O LEÃO E A RAPOSA


Um jovem leão apaixonou-se por uma bela raposa e decidiu que fosse o que fosse, ia casar-se com ela. Não adiantou os rogos da mãe nem os conselhos do pai.– Isso não vai dar certo– disse a mãe. – Onde já viu um leão casar-se com uma raposa?
–Você enlouqueceu. Está violando as leis da natureza -, disse o pai, que tinha experiência e sabedoria de um filósofo.
Mas qual, o jovem leão estava mesmo apaixonado, e fez ouvidos moucos á todas as objeções e conselhos. Enfrentando a oposição da sua própria espécie e a desconfiança de todos os animais da floresta, foi até a toca da raposa para pedir a mão dela em casamento.
O pai da jovem era um velho raposão muito esperto. Desconfiou logo das intenções do leão.  - Você jura que você não está querendo se casar com a minha filha somente para transformá-la num bom jantar? - perguntou ele ao leão.
-Juro - , respondeu o leão. - Eu amo de verdade sua filha.
- Que garantias me dá de que está falando a verdade?- perguntou o raposão.- Pode pedir a garantia que quiser-, disse o leão.
O velho raposo pensou por alguns minutos, coçou a cabeça e por fim disse: - Está bem. Eis então o que eu quero. Mande arrancar todos os seus dentes e as suas garras e traga-as para mim. Se você for capaz de fazer isso, eu deixo você se casar com a minha filha.

Dito e feito. O leão foi a um dentista e com grande sofrimento mandou arrancar todos os dentes e as garras. Banguela, com as patas sangrando, inofensivo, insultado pelos seus companheiros e debochado por todos os animais da floresta, mas com a maior alegria no coração, lá foi ele entregar seus perigosos dentes e suas mortíferas garras ao velho raposão
- Aqui estão os meus dentes e as minhas garras - disse o leão.
O raposão pegou o sangrento pacote, olhou-os com desdém e nojo, e trancou tudo dentro de uma arca, fechando-a depois com um pesado cadeado.
- Está satisfeito agora? Quando será a cerimônia do casamento - perguntou o leão.
- Você nunca se casará com a minha filha -, respondeu o velho raposão.
- Mas como? - choramingou o leão. - Não fiz o que o senhor pediu? - Sou agora um leão inofensivo e desdentado -, disse ele, mostrando a boca murcha e a patas mutiladas. - Já não posso mais caçar, não sou mais capaz de machucar ninguém-, reclamou ele.
-  E fiz tudo isso por amor à sua filha-, completou ele, quase chorando.
- Azar seu - disse o velho raposão. - Agora você é só um leão banguela e sem garras. Não pode nem mais caçar. Como vai sustentar uma família? Como vai defendê-la dos perigos da selva, se nem mais garras tem? Um leão sem dentes e sem garras não é mais um leão. Você agora é uma aberração. Nessas condições, tornou-se um sujeito sem identidade própria, e alguém assim não pode ser um bom marido para ninguém. Vá embora e não me aborreça mais - sentenciou o raposão.

- Isso é uma tremenda injustiça- tentou rebater o leão. - Eu fiz o que fiz por amor. -Não dizem que tudo o que se faz por amor é certo?  
- Esse é problema -, disse o velho e astuto raposo. - Você é filho de um rei. Deveria ter sabedoria. Deveria saber que o verdadeiro Amor não pede a ninguém que renuncie a si mesmo por causa dele. O amor é um elemento que integra, mas nunca desintegra. Ele sabe somar, dividir e multiplicar, mas não aprendeu a diminuir. O Amor poderia fazer um leão mais uma raposa, mas do jeito que você está agora vocês seriam uma raposa menos um leão. Não é de casais assim que a natureza precisa. A natureza quer reprodutores sadios que produzam crias fortes e sempre melhores que as anteriores, somando as qualidades de um com as qualidades do outro.
E assim o leão se foi, triste, cabisbaixo e derrotado.

Moral da história: nunca renuncie à sua natureza. Nem por amor. O Amor é um contador que não aprendeu a fazer conta de menos. Se Deus fez você assim é por que é assim que Ele precisa que você seja.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 27/11/2012
Reeditado em 27/11/2012
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