Uma vela chamada Mirela
Mirela era apenas uma vela, como muitas outras. Fina, toda em parafina, de aparência simplória e pouco notada.
Morava dentro de um pequeno maço, na gaveta do fundo do gabinete velho de pia, envolto em mofo, cupins e baratas.
Todos os dias era um martírio para as amigas de Mirela. Todas temiam pelo dia em que a luz acabasse, e uma ou duas delas fossem escolhidas para queimar até se acabar. Seria o fim.
Para Mirela, a situação era um pouco diferente. Ela ansiava pelo dia que fosse escolhida naquele maço esquecido. Desejava e sonhava em brilhar sua luz e de alguma forma ser útil ao mundo, ainda que isso custasse sua existência.
As outras meninas se revoltavam com o posicionamento de Mirela. Seria um absurdo alguém assim querer morrer sem motivo. Talvez para elas fosse mais útil continuar entre as baratas, o mofo e os vazamentos de esgoto do sifão. Mirela queria algo diferente.
Um belo dia, em meio a uma tremenda tempestade a energia elétrica se acabou. O dono da casa abriu a velha gaveta, procurou, procurou e por fim achou o maço de vela. Todas, exceto Mirela choravam de medo, e queriam a todo custo se esconder. Por fim, a escolhida foi Mirela, que ficou radiante, enquanto as demais se despediam, já considerando seu iminente fim.
Mirela foi acessa por um palito de fósforos, o qual sorriu-lhe, pela sensação de dever cumprido.
Durante algumas horas, a singela vela pôde observar sua parafina se desmanchando, enquanto a forte luz sobre sua cabeça tornava a vida daquelas pessoas mais iluminada.
Pouco tempo depois, os últimos fios do cordão se apagou em meio à cera derretida, e Mirela se foi. Enquanto os últimos fachos de luz brilhavam, seu sorriso era percebido à distância, cada vez mais fraco até encerrar-se totalmente.
Às vezes algumas pessoas preferem permanecer em sua zona de conforto, pensando estra trazer-lhe uma imensa sensação de existência. Entretanto, vivem uma sub-vida, a qual não se encerra mas também não tem sentido algum.
Mirela sempre desejou, de alguma forma sair do anonimato e brilhar, ainda que por poucas horas, mesmo que isso custasse sua existência.
Nunca tenha medo de encarar desafios, mesmo que estes abreviem outras cousas, antes que seus olhos se fechem, sem nenhuma história pra contar.