade o pássaro Boé, plumagem preta bico branco, tamanho diminuto, canto estridente, disposição e senso artístico para fazer o ninho no verão, após as águas de inverno, passou-se esta história.
            Nosso herói já se acasalara e preparava com afinco o ninho para a fêmea pudesse ter filhotes. A morada, com aproximadamente uns cinquenta centímetros de altura e formato de cone invertido – era tecida com pedaços de cipó, abundantes na mata e todos trançados cuidadosamente com bastante arte. Algo bonito de se ver e com  todo conforto para a ninhada que viria. Enquanto o pequeno pássaro tinha um trabalho danado, um corrupião vermelho observava a ação do pequenino Boé. A preocupação daquele era curtir a vida, imitando inteligentemente o canto de xexéus e lavandeiras da serra, enchendo o bucho com mangas, atas, bananas e goiabas, sem a mínima preocupação para fazer seu próprio ninho.
          Concluída a lida, numa tarde ensolarada, o  corrupião vermelho atacou de assalto o Boé.
          - Ei camarada este ninho é meu! Trata de dar o fora, rápido - disse ameaçadoramente.
          - Mas fui eu que fiz o ninho! – replicou humildemente o Boé.
          - Não quero saber, meu chapa! Já disse: dá o fora! Trata de pegar suas coisas e sair do que é meu.
          - Mas tenha pena, seu Corrupião, minha mulher está prenha. Quase no ponto de pôr – ainda tentou argumentar o pobre Boé.
          - Não quero saber de conversa! Vá embora, já disse! Ameaçou, peremptório, o corrupião.
          Diante da situação o Boé se retirou pacificamente, embora tivesse porte para enfrentar o rival. Só que o corrupião não contava que da mesma forma que ele espreitava o Boé, era observado por um cumurumim, admirado com a sua inteligência em imitar o canto de outros pássaros que vivem na mata. Ao ver o ninho ser tomado de assalto, planejou pegar o corrupião. Tentou de várias formas pegá-lo. Apelou para a arapuca e o alçapão sem sucesso. O danado do pássaro era inteligente, embora preguiçoso. Finalmente, o indiozinho observou que na goiabeira onde fora feito o ninho tomado de assalto amadureciam alguns frutos e lembrou-se de um truque infalível: o visgo. Aproveitou que a avezinha saiu do ninho e colocou uma gosma num galho próximo, quando o corrupião foi bicar uma goiaba madurinha ficou preso e, assim, pôde finalmente ser capturado. E passou o resto de seus dias cantado numa gaiola sua triste sina.
MORAL: Morada de ladrão, cedo ou tarde, acaba sendo a prisão.
Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 23/06/2013
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