Uma conversa entre a barata e a borboleta

Estavam a barata e a borboleta numa tapera no interior, num encontro casual, começaram a conversar.

- Olá, dona Barata, como vai a senhora? – cumprimentou-lhe a borboleta com suas belíssimas asas, que refletiam brilhantemente uma réstia de sol que entrava pela janela e batia em cheio na mesa rústica, cheia de códeas de pão e restos de cuscuz, leite e açúcar, deixados pelos donos da casa depois do desjejum.

A barata, que não perdia tempo, pois em breve eles voltariam, para limpar a sujeira, falou:

- Estou bem, mas ocupada – respondeu friamente ao cumprimento de lepidóptero.

- Posso saber o que a senhora está fazendo com tanta pressa? – indagou ingenuamente a borboleta, não percebendo que a barata lutava contra o tempo, procurando devorar o máximo possível de comida, antes de chegarem os donos da casa com um pé de chinelo ou uma lata de inseticida para exterminá-la.

- Não está vendo que estou comendo, ora bolas? Você tem cada pergunta! – retrucou impacientemente a barata, utilizando suas antenas para apreciar o cheiro das iguarias, antes de devorá-las sofregamente.

- Não fique zangada, não! Só lhe pergunto, porque acho estranho esse seu jeito, todo inquieto e sorrateiro; mal dispõe de tempo para apreciar a comida!... – disse calmamente a borboleta, esticando as asinhas delicadas e coloridas.

- Não tenho a sua folga! Aqui os donos da casa põem comida para você! Deixam banana ou, então, uma garapa para que se alimente...É bem vinda e todos apreciam sua beleza – disse a barata com um tom de inveja e pouco caso. E continuou seu discurso desdenhoso:

- Você tem tudo na vida! Não é como eu que sou a escória. Vivo a me esconder e tenho que me virar para sobreviver, contando apenas com minha agilidade e resistência... Onde me veem querem me matar, sem dó nem piedade, como um objeto imundo que deve ser eliminado.

- Mas você traz doenças, dona Barata! Disse a ela a borboleta, tentando aplacar a fúria surda que a barata dava às palavras que proferia.

- Quer o quê? Olhe onde me obrigam a ficar, no lixo, onde convivo com tudo que não presta. _ respondeu, indignada e já num tom ameaçador e furioso para com a borboleta. E prosseguiu seu discurso invejoso e cheio de rancor.

- Se eu fosse admirada como você, se me dessem a oportunidade de mostrar como sou útil à natureza, tudo seria diferente... Mas sou tratada com nojo a asco, sem a menor chance de me defender!... Prejudico, porque sou prejudicada! É olho por olho, dente por dente. - retrucou a barata, já querendo encerrar o assunto rispidamente.

- Mas que fazer se gostam de mim? Se me tratam com carinho e admiram minha beleza? Terei culpa de tal coisa? – indagou a borboleta num tom de conciliação que irritava a barata, querendo dizer que era tão vítima quanto ela.

Nesse instante apareceu a dona da casa e com um grito de asco partiu com a chinela para a barata, buscando interceptar-lhe o voo, a fim de abatê-la. A borboleta suavemente saiu voando e foi acomodar-se na janela, onde a esperava uma gota de mel, enquanto via a barata a custo e agilidade safar-se daquela situação.

MORAL: Sem oportunidade não se muda uma sociedade.

Moysés Severo
Enviado por Moysés Severo em 21/06/2013
Código do texto: T4351259
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