A DESILUSÃO DE RAPUNZEL

Era uma vez uma princesa que morava num castelo muito distante e abandonado, no bosque encantado das Quimeras Mil. Seu nome era Rapunzel e ela vivia trancafiada na torre do castelo por sua madrasta má que a odiava e tinha muito ciúme dela, por ser a mais bela e cobiçada moça do reino.

Rapunzel tinha dezenove anos e era uma menina muito meiga e graciosa, porém triste e solitária. Cultivava longas tranças ruivas bem tratadas e penteadas que combinavam perfeitamente com as sardas de seu rosto angelical. Todas as noites antes de dormir Rapunzel fazia uma prece pedindo aos Céus que mandassem aquele que a salvaria para sempre das garras da madrasta cruel e malvada. Às tardes Rapunzel debruçava-se à janela e escovava com sofrido vigor suas longas tranças.

Seu drama era conhecido em todo o reino e vários candidatos já haviam tentado salvá-la, mas esbarravam nos feitiços preparados pela terrível madrasta. Porém, certo dia, um príncipe de um reino vizinho que por acaso ali se encontrava, soube do martírio da princesa e sem pensar duas vezes decidiu que a teria para si, já que precisava de uma esposa para dar continuidade ao reinado de seu pai, o rei da Sapolândia.

Assim, o príncipe se interessou profundamente pela triste sina da moça e prometeu a si mesmo que a salvaria custasse o que custasse e então se debruçou na arquitetura de um plano infalível para livrá-la de seu tormento. Depois de inúmeras hipóteses e considerações, decidiu que a melhor solução seria levar furtivamente durante a madrugada, quando todos estivessem dormindo, uma escada enorme que alcançasse o topo do castelo.

Na noite seguinte, enquanto Rapunzel cumpria religiosamente o ritual da prece, sentiu um baque nas costas e caiu desnorteada. Permaneceu inconsciente por alguns segundos e percebeu ao seu lado uma pedra com um bilhete amarrado, preso por um fio dourado. Leu a mensagem que dizia: “Venha até a janela que seu pedido, finalmente se concretizou. Estou aqui embaixo para salvá-la, mas não faça barulho. Um beijo, do seu salvador”. A moça ficou radiante e seu coração palpitou descompassadamente dentro do peito juvenil.

Rapunzel correu até a janela ainda em estado de choque e divisou em meio a neblina um vulto escuro que tentava subir por uma escada enorme estrategicamente apoiada na torre do castelo, mas ao terceiro degrau a escada espatifou-se e o moço caiu estatelado no chão. A princesa gritou, tentando não elevar muito a voz, que jogaria suas longas madeixas e que subindo por elas chegaria mais rapidamente ao topo. Ele prontamente acatou a sugestão e a salvou, beijando-lhe avidamente as faces rosadas.

Muito contente e satisfeito com o sucesso de seu plano o príncipe a levou para o seu reino e eles se casaram um dia depois para que a madrasta má não a encontrasse. A princesa sentia-se no paraíso e ficou muito deslumbrada, já que finalmente teria a vida que merecia e pedira aos Céus em suas longas noites de vigília. Mas, após a lua-de-mel, o príncipe anunciou-lhe que as coisas no reino já não eram mais como antigamente e ele teria de fazer algumas mudanças a fim de cortar despesas e gastos desnecessários.

Diante disso, despediu todos os serviçais do reino e comunicou a princesa de que daquele momento em diante ela passaria a cuidar do castelo pessoalmente, ou seja, ficaria responsável por todos os serviços domésticos. Isso significava que teria de cozinhar, lavar, limpar, cuidar do cachorro e à noite ainda estar disponível para o serviço de cama, enquanto ele passava o dia fora buscando soluções para a ruína em que o reino se encontrava, já que estava nas mãos de agiotas e poderia ir a leilão a qualquer momento.

A princesa se desesperou quando recebeu dele as péssimas notícias e entrou em colapso nervoso, permanecendo por duas semanas em crise até que completamente desvairada, um dia, abandonou tudo, fugiu de volta para a torre que a prendia e cortou os cabelos furiosamente, aprendendo que às vezes as aparências enganam.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 21/02/2013
Reeditado em 13/03/2020
Código do texto: T4152384
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