A formiga e a cigarra
Durante um belo dia ensolarado, houve um encontro casual entre a formiga e a cigarra próximo ao Castelo em Maranguape; a fim de saberem as novidades, elas pararam para conversar.
- Amiga, há quanto tempo não te vejo! Tá tudo bem? – disse amistosamente a laboriosa formiga, carregando uma folha om o triplo do tamanho dela e um peso descomunal para o porte diminuto da operária.
- Tudo, minha querida! – respondeu a cigarra, tanto extenuada pela cantoria da serra. Estou vendo que você, minha amiga, continua exercitando seus músculos potentes através do trabalho árduo e contínuo, como é natural da sua espécie.
- Oh, sim, amiga cigarra! Hoje terei de carregar mais de trezentos desses pedaços de galhos que já cortei e deixei empilhados, para depois levar para o formigueiro. E só paro, quando tudo estiver pronto. Se Deus quiser, vou conseguir – falou a formiga, dando um tom melancólico às últimas palavras.
- Que é isso, cara amiga! A natureza te dotou de tão potente para esse trabalho mesmo... Por que se queixar?!
- Ah, você é que pensa! Tenho força, mas cadê o reconhecimento?! Sou apenas mais uma operária, com hora para entrar no serviço e nem sequer saber quando ele acaba! Aliás, acabar ele não acaba nunca... O trabalho não me deixa, e será assim até o fim dos meus dias! – evidenciou a formiga, remexendo suas antenas e acomodando melhor o peso que conduzia.
A cigarra, impressionada com a afirmação da formiga, ficou surpresa com o que ouvia naquele momento; o que escutava da boca de quem via no trabalho contínuo, metódico e sistemático uma razão de vida, era de causar assombro. A cigarra lembrou o inverno em que lhe fora negado abrigo e alimento porque não havia trabalhado no verão, devido às turnês que fizera por todo canto da mata.
- Estou te estranhando! Você afinal não vai, com seu trabalho árduo e continuado, guardar o que precisa para o seu sustento no inverno? Não foi o que me disse quando procurei daquela vez a sua ajuda?
A formiga com muito suor no rosto e ainda tentando suster todo o peso que carregava, deu sua resposta.
- De que adianta trabalhar como um mouro, trabalhar tanto e não ter o reconhecimento dos demais? Antes ficar como você, cantando, tocando e alegrando a todos; aproveitando o que esta vida tão passageira oferece – retrucou a formiga num tom que demandava inveja em relação àquela com quem falava. E continuou:
- Amiga, esta é portanto a oportunidade que tenho de me desculpar! O tempo passa, a vida flui. Não é como o açude que apenas reserva água e dela na, absolutamente nada levamos. E te digo, sem reconhecimento é ainda pior. Ao completar a setença a formiga e a cigarra ouviram um ruído de pisadas, não de um homem mas de vários. Contudo, aquela parte era fechada: só podia ser chuva. E forte. Os dois insetos se alertaram e foram procurar abrigo.
- Meu Deus, onde vou pôr todo esse peso? – indagou a formiga, desalentada.
- Amiga! – chamou a cigarra – me acompanhe! Tenho um lugar ótimo para nos abrigarmos.
- Não! – disse, peremptória, a operária. Tenho o que fazer e não posso deixar. Vá, siga seu caminho e me deixe aqui com meu fardo.
- Mas, querida, seja razoável! – disse a cigarra, em vão tentando redarguir à formiga e , penalizada, com o esforço d a operária, que a custo se movia entre os pingos grossos da chuva.
- Vá-se embora! – retrucava a formiga – Vá despontar na natureza, levando seu canto consigo. Vá agradar aos que como eu foram condenados ao trabalho incessante.
- Tá bem! Você ganhou, mas espero que não se machuque e chegue em segurança ao seu formigueiro! – respondeu à ordem da operária.
A chuva veio, mas não pegou nenhuma das duas. A formiga chegou à sua morada e a cigarra se abrigou no buraco dum tronco de árvore. Lá compôs uma lindíssima melodia, a fim de celebrar aquele momento divino. Toda a mata aplaudiu.
MORAL: Quem tem uma estrela, com brilho que lhe é natural, não precisa se matar de trabalhar a fim de ser reconhecido.