As pedras que falam.

Conto


Nas margens do rio escondido bem no meio da densa floresta existe um um velhinho de vestes desfeitas como o tempo da sua avançada idade. Com os seus longos cabelos brancos assim como a sua barba espessa quase que esconde os seus belos olhos de cor verdes da cor do musgo.
Apenas os puros de coração o podem ver, conversar com ele e só quando as pedras mágicas o chamam através das suas vozes encantadas.
Um dia uma menina com o nome de Maria se perdeu na floresta, fugindo de sua casa, onde a vida que ela enfrentava era muito dura e repleta de muita dor. Os seus pais eram severos, não sabiam fazer um carinho aos seus filhos e para eles, eles eram um negocio, pois logo eles cresciam e iam trabalhar no pesado.
Maria estava cansada de sua vida, dos maus tratos, da falta de amor que nunca recebia. Levantava ainda o sol não tinha chegado e enfrentava a chuva, o frio, o calor e muita fome para trazer lenha para sua casa para os seus pais a venderem.
A sua casa ia todo o tipo de homens, maus e de olhos gananciosos, despindo-a com os seus desejos nojentos. Sua mãe não tinha qualquer vinculo de amor, qualquer sentimento, ela lucrasse com a venda da filha a venderia a troco de uma moeda de ouro e logo seria menos uma boca reclamar e a cuidar.
Um dia a Maria foi buscar lenha mas sozinha, um homem de maus figados foi atras dela e a estuprou. Deixando-a a sangrar, gemendo de dor, muito revoltada e com desejos de morrer.
A noite ia chegando e ela ia se arrastando movida no ódio, no desespero, chorando e assim ela adormeceu, cansada mesmo, muito cansada.
O dia clareou, Maria acordou com o barulho de água correndo, entre vozes estranhas a chamando:

- Vem até aqui, Maria. Vem, vais te sentir melhor.

Maria estava muito confusa, entre um misto de dor e de espanto ela se levantou e lentamente cambaleando foi até as margens do rio. Olhou ao seu redor e não via ninguém, ficou assustada olhando para a sua imagem na água, seu rosto todo machucado e suas vestes cheias de sangue.
As vezes voltaram ainda mais suaves, dizendo-lhe:

- Anda mergulha na água, não temas somos nós as pedras do rio, vamos te ajudar. Tem calma e faz o que te dizemos.

Maria ainda assustada mas ao mesmo tempo fascinada pelas vozes, nunca ninguém lhe falou nesse tom calmo e meigo. Foi entrando pela água dentro sem medo, afinal ela mesmo desejou morrer.
As pedras voltaram a falar com ela, lhe dizendo:

- Maria não temas o nosso amigo, ele vem para te ajudar é o guardião da floresta e ele aceitou vir e te ajudar.

Nas margens do rio estava um velhinho de vestes velhas com o seu cajado e seu chapéu amarrotado, sempre sorrindo e estendo as suas mãos para a Maria, ajudando-a a sair da água.
Fez-lhe um gesto de silencio e sempre sorrindo a levou através de um caminho estranho, do nada se abriu um caminho com lindos muros cheios de flores e as pedras murmuravam:

- Vai Maria, não tenhas mais medo, vai e sejas muito feliz! 

O velhinho nada falava, nada dizia e logo chegaram uma simpática casinha, cheia de lindas trepadeiras cheias de rosas onde o aroma a fazia sentir já no seu sétimo céu. Divertido o velhinho a observada vendo o seu olhar de pasmo e de prazer ao ver tanta beleza se onde ela morava era tudo negro, cinzento, emboloirado e muito feio. 
Ela olhava para tudo pasmada e feliz era tudo tão claro, tão bonito e ela escutou finalmente a voz do velhinho, dizendo-lhe:

- Maria entra ai tens roupas limpas do teu tamanho e vais tomar um banho e as vestir eu só vou buscar os remédios para ti e volto já.

Aliviada a Maria fez o que lhe mandaram e as dores pareciam sumir a medida que ela tirava as suas vestes, tomou o seu banho e deitou-se cansada na cama confortável e logo ela adormeceu.
O dia findou ela acordou na beira da cama estava o velhinho cuidando dela, com aquele sorriso lindo cheio de encanto.
Maria perguntou-lhe:

- Que horas são? Eu dormi muito mesmo.

Ele respondeu-lhe apenas:

- Era preciso minha amiga, precisavas de descansar e muito, cuidei do teu rosto machucado agora precisamos de cuidar desse teu coração ferido e maltratado.

Ela deixou fugir uma lágrima com medo de parecer mal agradecida, ele a descansou e disse-lhe:

- Podes chorar, chora deita para fora a tua revolta e a tua desilusão, logo tudo será apenas recordações e passado. Eu fazer uma sopinha quente para ti e volto já e estarás melhor quando eu chegar.

Pegou nos seus remédios, olhando para a Maria sorrindo saiu do seu quarto fechando a sua porta para que ela se sentisse confortável e segura.
Maria desatou a chorar com uma dor dilacerante que apertava o seu peito provocando-lhe tanta dor, por momentos pensou nos seus irmãos e sentiu saudades deles. Levantou-se e foi ver-se no espelho, como estava diferente mesmo com o seu rosto muito machucado ela se sentia importante e gente mesmo.
Docemente batem na sua porta e ao abrir a porta o cheirinho de comida deliciosa abriu-lhe até as portas da alma de tanta fome. Pousou o tabuleiro na mesa do quarto e se sentou a esperando para comer, comeram juntos aquela deliciosa sopa, nunca tinha comido algo tão bom na sua vida. 
No final o velhinho a olha e diz-lhe:

- Já estás pronta para nós poder conversar um pouco?

Ela acena que sim e logo o velhinho começa:

- Maria tu não precisas de falar sobre o teu passado, eu sei de tudo nele, das tuas dores, dos maus tratos, da falta de amor e de tudo que qualquer criança merecia ter e nunca teve. Assim tu nada tiveste, apenas resignação dentro do teu coração, passaste maus bocados e muito medo mas tudo suportaste por amor aos teus irmãos.

Maria não conteve de novo as lágrimas chorou, sentindo que estavam tirando todo o sufoco e medo que habitava dentro do seu coraçãozinho. estava sentindo aliviada por saber que não estava mais sozinha.
Ela suavemente pega em seu rosto e olha em para os seus olhos e diz-lhe:

- Maria preciso que me escutes e me ajudes.

Maria sente alegria invadir o seu coração, ela ia poder retribuir todo o amor que recebeu na sua vida.
O Velhinho volta a falar-lhe:

- Maria daqui a uns dias estarás boa para regressar a tua casa, estás livre, podes ir mas se quiseres ficar eu vou ficar feliz, pois estou muito velho, vou morrer em breve e alguém tem que ficar no meu lugar. As pedras do rio são encantadas, elas trazem gente sofrida e perdida na vida, algumas com vontade de morrer e sabes maria isso atenta contra as Leis Divinas, apenas o Criador dá a vida e a pode tirar. 

Se fez um silencio no quarto quase uma meditação, Maria pensou em tudo o assolou na sua mente, no dia anterior, toda a raiva e dor que ela sentiu e a vontade de morrer.
Lendo sua alma o velhinho a acalmou, dizendo:

- Calma, não penses assim, tu estavas a sofrer muito, sozinha, sem colo de ninguém, mas tinhas um grande protetor Deus, foi ele que nos enviou a ti.

Maria sentiu-se tão amada, tão importante que abraçou o velhinho dizendo-lhe algo baixinho:

- Meu amigo não digas mais nada, pois eu não vou partir e vou ficar aqui contigo, farei tudo o que me pedires e tu me ensinarás tudo o que preciso de aprender.

A luz se fez ali, mergulhada no profundo silencio, cheia de sabedoria, escutou-se através do vento as vozes mágicas das pedras cantando felizes e assim se fechou um novo ciclo e novas historias sobre as fantásticas pedras que falam e uma velhinha que ronda as suas margens que só os puros de coração a vê e falam com ela, a nova guardiã da floresta.

Betimartins


A idade da Maria não achei importante colocar a deixo a vossa imaginação, afinal existem tantas Marias vivendo esta historia por ai! Só que o seu final não é magico e e sim muito sofrido.
Betimartins
Enviado por Betimartins em 07/04/2013
Código do texto: T4228624
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