Mariquinha uma florzinha diferente

Vivia ao lado de uma roseira, junta as suas irmãs, Mariquinha, uma florzinha que desde o dia em que sentiu em suas pétalas o calor do sol, quis olhar tudo o que estava ao seu redor e como que filosofando sobre tudo o que via, estava ela todo o dia, o dia todo fazendo perguntas a quem quer que fosse ou pudesse respondê-las, alimentando ainda mais sua curiosidade. Mariquinha pertencia a uma planta nativa de Madagascar, país africano situado em uma ilha do mesmo nome, também conhecida como boa-noite, se adaptou extremamente bem ao Brasil, pois é bem tolerante ao calor, seca, e alta umidade. Como ia dizendo, gostava de saber das coisas e do mundo que a cercava.

Certa manhã, ao perceber que suas companheiras não estavam muito interessadas em dar trela para seus questionamentos, ela avistou o chefe do terreiro chegando todo pomposo, era o galo, Sebastião, respeitado ou temido por sua soberania naquela redondeza. A visão que tinha dele era de um ser nobre, que podia oferecer algo além do que muitos podiam ver: medo e temor. Sabia que era belo, pois tinha penas coloridas, brilhantes, uma crista esplendorosa e aqueles espores enormes que só os galos reis tinham. Tudo isso é lógico, ela já sabia através das inúmeras respostas que obtinha ao longo de suas investidas. Mas deixemos de conversa e vamos logo ao ponto. Quando Mariquinha viu Sebastião próximo a sua morada não se fez de rogada e começou a puxar conversa no tom mais alto que pôde:

─ Seu Sebastião! O senhor sabe que é muito sábio não é? Podia me responder umas perguntinhas?

Sebastião como todo ser que gosta de elogio ou de reconhecimento por suas qualidades, ficou logo envaidecido com tamanho cumprimento, pois acreditava que o seu dever de dirigir aquele terreiro estava indo “de vento em polpa”. Mesmo assim, com ar imponente respondeu:

─ O que uma florzinha da sua espécie quer fazendo perguntas a um ser como eu? Não vê que sou maior que você e com uma bicada apenas poderia engoli-la inteirinha?!

− Sei que o senhor é poderoso e grande e, com todo respeito gostaria de aprender com o senhor, pois como sabe, não posso sair andando pelo terreiro, mas acredito que se tiver alguém que me ensine ou me diga como é, onde eu não posso ir, vou poder imaginar tudinho! E como o senhor sabe muito bem, pois é muito inteligente, não é todo mundo que sabe ensinar alguém.

O galo nesse momento esqueceu a superioridade ou se deixou levar pelas lembranças de quando era criança e ouvia seu avô falando nas reuniões do terreiro, que bom ensino é aquele que é aprendido com o coração questionador, porque quando você fala de algo interessante, o sujeito se envolve e quer aprender ainda mais, podendo assim, ser feliz com o que pôde aprender na sua experiência de vida criadora, levando em conta o que aprendeu e o que pode ensinar. Disse então Sebastião:

− Pergunte menina o que quiser!

− Por quê todos os dias, logo depois do senhor cantar, o sol vai aparecendo devagarinho e esquentando aos pouquinhos até ficar muito quente e depois vai se indo assim quase sem ninguém notar, até tudo começar no outro dia novamente?

─ São muitas perguntas menina, mas vamos começar pelo começo. Primeiro é bom lembrar que meu canto é para saudar o Rei que está lá em cima, pois é a sua luz que fornece a energia necessária para que tudo cresça e sobreviva ao nosso redor. Como uma coisa leva a outra, meu canto também desperta a todos, sabendo que um novo dia está surgindo. Você fez uma observação ao perguntar sobre os raios do sol nos diversos momentos do dia. E nisso temos mais um ensinamento que é de reconhecermos as diversas fases da vida, pois desde quando nascemos começamos a crescer e nos fortalecer até chegar ao momento que tudo que é vivo acaba tendo um dia que ir embora, cumprindo sua missão, porque tudo que existe foi criado para cumprir um determinado destino. Como pode vê quando se é jovem temos força, vigor e quando tudo vai envelhecendo vai perdendo o brilho até não emitir mais luz, eis a lição diária que nos dá o Rei dos reis.

E Mariquinha ia dia após dia ia aprendendo com as lições de vida, não dela mesma, mas das histórias contadas e guardadas, como o mais precioso e puro presente no coração.

Certo dia Sebastião foi chegando todo entusiasmado para contá-la novas aventuras ocorridas e necessárias de serem divulgadas para alguém de espírito tão altruísta, quando ao olhar para a morada de Mariquinha percebeu que só o vazio ali estava, pois como todos sabem flores de sua espécie não sobrevivem por longo tempo. Mariquinha partiu fisicamente, no entanto, aquela amizade, respeito nutrido, no percurso da vida daquele terreiro jamais foram esquecidos pelas gerações futuras, provando que a gratidão de partilhar algo, com alguém, pode acontecer em cada momento. Quando Sebastião narra, ainda pensa em sua tão atenciosa Mariquinha, que ficou para sempre no seu coração e na memória daqueles que amam aprender e a questionar o inquestionável, mais que um exemplo de vida, sua linda história de amor superou a barreira da diferença.

Lucivanda Machado Lopes

Samantha Evely
Enviado por Samantha Evely em 22/05/2013
Código do texto: T4303856
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