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A CANTADA INFALÍVEL DO ENDRÍAGO (Pequeno conto mitológico)

 
Antes, bem antes daquele tempo em que se amarravam cachorros com linguiça, os deuses, amiúde sob a forma de bestas, davam aos homens a honra e o prazer de conviver meio a eles aqui na velha e boa terra.  Num canto qualquer daqui, existia um reino notável pela beleza e formosura de sua princesa, ninfa afilhada de Diana,que insistia em resistir aos apelos do pai para que se casasse. Por seus caprichos em rejeitar constantemente os galanteios dos pretendentes, Júpiter, do alto do Olimpo resolveu castigá-la. Não haveria mais de humilhar os  homens com o seu egoísmo.
Que Endríago*  cumprisse com a sua predestinada missão.
Eis que numa bela manhã daqueles imemoriais tempos, a bela princezinha banhava-se nas límpidas águas de refrescante fonte em meio a floresta, apreciando, embevecida, suas curvas desejadas.
Não por acaso, ciente  dos hábitos da ninfeta de ir ali se banhar, o envolvente Endríago, após admirar o insinuante quadro, aproximou-se cheio de admiração e mesuras. Ao espanto da moça, recomendou-a não se assustasse; pérfido, disse ser filho de Júpiter, e que  a forma pavorosa lhe fora imposta por castigo de outro deus, até que encontrasse alguém que o amasse verdadeiramente; na realidade, tratava-se de um jovem de inegável e invejável beleza.  A exuberante figura física da moça fascinava-o. Colocando-se na linha de frente para a sucessão, adiantou-se a ela:
--- Creia-me, doce açucena, sou o único dos seus reais pretendentes a possuir a prodigiosa chave encantada. Esteja mais certa ainda, ninfa formosa, de não haver absolutamente objeto carnal tão persuasivo e capaz de penetrar sua fechadura lúbrica e abri-la, tal a que humildemente te ofereço.  Cerrada,  como vives, obstruída, renegas o teu casto interior aos prazeres inimagináveis dos sentidos, às conjunções agradáveis da vida que fariam de ti alguém sumamente alegre, feliz!
Ei-la, concupiscente! Veja como palpita por ti! Venha! Como estás, és porta surda e emperrada; entrega-te, pois, plena, despojada! Assim, far-te-ei, doravante, girar suave sobre os gonzos amorosamente azeitados; abrindo-te, ensejarás conheceres, enlevada, um mundo colorido de sonhos e fantasias, afeito às supremas delícias dos prazeres da carne! Abdica dessa vida desenxabida, chocha, renda-te a mim!”
E a ninfa de corpo sensual e cachos dourados, respingando a límpida e fresca água da fonte, estendeu-lhe a mão, convencida.
Ele a recebeu, vitorioso. Em seu olhar, um brilho de contentamento; em sua boca, um gosto do que estava por vir.

O que se seguiu caberá a Júpiter nos contar.
 
  • *Monstro mitológico devorador de virgens.
moura vieira
Enviado por moura vieira em 01/04/2013
Reeditado em 15/07/2021
Código do texto: T4217784
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