Falcão e Minhoca

Falcão vivia no céu e Minhoca na terra. Eles tinham suas desavenças quando se tratava da política. Todavia, os pensamentos do Falcão não agradava a maioria dos bichos, pois lhes eram muito impertinentes. Sem base. Os da Minhoca, bastante paradoxos aos da ave, conquistavam a confiança dos bichos. O fato era, logicamente, que Minhoca era o bicho mais inteligente do planeta que Falcão. Dentro do solo, ela tinha uma biblioteca invejável que muitos bichos sonhavam em ter uma dessas. Entre as nuvens, Falcão se acolhia em um ninho – inacessível a qualquer bicho, exceto as outras espécies de ave – que estava estabelecido em uma montanha mais alta.

Aturdido, Falcão decidira armar um plano diabólico para atacar os bichos: fazer um discurso acerca do cotidiano dos bichos. O discurso foi feito em vídeo e o próprio Falcão o postou no youtube, que era um espaço para vídeos independentes. Rolou um compartilhamento meteórico em toda a selva. Os bichos ficaram indignados e não sabiam se defender.

Coruja conseguia alertar a tempo a Minhoca da ameaça do Falcão. O bichinho mais inteligente estava em casa lendo o livro intitulado 1984 escrito por George Orwell, e a campainha tocou. Foi atender à porta e Coruja estava, apavorada. Consolada pela Minhoca, foi levada à sala de estar e contava doidamente a ela:

Falcão nos atacou! Ele fez um discurso terrível em vídeo! E está no youtube e virou uma polêmica pra todos nós! Ele nos chamou de primitivos por não sabermos distinguir a linguística animal! Ele falou isso? Indagou Minhoca, curiosa. Sim, sugiro que você deva contemplar o vídeo aterrorizador. Recomendou Coruja. Obedecida, Minhoca foi ligar o seu laptop e em seguida, acessava à internet a ponto de entrar no youtube. Ela ficou perplexa depois de ver o vídeo e mal conseguia se pronunciar: Por que ele fez uma dessas coisas? Digamos, não entendemos a intenção dele. Vou solicitar um duelo intelectual com ele. Disse decididamente Minhoca.

A solicitação foi feita em forma de carta. Pombo foi levá-la até o ninho do Falcão. Ao ler a carta, Falcão relutava em aceitar o convite da Minhoca em razão da sua intelectualidade inferior à dela. Pois Falcão havia criticado que a língua animal era muito pobre por ser incapaz de formar palavras e inclusive destacava que a língua dos bichos não era válida para a compreensão plena e ainda citava o exemplo de que um bicho não fazia ideia do que era uma boca.

Três sois depois sem resposta à Minhoca, dessa vez, o mandado jurídico foi enviado ao ninho do Falcão graças ao empenho do Urso do STS – Supremo Tribunal Selvagem. Assustado, praticamente impossível de recusar o convite, Falcão respondia por escrito, marcando o duelo com Minhoca. A resposta dele deixava os bichos vibrados de felicidade, pois sabiam que Minhoca era a grande esperança para silenciar os bicudos dele.

O grande dia chegou. Muitos bichos apareciam pontualmente conforme o horário combinado. O duelo ficava no meio das bananeiras, dois intelectuais se sentavam em folhas grandes improvisadas como cadeiras e Coruja como mediadora, ou seja, presidente do duelo. Milhares de bichos ficavam atentos ansiosamente ao duelo mais importante da história do animal. Antes de começar a guerra intelectual, Coruja saudava aos bichos presentes: Boa tarde, senhores e senhoras. A presença de vocês certamente vai prestigiar nossos intelectuais. Quero que vocês saibam que, neste momento peculiar, sou imparcial, pois vou coordenar o debate. Falcão, está pronto? Minhoca?

Sim! – Falcão e Minhoca emitiam a mesma expressão.

Coruja fez uma pergunta ao Falcão: por que acha a nossa língua pobre?

Aparentemente nervoso, Falcão mal respondia: porque é uma língua precária, digamos, não é similar a demais línguas devido à ausência da estrutura gramatical. Ao meu ver, ou melhor, ao ver da comunidade externa – em referência aos humanos -, é uma língua minoritária que é incapaz de conceituar palavras. Está equivocado! Protestou Minhoca. Vai dizer que a língua indígena não é relevante? Sugiro que você faça uma revisão no seu conhecimento da linguística, pois você é professor de língua animal. As suas teorias não estão claras, digamos, são como pontos escuros, incapazes de ser acessíveis a qualquer bicho e tampouco à comunidade externa, visto que os humanos são sensíveis como os bichos. E você não.

Coruja à Minhoca: por que acha que a língua dos bichos não é minoritária?

É minoritária! – Corrigiu Minhoca. No sentido da linguística, qualquer língua minoritária é valorizada sim, assim como as línguas indígenas. A Libras, a língua dos surdos, é relevante, por exemplo. Portanto a nossa língua possui regras gramaticais sim apesar de estar carece de palavras específicas. O problema que está em nossa direção é Falcão, que não quer ser como nós. Coruja, considere essa minha resposta como réplica final a esse debate. Exijo votação para definir a permanência do Falcão em nossa comunidade. Já que estamos em democracia.

O pedido da Minhoca foi atendido, ou seja, os bichos que estavam presentes apoiavam a ideia do bicho mais inteligente. A votação foi realizada pacificamente. O número de votos contra a permanência do Falcão foi grande. O ameaçador foi condenado e o ninho dele foi desocupado além de ser exonerado da universidade animal. A vitória da Minhoca sobre Falcão virou manchete em todos os veículos. Doze luas depois, os bichos escolhiam Minhoca como Presidente da FA – Federação Animal. Graças à ela, a língua dos bichos foi citada constantemente por países de primeiro mundo.

Diogo Madeira
Enviado por Diogo Madeira em 01/12/2012
Reeditado em 01/12/2012
Código do texto: T4014319
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