JARDIM DE SONHOS

JARDIM DE SONHOS

Amanheceu... um sol sorridente e amigo bateu em sua janela, a despertá-lo para a manhã que dava os primeiros passos.

Amanheceu mais um dia... e o senhor de ar juvenil agradeceu aos céus a dádiva da vida, sorvendo febril o sereno matinal. Abriu as janelas do coração e do abafado quarto e mirou seu amado jardim de poucas flores, selecionadas e eleitas ao longo de toda uma existência para viverem no canto mais secreto de seu ser, na ala mais discreta da casa, onde somente êle podia adentrar.

A cada uma delas, diletas flores, dedicara inicialmente tímido interesse, substituido mais tarde por disfarçada paixão e, por fim, avassalador amor que nem mesmo o tempo jamais conseguiu extinguir.

Amou-as todas, cada uma a seu modo, com igual intensidade e ama-as ainda da mesma forma, que seu coração é, qual letra de música, "do tamanho de um trem".

Amanheceu mais um dia e o velho quedou-se em demorado silêncio sobre o parapeito da janela, imóvel como um felino, espécie de retrato gigante de um fotógado lambe-lambe qualquer. Olhava as flores de seu querido jardim recordando a história de cada uma, sua atração, o cortejo e o namoro, o princípio, o meio e o inevitável fim de cada aventura.

Ali estava a "dirce" de seus tempos de menino disputando espaço com a dourada "elizabeth", esguia e singela qual margarida. Mais à frente vicejam as sensuais "sônia" e "kátia", a primeira deixando indelével seu perfume em sua alma. Ao lado vê-se "sandra", exótica rosa africana encorpada e carnuda. No centro "jomara", delicada, com charme sem igual.

Adiante, a pervertida "rosa" com cheiro de sexo em cada centímetro do moreno tronco e, ao fundo, a angelical e alegre "maria das graças", flor graciosa e inesquecível.

Sentida lágrima correu de seus olhos, o passado enevoou-se e, cerrando as pálpebras, o ancião fechou também as janelas de seu jardim de sonhos.

Amanheceu mais um dia... um dia feliz !

Um sol sorridente e amigo bateu em todas as janelas do Mundo.

"NATO" AZEVEDO