A cortezã Virgwm - Cap XVII

A COREZÃ VIRGEM – Cap. XVII

Mas eu não acho que isso seja motivo para você se agastar tanto! Convide-o para um jantar, e conte-lhe tudo o que está se passando com você, principalmente que você o ama! Ele precisa saber principalmente por que você está aqui. Como teve que aceitar esta herança. Tudo, tudo, para não deixar duvida. Se assim ele não acreditar, é por que não a ama. É como já disse, e repito: “Quem ama confia”!

- Tenho medo Jaade, de sofrer mais uma decepção. Não suportaria a dúvida, e muito menos a aceitação por dó, ou por qualquer que fosse a não ser a verdade! Por acreditar realmente.

- Eu a proíbo de falar com ele a este respeito!

- Então como ficamos, posso convidá-lo?

- Não. Não agora. Preciso de tempo!

- Tempo? Será que ele terá este tempo disponível para lhe dar?

- Não sei, mas tem que ser assim. Por favor, amanhã mande chamar o Rogério, preciso falar-lhe!

- Não Jessika, você não fará isso! - E por que não? Ele não é o meu médico, e meu amigo?

- Sim, mas não um consultor espiritual! E depois Jessika, você ainda não sabe, nem procurou saber do seu sentimento!

- Sentimento?! De que sentimento você está falando Jaade?

- Do sentimento de Rogério para com você! Bem sei que você não o ama. Não nutre por ele nenhum sentimento, a não ser esta amizade e gratidão. Mas quanto ao dele?

- Minha querida, você mistura as coisas, não acredito que o Rogério pense em mim, a não ser como uma amiga e paciente.

- Você tem certeza?

- Claro que tenho!

- Pobre amiga, como é crédula!

- Crédula! E você Jaade, o que sente por ele? Não estaria você apaixonada pelo Rogerio?

- Sabendo do amor que ele sentia pela Joice, eu poderia esperar o que?... É ainda muito recente a sua perda!

Então por que você acha que ele nutre algum sentimento de amor por mim?

É diferente, Jessika. Vocês viveram muito tempo com ela. Sofreram a mesma perda juntos. Amaram a mesma pessoa; com a mesma intensidade. É natural que alguma coisa aconteça.

- Não se iluda minha cara amiga. Se houve algum pensamento dele neste sentido, tenho certeza de que irá entender que não o amo, e acredite ainda, que ele já percebeu que eu amo o Alvaro!

- Rogerio é muito perspicaz!

- Não sei, mas pareceu que ele não gostou muito do Alvaro. Pareceu-me surpreso!

- É eu também notei certa instabilidade nele. Mas não foi só ele, como também todos os que estavam aqui!

- Acolher um desconhecido como eu acolhi o Alvaro! - Bem, mas isso não importa a ninguém, como recebo os conhecidos e desconhecidos!

- E agora, o que pretende fazer?

- Não sei. Quero dormir esta noite como um anjo. Amanhã pensaremos juntas; o que fazer! Você me ajuda?

- Com certeza!...

- Não, Jaade, eu dispenso a sua ajuda!

- Por que isso agora?

- Por que já sei que você vai dizer!

Repetiram juntas em coro: “Manda chamar o Alvaro”!

- Não, eu não ia falar isso! Ia dizer: desista dele por que eu estou apaixonada por ele!

- Olha não me provoca!...

As duas moças se abraçaram e ficaram por algum tempo sem falar!

- Jaade, o que será que ele está pensando de mim neste momento?

- Talvez investigando com Rogerio ao seu respeito.

- E eu nem sei o que Rogerio está pensando de mim nesta altura!

- O mesmo que eu estou pensando agora!

- Então sua sabichona; diga! Você sabe tudo!

- Ele está dizendo assim: Deus ajude Jessika, ela merece ser feliz, e este rapaz me parece um excelente candidato para fazê-la feliz! E se ela não der esta oportunidade a ele e a ela mesma, vou dar-lhe umas palmadas!

Não brinque Jaade, eu estou desesperada. Tenho que tomar uma decisão; e você sabe que é muito sério!

- Eu sei, mas não vejo por que tanta aflição!

No dia seguinte, Jessika acordou muito tarde. E nem percebeu que Jaade estava ali recostada nos pés da sua cama, que acordou logo que a viu se mexer.

- Você dormiu aí, Jaade, por que fez isso?

-Você estava agitada quando eu vim lhe trazer um copo de leite. Mas você dormia, não quis acordá-la, e fiquei esperando!

- Esperando? Esperando o que menina?

- Você acordar!

- Bobinha! Eu dormi logo que deitei, nem sonhei!

- Isso é bom, muito bom!

Aquele tom de vós, não agradou Jaade. Estava acontecendo alguma coisa com ela, pensou!

- Eu não vou lhe perguntar se dormiu bem, disse Jessika; por que sei que não dormiu! Mas não é isso que está lhe aborrecendo. O que é Jaade?

- Nada. Realmente eu não dormi bem! É só isso!

- Eu sei que não está falando a verdade, mas se não quiser me dizer, eu respeito!

- Você sabe como eu me sinto. Eu estou perdidamente apaixonada por ele, mas você sabe que é impossível!

- Você apaixonada?! E por que é impossível, minha amiga?

- Rogerio!... Ele está muito vulnerável, querida, é uma temeridade. Não se pode prever a reação dele quando descobrir isso. Mesmo por que ele a acha muito criança, até para estar aqui. Ele comentou comigo um dia deste.

- O que ele disse exatamente?

- Não me lembro bem, mas agora que você está falando, eu lembrei que ele comentou a sua atuação; com simpatia é claro, mas lamentando que trabalhasse aqui, o que concordei com ele, e disse-lhe que ia providenciar alguma coisa para você!

Providenciar alguma coisa para mim? Mas o que exatamente? Mandar-me embora?

- Não Jaade. Havíamos pensado qualquer coisa na fundação; alguma coisa fora daqui!

- Você não me quer perto de você, não e Jessika?

- Que besteira você está dizendo meu amor! Você bem sabe que eu a amo como uma irmã mais nova ! Então por favor, não me mande para longe de você, está bem? Diga que não fará isso!

- Calma, menina, foi apenas pensando em você, é claro!

- Mas eu não quero. Prometa Jessika, prometa!

- Claro meu bem, claro!

- Eu prometo que vou esquecer o Rogério.

- Não é isso que você deve fazer! Você deve tomar cuidado, não ponha tudo a perder. Se você está mesmo apaixonada por ele, ajude-o Procure compreende-lo. Se ele não levar em consideração este amor. Mas creia que ele está muito sensível. Quem sabe ele pode ceder favoravelmente! Apesar, no meu ver, eu também a acho nova para pensar num homem como o Rogerio. Você precisa se apaixonar por um rapaz da sua idade. Com pensamentos de gente da sua idade. Embora você tenha provado que pensa e age como muitos adultos não o fazem.

De repente Jaade ficou pensativa!

- O que foi Jaade?

- Não sei, mas estou com um mau pressentimento!

- Mau pressentimento?!

- Sim, minha amiga, um mau pressentimento de que vai acontecer algo muito grave!

- Meu Deus, de que você está falando? Você sabe de alguma

Coisa?

- Não, eu não sei de nada, é apenas um mau pressentimento, como já disse!

Aquelas palavras da amiga; deixou Jessika apreensiva! Será alguma coisa referente ao Alvaro? Só se for isso! Mas como eu não tenho nenhuma esperança! É até bom, assim resolve esta situação de uma vez por todas. Mesmo por que a minha estada aqui não é para romance, eu tenho uma missão a cumprir!

Naquela noite, Rogério e Alvaro conversaram muito e tudo teria ficado muito bem, se não tivesse alguém que se encarregasse de fazer suas brincadeiras de mau gosto. Brincadeira que compromete!

- Não se impressione com o que Rogerio contar a respeito da Jessika! Mesmo por que ninguém melhor do que ele poderá contar-lhe sobre ela. São amantes á muito tempo. Não é Rogerio? Antes que ele reagisse esta infâmia alguém comentou: “Ë uma bela mulher! Se tornou a bela mulher da Bahia”!

- Se tornou?! Não entendi cavalheiro!

- Herbert, as suas ordens!

Descaradamente, ele se apresentou, de uma vez que nem fora chamado na conversa. E por sinal, Rogério não apreciava a visita dele na casa, mas como não se pode proibir alguém sem que se corra o perigo de algum escândalo!

- Bem se vê cavalheiro que não é daqui. Você conhece pouco, as mulheres da Bahia. Não querendo, menosprezar a beleza de Jessika!

- É realmente uma bela mulher. Também a mais caprichosa de todas, insistiu!

Quando não gosta de alguém, ele pode ter a bolsa mais recheada, que não aceita por sua companhia nem por alguns minutos!

- O senhor a conhece bem, pois não? Perguntou o Alvaro!

- Não. Conheço á pouco tempo. Depois que a nossa Joice se foi!

- Joice? Quem é Joice? Eu já ouvi falar muito neste nome. O que é feito dela?

- Ela faleceu!

Senhor Alvaro; conversávamos sobre um assunto muito importante. Acredito que é muito mais importante de que falarmos sobre algo que não tem nenhuma importância agora!

- Espere Rogerio; parece-me que este cavalheiro tem algo muito interessante para nos contar a respeito da senhorita Jessika, não é mesmo senhor?

Herberte! Penido Herberte!

É verdade! O senhor já havia me dito o seu nome! Mas o que dizia a respeito da senhorita Jessika? Parece-me que tem muito a nos contar!

- Não muito, senhor!...

- Alvaro Val Verde!

- Val Verde de Pernambuco?

- Isso mesmo... Mas o que tiver mesmo a falar sobre a senhorita Jessika me interessa.

- Eu posso falar, disse o outro que estava com o Herberte.

- Ótimo! Por favor, disse Rogerio encarando-o!

- Eu fui seu amante por dois meses!

- Por que a deixou, aborreceu-se?

- Não, ninguém a deixa. Ela não dar este prazer a ninguém... Um belo dia, ela se cansa e diz simplesmente: “Olha aqui meu querido, eu não quero que você apareça nunca mais aqui!”

Sem nenhum pretexto a pessoa que nesta altura está perdidamente apaixonado. E não adianta insistir. Ele pode ter a bolsa mais cheia. Enviar-lhe os mais ricos presentes... Ele não entra mais na sua sala. Volta do portão, com ordens expressas para não mais voltar a aborrecê-la, até entender que não representa mais nada para ela. Logo depois está de amante novo, de preferência desconhecido!

Dr. Rogério pode testemunhar isso. Também por certo foi seu amante, e deve ter tido o mesmo fim!

O senhor está sendo indiscreto, senhor Paulo. Primeiramente, não costumo comentar sobre os meus problemas amorosos, principalmente com pessoas que não são meus amigos. E sobre tudo de pessoas que não tem a verdade como lema de vida. “Mentiroso”! E pessoas assim não são meus amigos.

- Mas nós freqüentamos a mesma casa!

- Freqüentávamos. É isso que o senhor quer dizer! Por que a sua presença naquela casa deixou de ser desejada e aceita!

- Por isso não podemos dizer que somos amigos!

- Naturalmente! É assim que o senhor pensa!

- É exatamente assim que eu penso! E se o senhor nos der licença, estamos tratando de um assunto particular.

Depois que eles se afastaram, Alvaro comentou. “Você não acha que foi muito duro com o rapaz?”

- Não, eu não acho! Pessoas como eles não merecem nem serem ouvidos!

- Então o senhor os conhece!

- Sim, e não tenho nenhuma glória com isso. São pessoas perniciosas! Por isso não acredite em nada o que disseram. Tome cuidado quanto ao julgamento que poderá fazer de alguém quando as informações vierem de gente desta laia!

- O que o senhor quer dizer que nada que disseram é verdade?

- Foi o que disse, e afirmo!

- Mas se ele disse que foi amante da Jessika, não poderia estar mentindo, por que é algo que poderá ser comprovado!

- O que o senhor não está pensando em fazer, não é mesmo?

- E por que não? Afinal é a honra de uma pessoa!

- Mas ela não estará pensando na defesa desta honra, nem gostaria que alguém procurasse defendê-la!

- Mas Dr. Rogerio, ela não é nossa amiga? Mas sua de que minha, é claro, a conheço tão pouco tempo; quanto o senhor...

- Quanto a mim, sou apenas o seu médico!

- Daí, a confusão dos mal informados Então ela não tem amante? Não é como disseram, que os dispensam quando se aborrece deles?

- Eu gostaria que constatasse por si mesmo, procurando-a: “Ouça dela própria o que tem a lhe dizer. Fale do seu medo de se apaixonar, e de serem colocado de lado como os freqüentadores da casa. No caso especial; o senhor Penido Erberte. Quem sabe ela tenha mais cuidado doravante com os seus convidados!”

- E se eu for repudiado por ela, por ter falado sobre isso?

- É um risco que o senhor terá que correr!

Na noite seguinte, Alvaro em companhia de Rogerio foram á festa preparada para um freguês que encomendara vindo do Sul do País; e este quando vinha a Bahia no tempo da Joice, e mesmo antes na casa da Dez, fazia questão que fosse tudo por sua conta. Queria muitos convidados, muita alegria. Dinheiro jorrava a cântaros. Não queria economia!

Havia moças lindas e elegantes, que tornavam a dança; verdadeiro prazer, e não sacrifício penoso como acontece nestas festas, que convidados são apenas instrumentos para encher ambiente, e deixar transparecer uma coisa de rotina!

Jaade se esmerava em amabilidade. Ele não entendia por que! “Pensava: Eu não mereço, mesmo por que tenho o coração dividido em desconfiança pelo o que ouvi, e o medo de ser colocado de lado como todos os outros. Medo de sofrer!”

Por outro lado, o desejo de ser amado por aquela mulher que conseguiu subjugar-me aos seus pés!

Mas aqueles momentos que ela estava proporcionando-lhe, mesmo sendo através da Jaade, que o apresentava as mais importantes personalidades, convidados do Sulista! Evitando, contudo, a presença de pessoas banais! Confesso a você Jaade, disse Alvaro: Eu estava pensando e fazendo pior idéia das reuniões dançantes desta casa!

- Meu Deus, senhor Alvaro! O que o senhor pensava a nosso respeito, e que conceito tinha desta casa?... As piores por certo!...

- Não senhorita Jaade, não é verdade, apesar das informações que tive da dona!

- Informações?!

- Sim senhorita. As piores por sinal; principalmente da...

- Da Jessika?! E por quem poderia saber?

- Por um dos seus freqüentadores, e que disse ter sido seu amante por dois meses, e depois colocado de lado como todos os outros!!

- Como todos os outros?

- O senhor poderia me dizer quem foi este senhor? Sabe o seu nome?

Por certo. Mas não levei muito em conta, mesmo por que o Rogerio aconselhou-me para quando eu quiser uma informação sobre ela, eu o procurasse. Que com certeza seria a melhor fonte!

Eu creio que Rogerio tem razão. E seria melhor até que Jessika não soubesse disso. Teria uma crise por certo.

Crise? Ela costuma ter crise?

- Não da maneira que o senhor imagina. Ela fica muito deprimida, por que não gosta disso aqui: Odeia para ser mais precisa!

- E por que continua, necessita assim de dinheiro?

- Não senhor. Ela é muito rica, não precisa disso para viver, é apenas uma questão de honra!

- Honra?... Custa-me acreditar que alguém possa se sacrificar por questão de honra. E eu não posso atinar que tipo de honra!...

- Por favor, senhor Álvaro

- Senhor Alvaro! Jaade, não me obrigue chamá-la de senhorita como á pouco. Pelo menos você pode ser minha amiga!

- Com prazer, Alvaro: - Olha aí vem a Jessika; por fim conseguiu desvencilhar do seu convidado. Agora ela é toda sua!...

Posso lhe fazer um pedido?

- E deve! Se eu puder ser-lhe útil!

- Não me deixe a sós com ela. Pelo menos por enquanto!

- Por que isso Alvaro? Tenho certeza de que Jessika terá o prazer de fazer-lhe companhia; de uma vez que o seu convidado está se divertindo com outras moças!

- Outras moças?

- Neste instante, Jessika se aproximou e cumprimentou-o muito afável, e se desculpou: “Me desculpe por não ter podido dar-lhe atenção. Estava ocupada com o promotor da festa. Ele faz questão de monopolizar as atenções somente para ele e seus convidados especiais!”

- O que por certo, eu não conto com este privilégio!

- Realmente, ele não o conhece, mas prometo apresentá-lo oportunamente!

- Não é necessário. Eu prefiro ficar também no anonimato.

- Se esconde de alguém, senhor?

- Absolutamente! Apenas gosto de não ser reconhecido quando estou a passeio!

Neste momento Paulo se aproximou, e como de costume; foi indiscreto!

- Então, já se entenderam?

Alvaro se antecipou e disse: - Julgo-me quites de todos os deveres de amizade!

- Não sabia que os senhores se conheciam, e que tinham uma amizade tão grade.

- Desculpe-me vou dançar disse Jessika!

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 07/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4128772
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