Uma pelada no céu
Frestas existem em todas as vidas, passagens surpresas, às vezes inesperadas, que levam do pranto ao sorriso, por vezes são evitadas, são espiadas e, tantas vezes, buscadas.
Meninos chutam bolas, que frequentemente passam por frestas e alcançam o imponderável; e não foi diferente naquela oportunidade, a redonda tendo sido chutada com mais força ganhou passagem e , em uníssono, um “pega” ouviu-se, todos correram na mesma direção e surpreenderam-se em um campo novo, já com uma torcida querendo gritar um gol.
Tudo se fez passado, apenas se queria jogar futebol, e como se jogava, hávia pelezinhos e maradoninhas em profusão, mas havia também um dos goleiros que fitava um anjo da platéia, como deveria fitar o centroavante adversário que fintava seu marcador. A cada jogada tramada montavam-se constelações no céu, até da terra namorados que olham estrelas assistiam também à partida, e poetas esperavam que os astros forrassem o chão, para que virassem poesia e daí uma canção.
Algum santo se exaltou e deixou vazar suas emoções, pois para cada gol marcado, independente do time que marcava, um trovão pipocava lá em cima.
Terminada a partida, todos saíram para o “vestiário”, em direção oposta a aquela em que chegaram e viram um chão de gramado ralo, sem que o goleiro tivesse sua fã em particular e sem comemorações a cada gol marcado.
Até hoje nenhum deles sabe explicar quais as diferenças entre o céu e a terra, mas são unânimes quando afirmam que chutam incontáveis vezes a bola, buscando novamente encontrar aquela fresta, que alguns chamam de felicidade