BOI JANEIRO

O Coronér, qui era dono di Entrifoia, dono du cér, da terra e di toda boiada inha chegano di leve, arrastano a precata; e lá du arpendre da fazenda, on-ficava sentado dano corda as vista, avista a boiada passiá nu currár, e grita pur “Gerardo boi”... seu impregado di cunfiança:

- Geraardo, ôh “Gerardo”!!!

- Qué qui foi seu Coronér!?

- Gerardo, iô tenho qui í pra Cidade; vê se cuida di tudo pur aqui, mais principarmente du Boi Janêro - Sê sabe Gerardo qu'ele é meu boi pridileto, né!?

- Tá certo sô Coronér, tá ceerto… Pode í sem cisma qui nóis vai cuidá di -tudo!

E o Coronér se vai no trote da besta arriada... - logo in-siguida, entra "Sivirina" cas -mão na iscadêra c'uma barriga di quem tá prestes a pô a cria pra fora - quais parino:

- Geraardo, ôoh homi, venha cá… Mais ieu vô uai!!

- Ôtô cum desejo di cumê lìngua di boi, Gerardo!

- Pó- dexá muié, pó- dexá quiô vô lá nu currár buscá uma língua di boi procê, minha-fia.

Gerardo já vai saino pra cumprir o desejo da muié condo…

- Peraí... peraí, Geraaardo. - É qui num é língua di quarqué boi, não.

- Aah, não?

- Nãão. - É desejo profundo di cumê a língua du “Boi Janêro”,

- Não, num é pussive… O boi prifirido du patrão, não!

- Geraaardo, Geraardo!!! Si ocê num me dé a lingua du “Boi Janêro”, nosso fio vai nascê cum cara di bizerro.

- Aaah não, isso é qui não! - Fio meu num vai nascê cum cara di bizerro, mémo. Vô pegá a língua du Boi janeiro, antão.

Gerardo antão sai e vai inté o currár - mas pra rancar a língua du boi os dois travô numa luita medonha - cumerô nu pescoção; e dispois di argum tempo, Gerardo travô bem travado e cunsiguiu rancar a língua du boi na unha - mais o animár caiu morto - mortin da sirva.

Sivirina aproxima di-mansinho e vê a cena:

- Mais uquê, ocê matô u “Boi Janêro”, Gerardo!?

Nessa hora chega u Coronér, vortano da Cidade na sua potranca.

Gerardo e Sivirina apertados, tenta iscundê, mais u Coronér acaba veno seu animár prifirido caído, e morto.

- Gerardo, Gerardo... Ocê matô meu boi, Gerardo?

- Aaah seu homi... mais agora iô vô é pegá ocê… Vem cá seu Gerardo, vem cá… E munta atrais dele!

Gerardo corre du Coronér e o Coronér corre atrás du Gerardo, inté qui Sivirina entra nu mei-da-confusâo:

- Ispera, Ispéééra sô Coronér!!! Dá uma chanche pru Gerardo, coitado; põe ele nu tronco não!

Ela insiste, insiste, inté qui o Coronér aceita dar uma chanche pr'ele; Sivirina antão cuchicha pra qui Gerardo fala cum Coronér pa -chamá u veterináro Zé chapér, o Dotôre, qui chega logo:

(Ele pergunta e todos respodem)

- U quié isso, é uma girafa?

- Não.

- Antonce é um elefante?

- Não.

- Qui quié antão?

- É um boi.

- I-o-qui acunteceu qu'ele?

- Morreu.

- Antonce já sei o qui fazê! Vô dá uma injeção di fazê boi murrido, vivê. Agora oceis tem qui contá inté deiz, pru bicho vivê, hein?

- Um… Dois… Três… Quatro… cinco… seis… sete… oito… nove…DEIZ…

E o boi balançô, quase levantô e caiu mortinho ôtra veiz.

O Coronér ficô munto brabo e correu atráis du Dotô Zé Chapéu e dispois, correu atráis du Gerardo ôtra veiz, e ôtra veiz Sivirina intrô nu mei -da -cunfusão:

- Da mais uma chanche pru Gerardo seu Curonér… Só mais uma!

- Tá bão, tá bão… Mais é só mais uma chanche, hein!

Sivirina cuchicha na orêia du Gerardo e ês grita:

- Margarida di Colocóóó…

Chega Margarida di Colocó, uma curandêra munto poderosa nas réza, dava sorte mémo, era capaiz di fazê inté bicho murrido vivê, pidí água:

- U qui acunteceu qu'êsse boizin? - Aaah, prici -falá não, já sei! Rancaru a linguinha dele.

Dê cá essa língua. Vô colocá na buquinha du bicho di vorta, e ocêis junto cumigo vão dá trêis ispirro forte…

- Atchim… Atchim… Atchim…

Todos gritô abismado:

- E o boi janêro viveu, muntos ano, inté morrê di verldade!!!

O povão ao som do pandêro di ASSEF e da rebeca du Neném Carulina afundaro madrugada adentro arrastano a chinela atráis di

Maria colocó dançano in -roda e cantano:

...Vem meu “boi janêro” Vem dançá agora,

Já deu meia noite e Já rompeu a aurora…

e o pau quebrô madrugrada adentro inté o sór raiá.

(texto adaptado)

Recordação de uma festa folclórica que acontecia a cerca de 40 anos na cidade de Entre Folhas/MG...acontecia, não acontece mais.

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 26/02/2013
Reeditado em 01/11/2014
Código do texto: T4160792
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