O PESO DA LÁGRIMA
Na minha proposta de controle do peso, para não me tornar obeso como assim é minha tendência genética, procuro em algumas ocasiões com a ajuda do jejum e do exercício reduzir o sobrepeso até os níveis de normalidade.
Foi dessa forma que certo dia, ao subir na balança e verificar que faltava 100 gramas para atingir a redução que eu desejava, resolvi chegar um pouco mais tarde no trabalho e fazer exercícios até queimar essas 100 gramas. Acreditava que 30 minutos de exercício intenso fosse o necessário. Assim o fiz, correndo de forma frenética no mesmo lugar alternado por pulos de saltimbanco. Fui para a balança e notei que estava impassível no mesmo lugar. Bem, pensei, deve faltar um pouquinho de nada. Irei correr mais 30 minutos, aí sim, é certeza atingir o objetivo. Recomecei o exercício, não com tanto vigor do início, já sentia o efeito do cansaço. Mas cumpri os 30 minutos adicionais e subi na balança na certeza de que havia queimado as 100 gramas do peso, talvez mais. Surpresa! A balança acusava o mesmo valor. Fiquei confuso, já perdera uma hora do meu trabalho. Já estava cansado. Mesmo assim a minha determinação em perder essas 100 gramas me fez enfrentar mais meia hora de exercício. Confesso que o exercício não tinha tanto vigor, eu sentia o cansaço forte no corpo, os pés querendo doer, os joelhos querendo dobrar... Mesmo assim fui até o final dos 30 minutos e me dirigi para a balança já um tanto desconfiado. Confirmei o meu medo: a balança não saiu do lugar! Mas eu não poderia sair de casa derrotado dessa forma. Resolvi enfrentar mais meia hora de exercício, de qualquer forma. Sentia que não tinha mais vigor físico para tanto, então resolvi pedir inspiração a Deus. Desta vez comecei o exercício não preocupado com a força física que eu devia empregar para queimar as 100 gramas renitentes, mas sim com a ajuda que o Senhor poderia dar para eu começar e terminar o exercício, já que minhas forças físicas estavam exauridas.
Foi aí que comecei a sentir o inexplicável para minha mente acadêmica, naturalista, positivista. Eu conversava com Deus, pois pedia ajuda a Ele, isso até eu entendo bem devido a minha fé, mas passei a ouvir as respostas de Deus! Isso para mim era alucinação auditiva. Mas eu não ouvia voz, então não podia ser auditiva. Mas de onde vinha a “voz” que eu ouvia? Pois eu entendia o que alguma coisa em mim percebia. Uma mensagem compassiva e compreensiva, que resgatava os momentos mais longínquos da minha vida, quando criança eu balançando na rede de minha casa e via nos céus a imagem de Nossa Senhora se deslocando por entre as nuvens. Nunca disse isso a ninguém, e porque agora essa “voz” me lembrava? E tantas outras coisas boas que aconteceram comigo, ruins que eu fiz aos demais... Percebi um forte descompasso em minha vida, do quanto eu recebera de bom e do pouco que eu retribui. Não pude evitar, e senti duas lágrimas descerem, uma de cada olho... Sem perceber eu aumentara o ritmo de meus exercícios, não sentia dor, não sentia cansaço, os joelhos não dobravam, os pés não se queixavam... Eram como se eu esvoaçasse em cada passo, em cada pulo do exercício... Os 30 minutos passaram tão rápidos! Fui para a balança e dessa vez eu tinha certeza que tinha queimado as 100 gramas. Outra surpresa: eu queimara 2 quilos! Fiquei parado sobre a balança sem ter como acreditar no que estava vendo, ou melhor, como explicar, pois aquilo era um fato.
O que eu senti perder e que me impactou no quando eu senti, foram as duas lágrimas. Então, cada lágrima pesa 1 quilo? Que incoerência era essa? Sei muito bem o valor ponderal de uma lágrima e jamais chega tão perto desse valor. Tem que existir outras explicações. Minha mente, racional e positivista, logo deu suas opções: primeiro a balança havia travado, eu estava perdendo peso desde os primeiros minutos, mas ela não registrava. Somente no último registro, como a diferença era bem maior, conseguiu destravar o mecanismo. Bem, raciocinei, é bem coerente essa explicação, devo ficar com ela. Mas logo surgiu outra opção, e dessa vez não vinha da mente. Parece que algum departamento dentro de mim, que não é subordinado a mente, jogava para minha consciência outra alternativa. Eu sentia como se dialogasse comigo: “Então tu vais logo aceitando o que o tua mente defende? Não sabes o que experimentastes? Já esquecestes? Não pedistes ajuda e não recebestes? Não foi aliviado o seu cansaço, e atenuado as tuas dores? Não te foi mostrado o quanto recebes e o pouco que dás? Não limpastes um pouco da sujeira do teu coração com as lágrimas sinceras que rolaram pelo seu rosto? Acaso pensas que o mal que ainda se abriga em ti não tem nenhum peso? Que tua alma não fica sombria e pesarosa com tanto egoísmo? Pois bem, o Pai é compassivo e tolerante com a ignorância, mas tu já tivestes a experiência, já conheces uma parte da Verdade, já podes ser testemunha!”
Voltei a mim... perplexo! Como pode?!! Quem me fala com tanta autoridade? Quem me conhece há tanto tempo? Quem foi testemunha do que experimentei? Fiz um esforço de racionalidade e consegui chegar a uma conclusão: meu Anjo da Guarda! Só ele me acompanha desde o nascimento, só ele teve condições de me tirar de perigos que até hoje não sei explicar, só ele tem autoridade para me advertir dessa forma.
Agradeci a Deus pelas experiências do dia e segui para o trabalho, atrasado, mas satisfeito. Quando eu contar esta história, como estou contando aqui, as minhas considerações sobre o peso da lágrima serão dúbias: para meus amigos da academia, que não consideram o mundo espiritual, eu direi que uma lágrima pesa 0,03 grama, que corresponde a 0,03 ml de liquido. Para meus amigos que entendem o mundo espiritual, eu direi que uma lágrima pode pesar até 1000 gramas, que corresponde e depende da carga de sujeira que ela tira de dentro dos nossos corações ainda tão sujos de egoísmo.